Carreira

Empresas ajudam os funcionários a sair do vermelho

Para estimular os funcionários se livrar de endividamentos, Johnson&Johnson, Natura, Azul Linhas Aéreas, TNG e HP estão ampliando seus programas de orientação financeira

Investimento, dinheiro num pote (Getty Images)

Investimento, dinheiro num pote (Getty Images)

DR

Da Redação

Publicado em 18 de julho de 2014 às 19h00.

São Paulo - Quem nunca se viu sem dinheiro no meio do mês, contando os dias no calendário até a próxima data de pagamento? O brasileiro sabe bem o que é isso porque passa por apertos com frequência. Uma pesquisa recente do Ibope revelou que 73% da população fica com a carteira e a conta-corrente vazias antes de o mês acabar.

Sem dinheiro, mostra o estudo, as pessoas recorrem ao cheque especial ou a um empréstimo em banco ou financeira. Qualquer que seja a solução momentânea, a consequência pesa no bolso, pois essas alternativas cobram um juro altíssimo. No caso do cheque especial, os juros podem chegar a 256% ao ano.

Os estragos do endividamento não ficam atrelados apenas ao orçamento, mas atingem também a produtividade. Diversas pesquisas mostram que o funcionário endividado falta mais ao trabalho e atua com menos foco no exercício da função no dia a dia. Para ajudar os empregados a organizar as finanças, as empresas estão ampliando seus programas de educação financeira.

Além das tradicionais palestras, Johnson & Johnson, Natura, Azul Linhas Aéreas, HP e TNG oferecem programas de orientação e planejamento do orçamento e assistência jurídica e psicológica.

Segundo a consultoria Towers Watson, 27% das companhias no Brasil têm algum tipo de programa de assistência ao empregado, com foco em orientação financeira e prevenção ao endividamento. “O número é baixo e tende a crescer”, diz César Lopes, responsável pela área de benefícios da Towers Watson.

Na opinião de Eric David Cohen, professor do curso de gestão de empresas na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), além de ajudar o funcionário a se livrar de uma dívida ou de pagar altas taxas de juro, é fundamental que eles também recebam orientação e aprendam a fazer escolhas diante de uma compra. “Os cursos de educação financeira fazem muita diferença”, afirma Eric.

De acordo com o consultor Fernando Segato Afonso, diretor da Hallx Auditoria e Consultoria, de São Paulo, estudos realizados nos Estados Unidos mostraram que, quanto maior o grau de estudo do empregado, mais ele tem seu trabalho afetado quando passa por problemas financeiros.

“O homem, talvez por ser chefe de família na maioria das vezes, sente mais suas dívidas interferindo em seu desempenho profissional.” Fernando diz que no Brasil os problemas financeiros só ficam atrás de questões familiares quando se trata de atrapalhar o rendimento no trabalho.

“Além de diminuição da concentração, os funcionários precisam se ausentar por longas horas para ir a bancos ou negociar dívidas diretamente com seus credores e chegam até faltar dias inteiros”, diz Fernando.

Desconto no salário

Uma das novidades para ajudar o empregado a colocar as finanças nos eixos é o cartão Pague Certo!, que funciona como um consignado com desconto em folha de pagamento, que permite gastar até 30% do salário do mês seguinte com despesas emergenciais.

Para a coordenadora de crédito e cobrança da TNG, Cristiane Diniz, de 30 anos, essa foi uma opção que, além de ajudá-la a ficar longe dos juros do cartão de crédito e do cheque especial, permitiu que repensasse sua forma de consumo e conseguisse economizar.

O representante de vendas Wagner Marcílio, de São José dos Campos, conseguiu resultados que foram além da organização de suas finanças depois de passar pelo programa de orientação financeira da Johnson&Johnson. “Mudei o jeito de controlar minha grana.” (Ricardo Benichio / VOCÊ S/A)

“Uso o cartão desde agosto de 2013 para despesas em supermercado e posto de combustível e tenho a tranquilidade de que meus gastos não vão extrapolar. Graças a ele, aposentei temporariamente o cartão de crédito e consigo economizar cerca de 500 reais por mês.” Além disso, Cristiane aprendeu a “raciocinar” para fazer compras.

“Antes, comprava no cartão um sapato ou uma bolsa que eu queria. Agora, sei que vale a pena guardar o dinheiro, programar a compra para um futuro próximo e ainda conseguir desconto, pagando à vista”, afirma.

Giovanni Santini, diretor-presidente da Sorovale, empresa que administra o cartão Pague Certo!, revela que 84% dos usuários o utilizam em farmácias, supermercados e postos de gasolina e 55% deles mantêm uso mensal contínuo. “Há 380 empresas no Brasil oferecendo esse benefício aos empregados”, diz Giovanni.

Embora esse tipo de cartão seja visto com bons olhos por empresas e funcionários, a professora Carmem Pires Migueles, da Escola Brasileira de Administração Pública e de Empresas da FGV, defende que a iniciativa deve ajudar os funcionários a sair do endividamento, e não apenas a conviver com ele. “Existe uma propensão brasileira à dependência, e isso deve ser quebrado ensinando os empregados a organizar o dinheiro deles”, diz Carmem.

O benefício educativo-financeiro fez diferença na vida da supervisora administrativa Lina Yoshimatsu, de 35 anos, de Campinas. Lina deixou de pagar juros no cartão de crédito, porque só conseguia pagar a parcela mínima, para assumir a posição de investidora.

Ela é apenas uma das beneficiadas na rede de restaurantes Joe & Leo’s, que começou a oferecer cursos de educação financeira a todos os funcionários para acabar com as demissões que eram pedidas sob a justificativa da necessidade de pegar o dinheiro da rescisão de contrato ou outros benefícios do governo para quitar as dívidas.

“Com os cursos, coloquei no papel tudo o que eu gastava e aprendi a enxergar como o financiamento é caro. Agora não pago mais juros, guardo um pouco de dinheiro na poupança e já tenho um objetivo, que é comprar um imóvel”, diz Lina. “Ah! Também trabalho mais motivada.”

Resultados que foram além da organização de suas finanças foi o que conseguiu o representante de vendas Wagner Marcílio, de 47 anos, de São José dos Campos, por meio do benefício da educação financeira que a Johnson&Johnson oferece dentro do Programa de Assistência ao Empregado.

Além das quatro palestras anuais de orientação financeira e desenvolvimento pessoal, inclui apoio psicológico e de assistência social em situações diversas. “Coloco todos os gastos em uma planilha e comparo com os meses anteriores. Organizei e ampliei meus investimentos, que variam de 10% a 15% do que ganho, e estou replicando o conhecimento com minha mãe, meus filhos e até com meu irmão”, diz Wagner.

Mesmo já tendo alcançado bons resultados, ele participa de todas as palestras com enfoque em dinheiro. Wagner está com mais despesas por causa do filho mais velho, que faz faculdade na capital paulista, mas mesmo assim ele não deixou de economizar e até ampliou a carteira de investimentos, que antes eram limitados apenas à poupança — agora estão incluídos títulos de capitalização e aplicação em renda fixa.

São pequenos hábitos como os adotados por Wagner e Cristiane que melhoram a gestão das finanças pessoais. Como em uma dieta, o começo é chato, mas os benefícios logo aparecem.

Acompanhe tudo sobre:AviaçãoAzulCheque especialcompanhias-aereasDinheiroDívidas pessoaisEdição 193EmpresasEmpresas abertasEmpresas americanasEmpresas brasileirasempresas-de-tecnologiagestao-de-negociosHPindustria-de-cosmeticosIndústrias em geralJohnson & JohnsonNaturaPlanejamentoServiços

Mais de Carreira

Como usar a técnica de Myers-Briggs Type Indicator (MBTI) para melhorar o desempenho profissional

Escala 6x1, 12x36, 4x3: quais são os 10 regimes de trabalho mais comuns no Brasil

Ele trabalha remoto e ganha acima da média nacional: conheça o profissional mais cobiçado do mercado

Não é apenas em TI: falta de talentos qualificados faz salários de até R$ 96 mil ficarem sem dono