Mudança na carreira: o medo de fazer perguntas idiotas pode atrapalhar o profissional (Foto/Thinkstock)
Rodrigo Caetano
Publicado em 10 de junho de 2020 às 20h06.
Última atualização em 10 de junho de 2020 às 20h19.
Nem todo profissional gosta de mudar de área, seja na mesma empresa, seja fora dela, especialmente os mais experientes. Essa habilidade, no entanto, será cada vez mais importante no trabalho do futuro. Para André Cano, vice-presidente do Bradesco, e André Portilho, head da EXAME Academy, a capacidade de desenvolver novas competências e a humildade de reconhecer suas lacunas de conhecimento são fundamentais para uma carreira bem-sucedida.
Os dois executivos participaram de uma live no canal da EXAME Academy, comandada por Sofia Esteves, fundadora e presidente do conselho do Grupo Cia de Talentos. Eles comentaram sobre os desafios enfrentados em suas trajetórias, repletas de mudanças de rumo.
Cano, que já comandou o Banco Postal e a Finasa (atual Bradesco Financiamentos), hoje é responsável por mais de 20 áreas no Bradesco, entre elas as de finanças, gestão de risco, TI, jurídico, RH e segurança. Portilho, por sua vez, passou por diversas funções nos bancos Icatu, Pactual e, posteriormente, BTG Pactual, antes de assumir o projeto de educação da EXAME.
Segundo Portilho, mesmo tendo passado pelo processo de mudança de área diversas vezes, o “frio na barriga” de assumir uma nova função sempre está presente. “Eu chegava em casa com aquela sensação de que não conseguiria resolver um problema”, diz o executivo. “Mas, é isso que te leva a fazer as reflexões necessárias para encontrar uma solução.”
Para Cano, é preciso se manter aberto a novos conhecimentos, incluindo os que não são técnicos. “É importante ler muito e de forma variada”, afirma o vice-presidente. “Não apenas livros profissionais mas também romances, ficção, jornais e revistas.”
Confira seis dicas dos executivos para lidar bem com as mudanças:
Para Portilho, um dos aspectos mais difíceis nas mudanças, especialmente quando se trata de cargos de liderança, é lidar com a perda da senioridade. “É tudo novo, então, mesmo que você seja o mais graduado, provavelmente não será o que tem mais conhecimento sobre aquela área”, afirma. “É preciso aceitar isso de peito aberto.”
Quando um profissional chega a uma área nova, muitas vezes, fica com medo de demonstrar desconhecimento. Mas, isso não ajuda muito. “Tem de ter a coragem de perguntar”, diz Cano. “Pode ser que a sua pergunta ajude as pessoas a enxergar o problema de outra maneira.”
Em cargos de liderança, é provável que o profissional que é designado para uma nova área receba, logo de cara, a missão de resolver um problema antigo. Neste momento, diz Cano, é fundamental saber definir o que é importante e o que não é.
Cano aprendeu isso com um grande professor: Lázaro de Mello Brandão (1926-2019), respeitado ex-presidente do Bradesco, que passou 76 anos no banco. “Não importava o tamanho da crise, a gente olhava para o Brandão e ele estava sereno”, relata o executivo. “Isso nos dava a tranquilidade para trabalhar.”
“Antigamente, a gente nascia, se formava, trabalhava e se aposentava. Hoje, não é mais assim”, diz Portilho. “Muitas das funções, inclusive as intelectuais, serão automatizadas. O profissional que não souber combinar mais de uma habilidade estará sujeito a ser substituído por uma máquina.”
Saber a hora de se acalmar e como não entrar em jogos cooperativos são fundamentais nas mudanças de carreira. Para isso, Cano aconselha a leitura constante, de romances a jornais e revistas. “A cada leitura de um romance, diminuímos nossas imperfeições”, diz ele.