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Educação social: veja como essa empresa está ajudando gaúchos a reconstruírem o próprio negócio

A empresa criada pelo gaúcho Vinícius Mendes Lima atua em todo o país, mas agora está voltada para ajudar moradores atingidos pelas enchentes

Vinícius Mendes Lima, fundador do Grupo Besouro: “Ao capacitar pequenos empreendedores, a organização ajuda a revitalizar a economia local, gerando empregos e melhorando a qualidade de vida nas comunidades afetadas” (Grupo Besouro /Divulgação)

Vinícius Mendes Lima, fundador do Grupo Besouro: “Ao capacitar pequenos empreendedores, a organização ajuda a revitalizar a economia local, gerando empregos e melhorando a qualidade de vida nas comunidades afetadas” (Grupo Besouro /Divulgação)

Publicado em 9 de agosto de 2024 às 11h27.

Última atualização em 9 de agosto de 2024 às 14h03.

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Empreender acaba sendo a principal saída profissional para pessoas em situação de vulnerabilidade. Segundo um estudo divulgado em 2023 pelo Instituto Locomotiva, 50% dos moradores de favela empreendem, o que somam 5,2 milhões de empreendedores – e destes apenas 37% tem CNPJ. Foi para mudar a realidade de pessoas carentes que o gaúcho Vinícius Mendes Lima criou em 2014 o Grupo Besouro, empresa que ensina pessoas comuns a criar o seu próprio negócio.

A empresa atua hoje em todo o Brasil, mas com as recentes enchentes no Rio Grande do Sul, o Grupo intensificou suas ações no estado atendendo empreendedores afetados pelas enchentes. "Sempre atuamos no Rio Grande do Sul, mas agora estamos dando um olhar diferente devido à situação atual," afirma Vinícius. “Não estamos focando apenas em pessoas que vivem em comunidades, mas sim todas que foram de alguma forma atingidas pelas enchentes”.

O trabalho do Grupo Besouro busca ajudar na recuperação econômica do Rio Grande do Sul. “Ao capacitar pequenos empreendedores, a organização ajuda a revitalizar a economia local, gerando empregos e melhorando a qualidade de vida nas comunidades afetadas”, afirma Lima.

É o caso da Carolina da Silva Alvarez, que mora em Porto Alegre. Ela fez o curso de empreendedorismo da Besouro durante a pandemia e iniciou um ateliê onde vende roupas, canecas, chinelos, papelaria e outros produtos personalizados. Seu negócio e sua casa foram muito atingidos pela enchente deste ano. “Passei pela enchente em novembro do ano passado e em maio deste ano, mas dessa última foi muito pior, tanto que tive que sair de casa, porque a água só subia. Depois veio a preocupação com as contas e como eu e meu marido íamos alimentar nossos filhos. Perdi muito insumo de trabalho, como notebooks, impressora, materiais e até bancada”, afirma Alvarez que hoje também é consultora da agência Besouro.

Alexandra de Sá, moradora da cidade Sapucaia do Sul, criou a sua confeitaria em 2019 que acabou sendo impactada financeiramente pelas enchentes. “O curso me tirou da zona de conforto. Queria fazer mudanças, mas tinha medo de abrir a empresa, mas fui com frio na barriga mesmo assim. Agora não sou mais amadora, estou na vitrine”, diz a empresária que não conseguiu faturar nos meses de maio e junho. “Em maio, o que me salvou foi que eu fiz voluntariado e um empresário de São Paulo fez uma compra que me ajudou. Espero ter mais pedidos nos próximos meses para colocar em prática o que aprendi no curso”.

De maio até o momento, Lima afirma que o Grupo Besouro levou educação para cerca de mil empreendedores no Rio Grande do Sul.

Alexandra de Sá, moradora da cidade Sapucaia do Sul, RS, que teve a confeitaria impactada pelas enchentes. (Grupo Besouro/Divulgação)

Como tudo começou

Nascido e criado no bairro periférico de Vila Nova, em Porto Alegre, Lima começou a empreender aos 12 anos, vendendo crepes para evitar pedir dinheiro aos pais.

"Transformei esse negócio em pequenas unidades na frente de escolas e depois dentro de escolas particulares," conta. Essa experiência inicial levou à criação da primeira empresa, a Shock Produtora, uma produtora de formaturas que se tornou uma das principais do Brasil.

A mudança de rumo veio quando Lima se mudou para o Rio de Janeiro e começou a se envolver com projetos sociais. Em parceria com a MGN Consultoria e o Unibanco, participou do programa "Estudar Vale a Pena," focado em jovens de escolas públicas. "Foi aí que comecei a conduzir jovens a empreender, o que me levou a criar uma metodologia para ensinar jovens em situação de vulnerabilidade social a abrir pequenos negócios," diz Vinícius.

Em 2014, após concluir seu mestrado em Administração e Marketing, Lima fundou o Grupo Besouro de Fomento Social. A metodologia desenvolvida por ele, chamada "By Necessity," tem como objetivo ensinar pessoas em situação de vulnerabilidade a empreender de forma sustentável. "Hoje, mais de 150 mil brasileiros já passaram por essa metodologia," afirma Vinícius.

Como funciona a formação?

A formação empreendedora é gratuita e ocorre por meio de parcerias com governos, instituições, como a Fórum Mulher Empreendedora Gaúcha (FMEG), e grandes empresas, como a Gerdau e a Bat Brasil. Os alunos saem com um plano de ação pronto para abrir o negócio, e recebem monitoria nos três primeiros meses sobre como divulgar a marca, como funciona um fluxo de caixa e como contratar um funcionário, por exemplo.

Só em São Paulo, em 2023, o Grupo Besouro capacitou 8.345 jovens, de 139 bairros em 341 turmas, no “Meu Trampo”, projeto para a Prefeitura de São Paulo.

A resiliência em empreender

O maior desafio para o Grupo Besouro nesses 10 anos de atuação não é o público que atende, mas sim convencer o poder público e a iniciativa privada de que essas pessoas têm potencial, afirma Lima. "A parte mais difícil é convencer que essas pessoas podem ser grandes empresários," diz ele.

A resiliência é uma característica essencial dos empreendedores por necessidade, tanto que o nome escolhido, ‘Besouro’, trata a resiliência dessa população. “Besouro é um inseto que sobrevive em condições adversas. Nossa hashtag é #voabesouro, porque queremos que essas pessoas não apenas sobrevivam, mas também voem com os seus negócios”.

Negócios em Luta

A série de reportagens Negócios em Luta é uma iniciativa da EXAME para dar visibilidade ao empreendedorismo do Rio Grande do Sul num dos momentos mais desafiadores na história do estado. Cerca de 700 mil micro e pequenas empresas gaúchas foram impactadas pelas enchentes que assolaram o estado no mês de maio.

São negócios de todos os setores que, de um dia para o outro, viram a água das chuvas inundar projetos de uma vida inteira. As cheias atingiram 80% da atividade econômica do estado, de acordo com estimativa da Fiergs, a Federação das Indústrias do Estado do Rio Grande do Sul.

Os textos do Negócios em Luta mostram como os negócios gaúchos foram impactados pela enchente histórica e, mais do que isso, de que forma eles serão uma força vital na reconstrução do Rio Grande do Sul daqui para frente. Tem uma história? Mande para negociosemluta@exame.com.

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