O economista Raymundo Magliano Neto, diretor da ExpoMoney (Divulgação)
Da Redação
Publicado em 28 de março de 2013 às 19h38.
São Paulo - A crise financeira internacional e a recuperação da economia americana ainda vão durar mais cinco anos. Enquanto isso, quem já tem investimentos na bolsa de valores pode aproveitar a queda do preço dos papéis para comprar ações. Mas quem ainda não investe deve ser mais cauteloso.
Nesta entrevista, o economista Raymundo Magliano Neto, diretor da ExpoMoney, maior evento de educação financeira, explica o que o pequeno investidor deve fazer com seu dinheiro agora.
VOCÊ S/A - A crise tem data para acabar?
Raymundo Magliano Neto - A desvalorização do dólar em relação às outras moedas é o caminho certo para os Estados Unidos conseguirem recuperar as exportações e diminuir o déficit de comércio exterior de bens e serviços. Mas a recuperação da economia americana será um processo longo, que deve demorar até 2016. Essa não é uma nova crise financeira, mas sim o reflexo da instabilidade que começou em 2008.
VOCÊ S/A - É uma boa hora para adquirir ações que estão com preço baixo?
Raymundo Magliano Neto - Para quem ainda não tem investimentos em bolsa de valores, não é hora de comprar ações. O momento é de agitação no mercado e está tudo muito confuso. É melhor deixar a poeira baixar para enxergar com mais clareza o horizonte de investimentos.
Em mais 30 ou 60 dias será possível ter uma definição do caminho que o mercado irá seguir e traçar um plano de investimentos. Evite usar todo o dinheiro para comprar ações de uma única vez. Antes de investir na bolsa, você deve verificar os resultados financeiros da companhia, saber sobre as perspectivas de crescimento e os valores da empresa.
VOCÊ S/A - Quais papéis comprar?
Raymundo Magliano Neto - Nesse momento, é bom investir em ações de companhias de primeira linha, as blue chips, que são mais fáceis de comprar e vender, como Vale, Itaú Unibanco, Bradesco, Banco do Brasil, Petrobras, Cemig, CPFL e Usiminas. Para quem já possui ações, pode ser uma boa oportunidade para comprar mais papéis, seguindo os mesmos parâmetros de quem não investe.
VOCÊ S/A - Quem já perdeu muito dinheiro na bolsa deve fazer o quê?
Raymundo Magliano Neto - Quem acha que já perdeu muito dinheiro deve vender as ações e embolsar a grana. Mas é preciso definir exatamente qual é o seu limite de estresse emocional antes de se desfazer dos papéis. O investidor precisa se enquadrar confortavelmente em um patamar no qual as perdas de curto prazo não consigam afetar emocionalmente seu plano de investimento de longo prazo.
VOCÊ S/A - Com o dólar perdendo força, o euro deve substituí-lo?
Raymundo Magliano Neto - Ainda não há um substituto para o dólar. Em momentos de crise, os investidores correm para aplicar em ouro, em outras moedas ou mesmo nos títulos emitidos pelo Tesouro dos Estados Unidos, apesar do rebaixamento da nota de AAA (nenhum risco de calote) para AA+, feito pela agência de classificação de risco Standard & Poor’s. Quem sabe o substituto seja uma cesta de moedas em que o dólar esteja incluído.
VOCÊ S/A - Com o mundo em crise, a bolsa brasileira não fica mais atraente?
Raymundo Magliano Neto - A resposta seria “sim” se a economia brasileira e a mundial não fossem tão interdependentes. Para as empresas brasileiras, o que ocorre nas companhias americanas, na Europa e na China é de extrema relevância.
Hoje, se o restante do mundo vai mal, o Brasil também irá, mesmo que com menor intensidade pelo nosso grande mercado interno, que estimula o consumo e o crescimento da economia. Tudo na Europa acontece de maneira mais lenta do que nos Estados Unidos, e o processo de recuperação deve levar mais tempo, uns sete anos, dois a mais que nos Estados Unidos.
VOCÊ S/A - Apesar da queda, a bolsa continua sendo uma boa aplicação no longo prazo?
Raymundo Magliano Neto - A bolsa de valores é e sempre será um excelente investimento de longo prazo. As pessoas precisam entender que o investimento em ações é para um período entre 10 e 20 anos, e não pensar em curto prazo.