Carreira

As lições de um empresário que largou a CLT e deve faturar R$ 25 milhões com moda e viagem

André Castro Neves deixou a carreira de engenheiro para apostar em uma marca de camisetas que era distribuída em sacolas. Neste ano, pretende dobrar faturamento com franquias e novos destinos

André Castro Neves, CEO da Pipe Content House: A marca já passou por todos os continentes e temos como meta ultrapassar 60 expedições até 2033 (Pipe Content House/Divulgação)

André Castro Neves, CEO da Pipe Content House: A marca já passou por todos os continentes e temos como meta ultrapassar 60 expedições até 2033 (Pipe Content House/Divulgação)

Publicado em 26 de fevereiro de 2024 às 08h40.

Última atualização em 26 de fevereiro de 2024 às 16h15.

Empreender não fazia parte dos planos de André Castro Neves, engenheiro em mecatrônica, que após 11 anos apostando na carreira corporativa, passando por estágio, trainee e cargos de liderança, viu a virada para o mundo do empreendedorismo acontecer após um curso de especialização em Administração, que abriu seus olhos para oportunidades de negócio. O paulista, que nasceu no interior de São Paulo e hoje vive na capital paulista, achou valor em uma marca chamada “Pipe Content House”, que em 2006 tinha um faturamento de R$ 150 mil por ano e era comercializada por meio de sacolas por uma rede de amigos.

“Vi valor na marca, um propósito claro, e senti vontade de empreender. Em 2010 entrei como investidor e continuei com a minha carreira corporativa. Com o tempo, apesar de estar em ascensão na empresa em que atuava, fui gostando mais do lado do empreendedorismo e decidi entrar de cabeça para a Pipe em 2015”, diz Neves que lembra que largou a CLT e apostou na empresa com o objetivo principal de abrir mais lojas.

Durante muitos anos, Neves afirma que empreender foi inicialmente mais um desafio de “carregar piano” do que lucro, uma vez que tinha mais experiência como executivo e pouco como empreendedor. “Foi muito suor e trabalho para entender como se diferenciar no mercado de moda que inicialmente começou atendendo o público masculino, mas que hoje tem um mix de produtos da cabeça aos pés, abrangendo também o público feminino e até kids.”

O negócio que une moda com viagens

A marca surge com o conceito de desbravar o mundo, trazendo culturas de diferentes países para um vestuário que é confeccionado e vendido no Brasil.

A primeira expedição aconteceu em 2007 e teve como destino Machu Picchu, no Peru. “Na época foi firmada uma parceria com a Mitsubishi e foram duas L200 com um grupo de amigos. De lá par cá foram mais de 30 países visitados”, diz Neves que afirma que a equipe escolhe todo ano um país e faz uma imersão cultural de cerca de 20 dias para pensar na inspiração da nova coleção.

Como muitos brasileiros buscam comprar roupas de marca em outros países, André aposta no conceito da marca para ganhar a clientela nacional. “Tem muita gente que se conecta com a nossa marca que traz o conceito de vida simples, além disso nem todos têm condições de viajar para lugares tão distantes e diferentes e com as nossas roupas conseguimos trazer valores de diferentes culturas para o Brasil, com um preço justo, atendendo a todos os grupos”, diz Neves que realizou a última expedição em Sri Lanka, país asiático que ainda não é um lugar comum para o turismo brasileiro.

A ideia não é trazer moda para o Brasil com o estilo de fora e sim trazer de alguma maneira a cultura de outros países para os vestuários da Pipe.

“Normalmente quem vai é o time criativo que durante alguns dias de imersão avaliam o que foi vivido”, diz Neves. “Na viagem de Sri Lanka, por exemplo, tiveram ali um contato com um ônibus que era um circular e que é usado no dia a dia, esse ônibus pode estampar uma coleção, assim como um elefante que é um animal que chama muito atenção no país.”

“Elementos e traços artísticos daquela região também podem ser utilizados, assim como uma cartela de cores. A ideia é mostrar como uma cultura pode ser contada fora do país”, diz o CEO.

O público-alvo da Pipe, segundo o empresário, normalmente são pessoas entre 35 e 45 anos, da classe A e B. “Pelo histórico de ter nascido como uma marca masculina, homens acabam buscando mais as nossas roupas, que atendem desde momentos casuais até esportes, inclusive lançamos em 2021 a linha fitness.”

A nova coleção, que começou em fevereiro, inclusive traz o jargão “We are the same people”, que traz inspirações das últimas culturas visitadas e um recorte para a diversidade. Já as próximas edições, terão como destino Barcelona e os biomas brasileiros.

“No segundo semestre deste ano teremos Barcelona como tema e teremos o desafio de trazer, para a coleção de verão, uma ótica diferente deste local que muita gente conhece”, diz Neves que aposta na expedição Biomas para o primeiro semestre de 2025. “Biomas será o tema da coleção de inverno do próximo ano. Com um grupo maior, faremos uma expedição no Brasil onde vamos explorar os biomas, sendo o primeiro focado na Mata Atlântica.”

Entre os países que a marca visitou e fez coleção, estão:

  • 2007 – Peru e Bolívia
  • 2008 – Marrocos
  • 2009 – Camboja, Vietnã e Cuba
  • 2010 – Austrália
  • 2011 – Xingu
  • 2012 – Nova Zelândia, Xingu e Haiti
  • 2013 – El Salvador
  • 2014 – Amazônia (Brasil)
  • 2015 – Fernando de Noronha (Brasil)
  • 2016 – Atacama (Chile)
  • 2018 – Itália, Patagônia e Ushuaia
  • 2019 – África do Sul
  • 2021 – Mont Blane
  • 2022 – Sri Lanka
  • 2024 – Barcelona
  • 2025 – Biomas brasileiros

Expansão do negócio

A primeira loja da Pipe Content House foi lançada em 2012 na cidade de Piracicaba, interior de São Paulo. Hoje a marca já soma 57 funcionários distribuídos nas 9 lojas, sendo 8 próprias, que estão no interior de São Paulo, Rio de Janeiro e Paraná. A grande novidade deste ano são as primeiras lojas que chegam na capital paulista.

“Atuamos hoje em todos os canais, tanto lojas quanto e-commerce e neste ano vamos abrir no primeiro trimestre o Lapi, projeto de revitalização do Largo de Pinheiros que passará a gerar uma experiência de compra e lazer envolvendo gastronomia, cultura, moda e arte em um único local, e vamos inaugurar no primeiro semestre uma loja no Shopping Cidade Jardim”, diz Neves que afirma que está em fase de negociação com mais duas lojas próprias, um outlet no entorno de São Paulo e mais uma loja na capital paulista. “A estratégia da marca é chegar ao longo de 2024 nas principais capitais, como São Paulo, Curitiba, Salvador e Brasília”.

Além da presença na grande São Paulo, outro vetor de expansão da marca será por meio de franquias. “O atacado e o e-commerce tem crescido de forma orgânica, mas estamos apostando neste ano em um crescimento por meio de franquias. A expectativa é de termos 10 lojas franqueadas neste ano”.

Diferente de muitos negócios, a marca teve um crescimento exponencial durante a pandemia.

“De 2020 para cá tivemos um crescimento exponencial, foi o ano em que tivemos a maior inclinação da curva, indo contra o mercado por causa da pandemia. O faturamento da empresa foi de R$ 3 milhões em 2020 e deve atingir R$ 25 milhões neste ano, contra R$ 12,5 milhões em 2023.”

A estratégia adotada para se destacar na pandemia foi não parar os negócios e aproveitar as oportunidades. “Tivemos dificuldades na época também, mas conseguimos negociar muito com os parceiros e com isso abrimos novas lojas. E para onde estamos mirando estamos no começo da nossa jornada”, diz Neves que reforça que, apesar ver anos o faturamento dobrar de valor, nos últimos anos, viu 23 e 24 ser o ano de menor crescimento, por ter sido uma época em que focaram mais em ganho de eficiência do que em resultado. “Arrumamos a casa e melhoramos o time de gestão com a chegada de dois novos sócios. A Pipe já passou por todos os continentes e temos como meta ultrapassar 60 expedições até 2033”.

O conselho para quem deseja empreender

Abandonar a carreira de executivo para empreender não é uma decisão fácil, afirma Neves, que reforça que começar algo do zero ou em fase inicial tem muitos riscos envolvidos. Por isso, o CEO destaca alguns pontos para quem deseja se desafiar com o próprio negócio:

  • O que acontece se eu falhar?
  • Quanto tempo consigo ficar sem remuneração?
  • Eu possuo conhecimento suficiente para prosperar?
  • O que almejo com esse passo?
  • Conheço boas pessoas para me auxiliar no processo?
  • Qual é o propósito do meu negócio?

“No fim das contas, a principal pergunta a ser feita é se o meu negócio me fará feliz a longo prazo. Quando olho em retrospectiva percebo que empreender foi muito mais difícil do que eu imaginava, mas aprendi muito e ao longo do processo me encontrei profissionalmente.”

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