As cooperativas fazem parte do sistema financeiro nacional e costumam cobrar taxas de juro de 15% a 20% menores do que a média do mercado para operações iguais (Otavio Silveira / VOCÊ S/A)
Da Redação
Publicado em 13 de junho de 2013 às 17h21.
São Paulo - Quando a crise financeira internacional estourou no fim de 2008 e em pouco tempo bateu à porta do Brasil, tendo como principal consequência a restrição das linhas de crédito, algumas instituições financeiras continuaram emprestando dinheiro com relativa facilidade: as cooperativas de crédito.
Embora sejam restritas a determinados grupos profissionais ou a uma comunidade, as cooperativas fazem parte do sistema financeiro nacional como qualquer banco e também estão submetidas à regulação e supervisão do Banco Central (BC).
No Brasil, elas existem há mais de um século, mas de cinco anos para cá as cooperativas de crédito quase dobraram de tamanho e, segundo dados do BC, no fim do ano passado elas fizeram negócios equivalentes a 2,1% do produto interno bruto (PIB) bancário do país.
As metas das cooperativas são ambiciosas: querem crescer 30% neste ano e pretendem abocanhar uma fatia de 10% do mercado bancário em dez anos.
As principais armas para essa conquista são as taxas de juro mais baixas e o atendimento personalizado. Segundo Luiz Gonzaga, diretor-presidente da Cooperativa Vale do Aço, no interior de Minas Gerais, as taxas dos financiamentos concedidos pelas cooperativas são 15% a 20% menores do que a média do mercado para operações correspondentes.
Mas, como em qualquer transação financeira feita em um banco, essa vantagem pode ser menor ou maior dependendo do relacionamento que o cliente tem com a instituição.
Além desse benefício, a concessão do crédito costuma ser mais rápida e menos burocrática nas cooperativas do que nos bancos comerciais de varejo. Afinal, os cooperados — como são chamados os clientes das cooperativas — são parte de uma comunidade com características parecidas.
Pode ser um grupo específico de profissionais ou a população de uma região geográfica limitada — este último modelo é chamado de livre admissão. A cooperativa é dirigida por membros do mesmo grupo, que conhecem bem a realidade dos cooperados. Já a administração do negócio fica com profissionais do mercado financeiro.
Cooperativas mistas
A Cooperativa Vale do Aço surgiu há 45 anos para atender exclusivamente os funcionários da Usiminas, em Ipatinga, interior de Minas Gerais. Com o passar do tempo associou-se a outra instituição de empresários da região e, hoje, é uma cooperativa de livre admissão, aberta a qualquer pessoa que more nos municípios de Ipatinga, Coronel Fabriciano e Timóteo.
"Os bancos têm tecnologia mais avançada do que nós, mas estamos investindo pesadamente nisso", diz Luiz Gonzaga. A Vale do Aço é associada ao Sistema de Cooperativas de Crédito do Brasil (Sicoob), uma rede eletrônica que existe há 15 anos e reúne mais de 1.000 cooperativas do Sudeste, Centro-Oeste, Norte e Nordeste do país.
Na região Sul prevalece uma segunda rede eletrônica, o Sistema de Crédito Cooperativo (Sicredi). São esses dois sistemas que fazem a troca de informações entre as cooperativas do Brasil, permitindo que os clientes possam circular com cheques e cartões por todo o país.
Em uma viagem, eles podem recorrer às agências de qualquer cooperativa associada como se fosse a sua. O Sicoob também opera com o Banco24Horas, no qual os cooperados podem fazer saques.
Distribuição de lucros
As cooperativas de crédito são comuns em cidades do interior, mas isso pode ser ampliado. No ano passado, o Conselho Monetário Nacional (CMN) liberou a formação de cooperativas de livre admissão em cidades com mais de 2 milhões de habitantes.
Quem estiver interessado em se tornar um cooperado deve saber que sempre há uma taxa de adesão, correspondente a um número de cotas de participação na cooperativa. E, em geral, há uma taxa de manutenção que tende a equiparar-se aos valores dos pacotes de tarifas dos bancos.
Dessa forma, o cooperado é também dono de uma parte da instituição. A vantagem é que, no fim de cada ano, as cooperativas de crédito distribuem os lucros entre os participantes, depois de ter sido subtraída uma parcela de, pelo menos, 10%, destinada ao fundo de reserva.
A distribuição de créditos é diferente da distribuição de dividendos, que é realizada para quem compra ações de uma empresa. Segundo Samuel Flam, diretor da Credicom, cooperativa de crédito de profissionais de nível superior da área de saúde de Minas Gerais, os acionistas de um banco esperam sempre ganho maior. "Já um cooperado, não. O objetivo dele é ter crédito mais fácil e farto, com juros mais baixos. E isso não necessariamente leva a um lucro sempre maior", afirma Samuel.
A desvantagem é que, se a cooperativa falir, a responsabilidade é de todos. Nesse caso, ela apura os prejuízos e cada cooperado tem responsabilidade no valor de até o patrimônio que possui na instituição.
Vale lembrar que os membros têm direito aos recursos do Fundo Garantidor de Crédito (FGC) nos mesmos moldes dos clientes de um banco comercial — de até 60 000 reais por Cadastro de Pessoa Física (CPF).
Uma cooperativa bem administrada tem poucos riscos. A taxa de inadimplência da Credicom, por exemplo, está em apenas 0,3%, ante 4% a 6% de calotes registrados nos maiores bancos comerciais do país.
"Além do conhecimento maior do público e de suas necessidades, a cooperativa adota os mesmo procedimentos de avaliação de risco do restante das instituições financeiras. A administração é profissional", diz Samuel Flam.