Carreira

Diploma x Habilidades: o que realmente importa para o sucesso profissional hoje?

O desafio das universidades em sincronizar educação formal com as demandas do mercado

Diploma x Habilidades (Chad Baker/Jason Reed/Ryan McVay/Thinkstock)

Diploma x Habilidades (Chad Baker/Jason Reed/Ryan McVay/Thinkstock)

Bruno Leonardo
Bruno Leonardo

Vice President of Corporate Education da Exame

Publicado em 18 de abril de 2024 às 10h26.

Em um mundo do trabalho que se transforma rapidamente, onde funções e cargos desaparecem e se reconstroem de formas diferentes, onde novas habilidades são exigidas todos os dias dos profissionais e líderes, um diploma de faculdade ainda significa muito? O que foi aprendido em quatro, cinco ou até seis anos em uma universidade reflete os desafios que serão enfrentados nos próximos 20, 30 ou 40 anos na jornada de trabalho?

Antes que pensem que o meu discurso vai contra o ensino superior, peço calma, esse não é um artigo defendendo o fim das faculdades. Pelo contrário, eu estou sempre do lado da educação, seja ela como for. Aqui, trago apenas algumas reflexões sobre o modelo implementado hoje, especialmente pensando na oportunidade que as universidades têm de se tornarem grandes pontos de partida para desenvolverem a habilidade que realmente faz sentido para o mercado hoje: a capacidade de aprender a aprender, desaprender e reaprender.

 Mas como? Primeiramente, pensando na exponencialidade do impacto das inteligências artificiais e das tecnologias disruptivas no mercado, os profissionais que conseguem executar tarefas que máquinas não conseguem já estão com uma grande vantagem competitiva. Logo, as escolas e universidades que saírem na frente para ensinar aos seus alunos habilidades comportamentais como inteligência emocional, resiliência, empatia, capacidade de aprendizagem e competências de liderança serão certamente mais relevantes para o cenário da educação no Brasil e no mundo. Bem como, trazerem para sua experiência o desenvolvimento da capacidade de resolver problemas e forte pensamento analítico.

 Partindo desse raciocínio, um artigo publicado pela Harvard Business Review reflete como é difícil argumentar que a aquisição de conhecimento historicamente associada a um diploma universitário ainda seja relevante, mas mostra também um impasse já que a democratização do ensino e, consequentemente, a maior facilidade para adquirir esse diploma é também um dos motivos pelos quais “concluir os estudos”, como se diz (equivocadamente) no senso comum, é não só uma regra, como uma exigência para a sociedade hoje. Ou seja, ao passo em que nos questionamos sobre a efetividade do diploma universitário, também percebemos que ele é ainda hoje um pré-requisito para recrutadores e empresas. 

Valor Real x Valor Percebido de um Diploma Universitário

Como líder, posso dizer que é frequente o debate sobre o gap entre o que os profissionais que admitimos em nossas empresas aprendem na faculdade e o que realmente se espera que eles saibam para estarem preparados para o cargo. Este é um tema importante quando observamos o grande – e ainda crescente – número de pessoas que possuem diplomas universitários: acima de 40% dos jovens entre os 25 e os 34 anos (dado referente aos países da OCDE - Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico). Óbvio, cenário global nesta minha análise inicial. Quando olhamos para o Brasil, temos um número bem distinto, em torno de 21% dos jovens com ensino superior. Mas que também apresenta o mesmo desafio sobre o gap com o mercado de trabalho.

Ou seja, enquanto nós, como sociedade, ainda assumimos que o diploma universitário é um indicador definitivo de competência e preparação profissional, sua relevância prática está decrescendo. Embora o valor percebido do diploma permaneça alto devido às expectativas sociais e práticas de recrutamento, seu valor real como indicador de competência diminui. O mercado de trabalho atual valoriza mais a capacidade de adaptação, aprendizado contínuo e aplicação eficaz de conhecimentos do que simplesmente a posse de um diploma.

A correlação entre o nível de educação e o desempenho profissional de um indivíduo é fraca e não sou eu quem afirmo isso. Na verdade, esse fato foi resultado de um estudo feito por 85 anos pelos professores Frank Schmidt (Universidade de Iowa) e John Hunter (Universidade de Michigan), onde eles afirmam que as pontuações de inteligência são um indicador muito melhor para medir o potencial de um profissional. Sendo assim, no contexto de recrutamento e seleção, as notas acadêmicas são indicativas de quanto um candidato estudou, mas seu desempenho em um teste de inteligência reflete sua capacidade real de aprender, raciocinar e pensar logicamente.

E agora? Para onde vamos?

Empresas como Google , Amazon e  Microsoft destacaram a importância da capacidade de aprendizagem e a curiosidade como indicadores-chave do potencial de carreira. Outro relatório feito pelo especialista em RH, Josh Bersin, observou que as empresas hoje são tão propensas a selecionar candidatos pela sua adaptabilidade, adequação à cultura e potencial de crescimento como pelas competências técnicas. O ensino superior pode aumentar (e muito) a sua relevância se passar a incluir nas grades de aprendizagem o desenvolvimento de habilidades críticas e interpessoais, tão fundamentais e diferenciais hoje no mercado de trabalho.

O buraco dessa discussão, no entanto, é definitivamente mais profundo. Precisamos debater sobre novos padrões de ensino no Brasil, além de novas formas de abordagens nos processos seletivos para maior alinhamento de expectativas diante de uma contratação. O ponto aqui é trazer os questionamentos acerca do que se pode melhorar na experiência de aprendizagem no ensino superior, já que ele cumpre papéis certamente fundamentais na formação social dos indivíduos além de ser um pré-requisito para um profissional bem sucedido no Brasil e no mundo, como vimos nos dados apresentados ao longo do texto.

A chave para uma educação que prepare verdadeiramente os profissionais para os desafios futuros pode residir na colaboração mais estreita entre universidades e empresas. Ao unirem forças, essas instituições podem desenvolver currículos que não apenas acompanhem as rápidas mudanças tecnológicas, mas que também estejam alinhados com as necessidades reais do mercado de trabalho. Esta parceria pode facilitar a integração de habilidades práticas e teóricas, tornando a experiência educacional mais dinâmica, relevante e diretamente aplicável aos ambientes profissionais. Ao invés de cada parte operar em silos, a fusão de conhecimento acadêmico com a experiência prática da indústria poderia criar um novo paradigma para a educação do futuro, beneficiando estudantes, profissionais e a sociedade como um todo.

Acompanhe tudo sobre:Recursos humanos (RH)futuro-do-trabalho

Mais de Carreira

10 maneiras de mostrar proatividade em reuniões de trabalho

Cidadania italiana: possível mudança pode encarecer o processo. Devo correr com meu pedido?

4 passos para aprender qualquer coisa, segundo este Nobel de Física

Donald Trump quer deportar imigrantes. Como isso impacta quem já trabalha nos EUA?