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Da Redação
Publicado em 31 de julho de 2013 às 15h00.
São Paulo - No dia 19 de outubro, a Sanofi-Aventis, fabricante francesa de remédios, anunciou um investimento de 45 milhões de dólares para construir uma fábrica de anticoncepcionais genéricos em Brasília. No mesmo dia 19, em Vila Velha, Espírito Santo, a Prysmian, fabricante italiana de cabos, anunciava outro investimento, de 110 milhões de dólares, para instalar uma linha de produção de tubos flexíveis para extração de petróleo, que deve empregar 200 pessoas.
Os dois investimentos revelam empresas de setores totalmente distintos, prevendo uma ampliação de seus negócios no Brasil na próxima década — e gerando empregos. O plano da Prysmian é fácil de entender: a empresa, antiga Pirelli Cabos, é uma tradicional fornecedora da Petrobras e está embarcando no boom do pré-sal.
Já a Sanofi-Aventis não tem nada a ver com o pré-sal ou com outros destaques da economia brasileira na próxima década, como o agronegócio, a Copa do Mundo de 2014 e a Olimpíada de 2016. Não tem mesmo? Na verdade, tem sim, porque o negócio de uma fabricante de medicamentos prospera quando a economia cresce, a renda das pessoas aumenta e elas podem cuidar melhor da saúde e, portanto, comprar mais remédios.
E a Sanofi-Aventis acredita que a economia por aqui vai crescer. Tanto que aposta que a filial brasileira vai se tornar a quinta maior entre as mais de 100 da empresa no mundo até 2012. “O Brasil é um país estratégico, com estabilidade econômica, profissionais capacitados e novos consumidores entrando no mercado”, diz Heraldo Marchezini, presidente da Sanofi-Aventis.
Nos últimos meses, as empresas brasileiras viraram a página da crise e, quando passaram a olhar novamente para o futuro, encontraram um cenário otimista. Na sondagem da Confederação Nacional das Indústrias (CNI) de outubro, o índice de confiança dos empresários atingiu seu maior valor desde janeiro de 2005.
Em janeiro deste ano, no auge da turbulência dos mercados, o mesmo índice chegou a seu menor nível desde que começou a ser medido. Empresários otimistas fazem investimentos e contratam pessoas — e é aqui que você entra na história.
Se o crescimento que é previsto para o país se confirmar, milhões de empregos serão criados em todos os níveis e em quase todos os setores. A questão para o profissional será como aproveitar o bom momento da economia para impulsionar também sua carreira.
Segundo economistas ouvidos para esta reportagem, a questão não é mais crescer, mas usar as oportunidades para dar um salto de desenvolvimento. “O Brasil pode crescer muito mais do que a média de 4,5% ao ano, prevista para a próxima década”, diz Octavio de Barros, economista-chefe do Bradesco.“Viveremos nos próximos 10 ou 15 anos um grande ciclo de investimentos em energia e infraestrutura, qualquer que seja o governo de plantão.”
Esse otimismo tem seus símbolos. Um deles é o pré-sal, que pode levar o país a ser um dos grandes produtores de petróleo do mundo e já está atraindo investimentos para o setor de óleo e gás. O desafio para as pessoas de diversas formações será retirar o óleo do fundo do mar e transformar a promessa em realidade.
Mais sólida é a perspectiva de crescimento do agronegócio brasileiro. “Na próxima década, o Brasil vai se consolidar como celeiro do mundo”, diz Anderson Galvão, diretor da consultoria Céleres, de Uberlândia, em Minas Gerais, que calcula o seguinte: nenhum país dispõe de melhor combinação de capital humano, tecnologia e área disponível (sem agredir o meio ambiente) para produzir alimentos para os 6,7 bilhões de habitantes do planeta. “O mundo vai comer melhor e demandar mais produtos agrícolas”, diz.
Há ainda a Copa do Mundo de 2014 e a Olimpíada de 2016, no Rio de Janeiro. Esses megaeventos custam caro, mas ajudam a movimentar a economia. Espera-se que cada um deles acrescente até 10 bilhões de dólares ao ano na economia brasileira até o final da década que vem, num efeito multiplicador, que começa com grandes obras e vai se espalhando pelos mais variados setores.
Sediar os megaeventos traz outros benefícios difíceis de serem medidos. Por exemplo, quando se melhora a infraestrutura de cidades, portos e aeroportos, há impactos na produtividade das pessoas e na eficiência das empresas. Ainda antes de a bola rolar, os eventos já fazem bem para a imagem do país no exterior, atraindo a atenção de investidores estrangeiros.
“A Copa do Mundo e a Olimpíada expressam a confiança que o Brasil conquistou no mundo”, afirma Fernando Alves, presidente da consultoria PricewaterhouseCoopers.
O crescimento econômico reforçará nos próximos anos um movimento que já teve início: o aumento do mercado de consumo, com o ingresso de milhões de pessoas das classes C e D. Juntas, elas reúnem cerca de 137 milhões de brasileiros e superam o poder de compra das classes A e B somadas.
Foi essa massa de consumidores que manteve a economia do país em funcionamento durante a crise. Esse crescimento no mercado interno está ligado ao trabalho: com o emprego formal, as pessoas têm renda fixa e, principalmente, acesso ao crédito. Assim, sentem-se seguras para comprar, alimentando toda a economia, o que resultará em novos empregos e mais renda.
“O mercado de trabalho tem sido o principal vetor de retomada da economia brasileira neste pós-crise. E vai continuar sendo”, avalia Octavio de Barros, do Bradesco.
As competências do futuro
Como aproveitar o cenário para crescer na carreira
O estudo sobre o impacto econômico da Olimpíada encomendado pelo Ministério do Esporte e realizado pela Fundação Instituto de Administração (FIA), de São Paulo, mostra que os jogos movimentam 55 setores diferentes da economia. A maioria das novas vagas, obviamente, será de cargos operacionais e mão de obra para construção civil. Mas todas as áreas vão demandar pessoas qualificadas.
E aí está o desafio: serão esses profissionais os responsáveis por transformar em realidade o que, por enquanto, são excelentes perspectivas. “O cenário é positivo, mas exigirá muita capacidade de profissionais e empresas para fazer com que essas oportunidades virem negócio”, diz Cláudio Garcia, presidente da DBM, consultoria de recolocação de executivos de São Paulo.
Embora seja promissor, o cenário da próxima década para profissionais qualificados é exigente. Esqueça a divisão entre competências técnicas e habilidades comportamentais. Daqui pra frente, esses dois lados serão exigidos ao máximo de todo mundo, sim, mas a exigência do mercado irá além.
Em outubro, em uma pesquisa com CEOs do Brasil e de outros países latino-americanos, feita pela Economist Intelligence Unit, braço de pesquisas da publicação inglesa, o pensamento crítico apareceu como a competência mais importante para os próximos cinco anos para 81% deles.
O que os presidentes estão procurando, aponta a pesquisa, são profissionais capazes de navegar em um ambiente de negócios globalizado e ultraconectado em redes. O cenário de negócios previsto para o Brasil será assim.
“Para obter resultados, o profissional terá de lidar com a complexidade dos negócios, das relações e do mercado”, afirma Cláudio, da DBM. “Os problemas serão inéditos e a pessoa precisa entender o que está ocorrendo para conseguir propor soluções.”
A consultoria Korn/Ferry, especializada no recrutamento de executivos, analisou uma lista de 70 competências e chegou a quatro dimensões que vão caracterizar o profissional de alto desempenho nos próximos anos.
“São as chamadas competências diferenciadoras, que são difíceis de encontrar e difíceis de desenvolver”, diz Rodrigo Araújo, sócio da Korn/Ferry. Elas reúnem as habilidades de lidar com situações complexas, buscar informações em lugares surpreendentes, entender cenários e traduzi-los em oportunidades para a empresa.
Como é possível adquirir essas competências? A sugestão de Rodrigo é: exponha-se a situações críticas, que vão exigir ao máximo de você e lhe renderão aprendizado. “O profissional desenvolve competências críticas quando enfrenta desafios significativos.”
O jogo começou
Copa e olimpíada podem gerar empregos em vários setores
A Copa do Mundo de 2014 e a Olimpíada de 2016 podem injetar entre 80 bilhões de reais e 130 bilhões de reais na economia até 2027. A maior parte desse investimento vai para obras de infraestrutura, como reforma de aeroportos, construção de linhas de metrô e corredores de ônibus — além de estádios, ginásios e outros equipamentos esportivos.
“Os grandes eventos têm o poder de acelerar obras”, diz Edgar Jabbour, sócio da consultoria Deloitte, de São Paulo. Essas obras exigem engenheiros civis, arquitetos e gerentes de projeto. “Profissionais dessa área já estão valorizados”, diz Rodrigo, da Korn/Ferry.
Cada projeto movimenta fornecedores, gerando novos empregos. A alemã Siemens, por exemplo, organizou uma unidade de negócios para vender trens de passageiros. O engenheiro Paulo Alvarenga, de 36 anos, foi nomeado diretor da área em fevereiro deste ano.
“É um momento único no mercado de trens urbanos no Brasil”, diz ele, citando as possíveis construções e ampliações de linhas de metrô e veículos leves em São Paulo, Belo Horizonte, Recife, Fortaleza e Porto Alegre
. Nos grandes projetos, diz Paulo, uma qualidade profissional importante será a capacidade de conduzir trabalhos de longa duração. “É um desafio encontrar gente assim, com habilidade para sustentar relacionamentos com as diferentes partes envolvidas.”
A realização dos megaeventos esportivos exige um esforço de coordenação entre as várias esferas de governo e as empresas encarregadas das obras e da prestação de serviços para as competições. “É necessário organizar investimentos e cumprir cronogramas apertados”, diz Edgar, da Deloitte.
Trata-se de oportunidade para administradores e engenheiros com uma competência clara: capacidade de execução. Outro profissional em alta é o especialista em financiamento de projetos — ou project finance. Obras desse porte são caras e para que se tornem viáveis financeiramente é preciso envolver várias fontes financiadoras: bancos públicos e privados e entidades de fomento.
É um trabalho que exige habilidade para liderar. “O profissional de finanças especializado em project finance será muito demandado”, diz o headhunter Peter Andersen, sócio-diretor da ARC Executive Search, de São Paulo.
Muitos empregos também serão abertos em atividades ligadas diretamente às competições, como hotelaria. Também saem ganhando os negócios de empresas da indústria do esporte. É o caso, por exemplo, da Esporte Interativo, empresa carioca que transmite jogos de campeonatos europeus de futebol, torneios nacionais de basquete e alguns programas jornalísticos.
A grande característica do negócio é ser um fornecedor de conteúdo multiplataforma: a programação combina TV, internet e celular. A empresa, que neste ano deve faturar 40 milhões de reais, tem duas fontes de receita: venda de publicidade e de artigos esportivos. Em 2006, tinha 90 funcionários. Hoje, tem 220.
Nos últimos meses contratou jornalistas, administradores, economistas e publicitários. Quer fechar 2009 com 250 profissionais. O engenheiro Carlos Antunes, de 37 anos, chegou em agosto para dirigir a área de produtos para celular. “O que busco é liberdade para inovar”, diz ele.
As contratações visam ampliar os negócios em celular e a cobertura de esportes olímpicos. Até 2014, ano da Copa, a empresa espera crescer uma média de 45% ao ano e quer estar preparada para aproveitar o boom esportivo. “O esporte estará na agenda de investimentos de muitas companhias, que vão querer associar suas marcas ao futebol e às modalidades olímpicas”, diz o engenheiro carioca Sérgio Lopes, de 38 anos, diretor executivo da Esporte Interativo.
“Imagine o quanto não interessa para uma marca estar dentro do celular de um consumidor ávido por esporte”, afirma Sérgio. Um dos profissionais destacados para comandar o crescimento da empresa é o carioca Fábio Sá, de 26 anos, gerente comercial da Esporte Interativo.
Pelo seu desempenho, Fábio se tornou sócio da empresa e está de mudança para São Paulo, onde já trabalhou. Sua tarefa é colocar a Esporte Interativo na mira dos grandes anunciantes, que já se interessam pelas competições. “É nossa unidade que mais cresce”, diz Fábio, que terá de fortalecer relacionamentos com empresas e agências de publicidade.
Os eventos esportivos também são uma vitrine para o país no exterior. Um estudo do economista Andrew Rose, professor da Universidade da Califórnia em Berkeley, nos Estados Unidos, mostra que países que sediam megaeventos internacionais, ou se candidatam a sediar, têm nos anos subsequentes um aumento de cerca de 30% no comércio internacional.
“É como se os eventos sinalizassem que o país está interessado em fazer negócios”, diz Rose. “Esse efeito beneficia tanto empresas que exportam quanto as que precisam importar.” Em outras palavras: tem oportunidade de carreira para você.
A corrida do pré-sal
Investimentos em petróleo podem criar 500.000 empregos
A corrida para extrair petróleo do pré-sal, no fundo do mar, já começou e promete transformar o setor de óleo e gás no país na próxima década. A previsão da Petrobras é de dobrar a produção diária até 2020, o que elevaria a participação do petróleo no PIB de 10% para 20%. A própria estatal já anunciou investimentos de 174 bilhões de dólares até 2013, sendo 29 bilhões de dólares destinados exclusivamente ao pré-sal.
Até 2013, a Petrobras vai promover a capacitação de 207.000 pessoas em 185 categorias profissionais, que vão trabalhar em suas unidades espalhadas por 13 estados. Mas é fora da estatal que está a maior parte das vagas que, espera-se, serão abertas nos próximos quatro anos.
São 500.000 empregos em todos os elos da cadeia do petróleo. No total, estima-se que o número de empregos no setor saltará de 200.000, hoje, para 700.000 daqui a quatro anos.
Em torno da Petrobras, haverá oportunidades em empresas como Baker Hughes, que fornecerá equipamentos para a extração de petróleo, e até em fornecedores dos fornecedores, como a Markway, que presta serviços de TI para diversas empresas instaladas na Bacia de Campos, no Rio de Janeiro.
“Esse esforço de inovação tecnológica que está começando é histórico”, diz Mauricio Guedes, diretor do Parque Tecnológico da Universidade Federal do Rio de Janeiro. “Essa corrida vai abrir vagas para matemáticos, químicos, biólogos, arquitetos, oceanógrafos e analistas de sistemas.”
Nos próximos três anos, cerca de 2.000 empregos devem ser criados no parque. No campus da Ilha do Fundão, zona norte do Rio, empresas estrangeiras e nacionais estão se instalando de olho no petróleo do pré-sal. Uma delas é a franco-americana Schlumberger, fornecedora de sistemas de geociências para análise de bacias, que está investindo cerca de 50 milhões de reais em seu laboratório, no qual devem trabalhar 350 pessoas. Outros contratos semelhantes já foram firmados com Usiminas, SMC e Baker Hughes.
Na fábrica de tubos flexíveis da Prysmian, em Vila Velha, os profissionais já estão sendo contratados. Além de operários, a empresa deverá buscar profissionais para as áreas de compras, logística, engenharia e RH.
“Essa mão de obra mais específica muitas vezes nós não encontramos na região metropolitana de Vitória, e aí procuramos gente de outros estados”, diz Rubens Antônio Filippetti Vieira, diretor de recursos humanos da Prysmian, que emprega 900 pessoas no Brasil e teve faturamento de 1 bilhão de dólares em 2008.
A escassez de profissionais dessa área também é um problema apontado por Marcos Cunha, diretor de RH da Siemens, que também atua no setor.
“Temos suprido a demanda com engenheiros químicos que fizeram carreira fora da área de petróleo”, diz Marcos, que afirma que nem só as competências técnicas são levadas em conta na contratação de pessoal. “Buscamos profissionais que tenham a iniciativa de se desenvolver por conta própria, sem esperar a ajuda da empresa.”
Vocação de celeiro
O desafio é se tornar o maior produtor agrícola do mundo
O agronegócio brasileiro, que é um dos principais motores da economia brasileira, deve ficar ainda mais fortalecido na década que vem. Estudos da Organização das Nações Unidas (ONU) mostram que a demanda por alimentos no mundo vai aumentar, principalmente em países emergentes, como Índia e China.
O Brasil está muito bem posicionado para atendê-los, fornecendo grãos e carne. Em primeiro lugar, porque é o país com maior área disponível para a expansão da produção — possível de ser feita sem a agredir a floresta amazônica ou o cerrado. Mas, principalmente, por causa da tecnologia e do capital humano que foram desenvolvidos nos últimos anos.
“Esse conhecimento permitirá que as empresas do agronegócio deem novos saltos de produtividade”, diz Anderson Galvão, da consultoria Céleres. Outro destaque é a profissionalização do setor, com o surgimento de grandes empresas nacionais com atuação global, como JBS-Friboi e Brasil Foods, por exemplo. “O Brasil continuará sendo um grande fornecedor de grãos e carne para o mundo”, diz Anderson.
Essa expansão, aliada à necessidade de melhoria de gestão, vai elevar o nível de exigência dos profissionais que atuam no campo. “A figura do caipira é passado”, diz Anderson. “O profissional do campo hoje é um sujeito moderno, ligado em tecnologia e no mercado.”
É o caso do engenheiro agrônomo João Pivetta, de 47 anos, que no final do ano passado assumiu o posto de gerente da unidade de cana de açúcar da Bayer Cropscience, que fornece herbicidas e pesticidas para produtores desse setor. João tem a responsabilidade de aplicar a estratégia da Bayer nesse mercado, um dos que a empresa vê maior potencial de crescimento no Brasil.
Segundo ele, o grande desafio para as pessoas da área é ter uma visão ampla da cultura da cana. “Tenho que entender do mercado futuro em termos de produção, consumo de etanol e políticas do governo”, diz ele. “Esses conhecimentos se somam à experiência técnica que eu adquiri na carreira.”
Profissionais da cidade também devem ter oportunidade no campo. Segundo Anderson, da Céleres, as escolas de agronomia ainda dão uma formação muito técnica aos alunos. Por causa disso, as empresas vão buscar pessoas de outros mercados que entendam de assuntos como gestão de risco, marketing, tecnologia da informação e exportação.
“As empresas agrícolas têm buscado muita gente de fora”, diz Jeffrey Abrahams, headhunter especializado em agronegócio, que aponta outra limitação desse mercado: falar inglês. “Está havendo uma internacionalização, com empresas brasileiras indo para o exterior e investidores estrangeiros chegando. Com isso, o idioma virou uma questão fundamental.”
Essa profissionalização deve chegar às pequenas e médias empresas do agronegócio, o que representará empregos em cargos de gestão. “Isso é uma opção interessante para o profissional que vai trabalhar diretamente com o dono do negócio, com o desafio de fazer a empresa crescer e com a possibilidade de se fixar numa cidade do interior”, diz Jeffrey.
Para qualquer pessoa que deseje trabalhar no campo na próxima década, uma competência fundamental será a visão sustentável. “Ela será avaliada por sua consciência ecológica”, diz Jeffrey, que prevê um rigor ainda maior de consumidores no exterior com os produtos agrícolas brasileiros. “Não vai dar para trabalhar sem entender os impactos socioambientais de cada produto.”
A década dos megabancos
Com o setor consolidado, a competência profissional vai fazer a diferença
Os últimos anos foram de consolidação dos grandes bancos brasileiros. Hoje quatro instituições — Banco do Brasil, Itaú Unibanco, Bradesco e Santander — dominam mais de 80% do mercado. “O período de consolidação já está terminando”, diz Rodolfo Spielmann, sócio da consultoria Bain & Company.
A partir de agora, os bancos devem crescer mais organicamente e investir nas áreas comerciais, para vender mais produtos para a própria base de clientes — e tentar tirar clientes uns dos outros. Para quem trabalha nesse mercado, a pressão por resultados vai aumentar.
Para cumprir metas, será necessário adotar visão mais empreendedora, ainda que num setor muito engessado por processos. “O profissional terá de entender do negócio e, para isso, vai precisar desenvolver habilidades como trabalhar em grupo, acessando, filtrando e distribuindo conhecimento”, afirma o headhunter Peter Andersen, da ARC Executive Search, de São Paulo.
No meio da década que vem, aponta Rodolfo, da Bain & Company, os bancos brasileiros devem buscar uma expansão internacional, o que pode representar um novo caminho de carreira. “Falta experiência internacional aos profissionais do setor”, diz Rodolfo.
Contabilizando as demissões provocadas por fusões e ganhos de eficiência e as contratações para a expansão da rede de agências nos próximos anos, o número de empregos nos grandes bancos pode permanecer nos níveis atuais. “Sou otimista, acho que o saldo de empregos no final da década deve ser até positivo por causa da expansão”, afirma Rodolfo.
No segmento financeiro, a área de seguros é a que oferece maiores perspectivas de crescimento, seja nas seguradoras ligadas aos grandes bancos, seja nas operações independentes. Parte dessa expectativa se explica porque a parcela da população que consome seguros ainda é relativamente baixa.
“O Brasil tem uma população que está crescendo com aumento de renda e isso deve significar mais pessoas consumindo seguros”, diz Acácio Queiroz, presidente da Chubb do Brasil, que tem sede em São Paulo. A Chubb prevê faturar 800 milhões de reais neste ano. Em 2012, a companhia espera chegar à marca de 1 bilhão de reais.
Um mercado que a Chubb pretende explorar nos próximos anos é o de obras de engenharia, algumas diretamente ligadas aos investimentos para a Copa do Mundo e a Olimpíada. “Algumas redes hoteleiras já contratam seguros para a ampliação de seus parques”, diz Anderson Fernandes, de 35 anos, gerente da linha de seguros patrimoniais da Chubb.
Com 19 anos de experiência nesse mercado, Anderson conta que está havendo mudanças no perfil do profissional de seguros, que deve se acentuar nos próximos anos. “Não há mais espaço para o profissional estritamente comercial”, diz ele. “Hoje, toda a venda de seguros exige conhecimento técnico. Os clientes estão mais maduros e é preciso acompanhar essa mudança.”
O futuro sempre pode trazer surpresas e desfazer previsões. A crise do início do ano ainda está bem fresca na memória de todos. Mas uma coisa é certa: a possibilidade de faltar bons profissionais no mercado nos próximos anos tira o sono dos presidentes das empresas.
Muitos temem perder a chance de crescer por um problema de capital humano. Por isso, a questão que se coloca para o país se aplica também a você: o desafio não é crescer, mas como dar um salto na carreira. Há espaço para fazer isso, desenvolvendo tanto seu lado técnico quanto o comportamental. O cenário é otimista. Faça sua parte para transformá-lo em realidade.
*Com reportagem de Gabriel Penna