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É possível construir uma vida nova e carreira em Portugal?

Portugal é destino visado pelos brasileiros, que só contam as vantagens de se mudar para o país. Mas será que é fácil se dar bem por lá?

Portugal: “A procura por emprego foi complicada", diz brasileiro que mora no país (SeanPavonePhoto/Thinkstock)

Portugal: “A procura por emprego foi complicada", diz brasileiro que mora no país (SeanPavonePhoto/Thinkstock)

Luísa Granato

Luísa Granato

Publicado em 8 de junho de 2018 às 08h06.

Última atualização em 8 de junho de 2018 às 08h59.

São Paulo - Em tempos de crise econômica e incerteza política, muitos brasileiros têm dado nova atenção aos seus “patrícios”, vendo Portugal como uma alternativa viável para escapar dos problemas do Brasil.

Para Marcio André de Araújo Aleixo, de 36 anos, a violência foi o motivo para deixar seu emprego no Rio de Janeiro e se mudar com a esposa e o filho para a pequena Santa Maria do Bouro em dezembro de 2015, onde possuía uma casa que herdou dos avós portugueses.

Como popular destino turístico da Europa, Portugal se tornou visada pelos brasileiros, que só contam as vantagens de morar no país: a semelhança cultural, boa qualidade de vida, compartilhar a língua e o fácil acesso à cidadania.

Mesmo assim, será que é possível construir uma vida nova em solo lusitano?

Em dois anos no país, Marcio conseguiu. Hoje, ele tem três empregos que conquistou aos poucos, restabelecendo uma rede de clientes que confiaram no seu trabalho como fisioterapeuta. Além de seu consultório próprio, ele faz o tratamentos de atletas de um time de futebol local e de uma grande academia de dança.

Até com um bom planejamento, não foi fácil. Antes de se mudar, ele deixou pronta toda a documentação para conseguir a equivalência do seu diploma de ensino superior. Durante o processo, que durou quase um ano, ele não pode trabalhar.

“A procura por emprego foi complicada, se não tivesse certos conhecimentos, não conseguiria”, diz ele. “Tive que me cadastrar como profissional na associação de saúde do governo e procurar o auxílio do órgão de desemprego para fazer o currículo no estilo europeu. Então, comecei a distribuir currículos, mas consegui apenas algumas entrevistas”.

No final, foi a indicação de uma vizinha que o levou ao primeiro emprego em 2016 como fisioterapeuta do clube de futebol de Vila Verde, o GDRC Lanhas.

Segundo Marcelo Migowski, autor do livro “Destino... Portugal: sonho ou realidade?” (Editora Autografia), a familiaridade com Portugal leva os brasileiros ao falso senso de conforto para fazer a mudança sem se planejar corretamente.

“O principal ponto de planejamento sempre será a documentação. Existem formas de conseguir validar o diploma de ensino superior ou até o básico, assim como conseguir visto de residência e de trabalho”, explica ele.

Sem a devida documentação, pode se tornar impossível para o brasileiro imigrante usufruir dos benefícios do país, como o sistema de saúde e acesso ao mercado de trabalho legal, e corre o risco de deportação e cair em subempregos.

Em seu livro, Migowski oferece dicas para quem quer fazer todo o processo de imigração para morar e trabalhar em Portugal. Ele se baseou em sua experiência orientando brasileiros que passaram pelo processo.

“Por exemplo, existem dois caminhos para reconhecer a formação acadêmica: equivalência e reconhecimento. O primeiro é um processo mais antigo e precisa de quase 100% de semelhança entre os currículos, então é mais difícil. O segundo tem o mesmo efeito jurídico, mas com uma análise mais genérica da competências do profissional”, diz ele.

Concorrência e carreira

Rubens Prata, CEO da STATO, acredita que o mercado de trabalho de Portugal oferece hoje muitas oportunidades de emprego, mas não de carreira.

Segundo ele, pelo crescimento do turismo no país, serviços ligados ao setor começaram a gerar mais empregos.

É o que observou Marcio, que diz que Portugal tem muita disponibilidade de trabalho em cafés, restaurantes, hotéis e fábricas. “Tenho um colega formado em engenharia que trabalha como garçom, porque não conseguiu vaga na área, mesmo com diploma”, fala.

O fisioterapeuta também vê uma desvantagem do brasileiro quando concorre com jovens portugueses, que têm estímulo do governo e preferência para entrar no mercado.

Ao comparar as dificuldades com as vantagens, Marcio não planeja voltar para o Brasil. Ele conseguiu o que desejava para a família: bom custo de vida, uma educação excelente para o filho e um lugar seguro para viver. “Financeiramente, não é melhor, mas a qualidade de vida compensa tudo”.

O CEO da STATO vê certas oportunidades para os brasileiros no país, principalmente para jovens e profissionais com perfil mais empreendedor e com carreiras menos consolidadas.

“O jovem tem uma boa oportunidade para começar a carreira lá, pois Portugal tem feito muitas parcerias educacionais com suas universidades”, diz Prata.

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