Regina Chamma, diretora de Google Play para a América Latina (Luh Aith/Google/Divulgação)
Luísa Granato
Publicado em 9 de março de 2021 às 08h00.
“Quando comecei, minha primeira chefe foi mulher e a vice-presidente também era mulher. Apesar de termos evoluído muito, desde o início tive lideranças femininas e, ao longo da carreira, tive bons mentores e gestores. Não é o mesmo que acontece com outras pessoas, não quero ser ingênua”, relembra Regina Chamma, diretora do Google Play e uma das funcionárias mais antigas do Google no Brasil.
Há quase 14 anos na empresa, a engenheira entrou como especialista em produtos, se tornou diretora na área de vendas e depois assumiu a liderança do Google Play. Por três anos, Regina também foi líder do comitê de mulheres e vê que o cenário para mudou muito dentro e fora da empresa – mas que ainda há muito trabalho pela frente.
No Brasil, o setor de tecnologia da informação e comunicação possui 37% de mulheres em sua mão de obra, de acordo com a Associação Brasileira das Empresas de Tecnologia da Informação e Comunicação (Brasscom). No entanto, apenas 23,9% das mulheres atuam em funções técnicas, uma das portas de entrada mais aquecidas no mercado de trabalho.
Na liderança, elas representam 35,1% do total de cargos no setor. A executiva acredita que exemplos positivos de liderança feminina podem inspirar outras mulheres, assim como o apoio mútuo. Mas o apoio da empresa para estabelecer políticas que incentivem a carreira das mulheres e lideranças que comprem a ideia também fizeram a diferença.
“Houve uma evolução sem precedentes aqui, temos um curso focado em promover liderança feminina e um programa de mentoria, por exemplo. Hoje temos cerca de 27% de todos os cargos de liderança com mulheres, ainda temos muito a percorrer, mas já é um avanço. Sou exemplo disso, lidero uma área importante em termos de receita e negócio - e minhas pares na liderança estão em áreas importantes”, diz.
Ao relembrar sua carreira, a diretora lembra de bons conselhos, histórias e aprendizados. Confira a entrevista completa com Regina Chamma:
Você teve uma promoção quando estava grávida. Como foi a experiência para você? Como foi o período de transição e de licença?
É um desafio sair, mas no Google fiquei tranquila. Eu tinha visto exemplos antes de pessoas promovidas durante a gravidez. São exemplos positivos que deixam a gente mais tranquila, pois você sabe que a empresa vai dar o suporte necessário. Uma prática legal é que, durante a licença, ao invés de uma pessoa ficar com o cargo, a sua função é distribuída em várias pessoas. E isso empodera o time para tomar decisões.
Outra coisa é que eu não tinha essa percepção, mas os primeiros 15 dias de volta eu pude trabalhar meio período. E isso ajuda exatamente na adaptação da volta, quando você ainda amamenta. Depois de seis meses em casa com o bebê, 10 horas fora de casa são difíceis. Com esses 15 dias, foi me adaptando e a empresa também.
Quando fui promovida, recebi vários e-mails e mensagens de mulheres comentando que legal era a empresa por me promover grávida. Dá muito o exemplo.
Quais os maiores desafios ao longo dos anos? O que fez para contorná-los?
Uma coisa que as mulheres fazem menos e foi um aprendizado ao longo da carreira: ter sponsors (do inglês, patrocinadores). Não são mentores ou coaching, que a gente tem em outros momentos, mas pessoas que te ajudam ao longo da carreira, que dá dicas e te dão visibilidade. O homem costuma fazer esse trabalho. Como mulheres, podemos ter uma rede melhor de networking para momentos cruciais da carreira.
Eu tive dois grandes sponsors, um deles me ajudou a me conectar com o Fábio Coelho (atual CEO do Google no Brasil) e me ajudou no momento de fazer a transição para Vendas. No segundo movimento que fiz, indo para a área de parceria do Google Play, uma mulher, que foi para um cargo nos Estados Unidos, me ajudou ao me apresentar para pessoas importantes para a mudança acontecer.
A gente fica um pouco sem graça, acha que está pedindo demais e que vai criar um mal-estar com a pessoa, importunar da maneira errada. Eu percebi que não no primeiro movimento, me deu um clique, e quando fui fazer a segunda mudança me antecipei para falar com as pessoas.
Qual o melhor conselho que já recebeu?
O melhor conselho que já recebi acho que vale ainda mais na pandemia, quando a carga doméstica na mulher foi ainda maior. Eu ouvi isso de uma líder aqui dentro do Google. O conselho que daria para outras mulheres: escolha muito bem seu parceiro ou parceira para ter uma carreira de sucesso.
Essa pessoa vai ser fundamental para a sua carreira, você precisa criar uma parceria com quem decidiu compartilhar a vida. Eu só cheguei aqui por meu parceiro me apoiar muito. A mulher sofre quando chega na liderança, pois suas responsabilidades no trabalho são iguais às dos homens. A responsabilidade da diretoria não muda com o gênero.
A vontade da mulher de ter carreira e crescer na carreira fica mais difícil se tem todo o peso da carga doméstica nas costas. Você vai precisar de uma pessoa que tope dividir tudo na vida, é preciso estar acordado com seu parceiro ou parceira.