O dia 2 de abril é uma data estabelecida desde 2007 pela ONU como o Dia Mundial da Conscientização sobre o Autismo (Iryna Spodarenko/Getty Images)
Repórter
Publicado em 2 de abril de 2024 às 06h30.
Última atualização em 2 de abril de 2024 às 09h08.
Você sabe o que é neurodiversidade? O termo "neurodiversidade" foi criado em 1998 pela socióloga australiana Judy Singer, que é autista. Singer usou o termo para destacar que as diferenças neurológicas, como autismo, TDAH, dislexia, entre outros, devem ser reconhecidas e respeitadas como qualquer outra variação humana, como as diferenças de gênero, etnia ou cultura, e não como deficiências.
Apesar de diversidade, equidade e inclusão ser um dos temas mais discutidos nas empresas atualmente, a pesquisa "Neurodiversidade no Mercado de Trabalho", realizada pela Consultoria Maya, em parceria com a Universidade Corporativa Korú, e apoio da startup Tismoo.me e do Órbi Conecta, aponta a falta de conhecimento circulante acerca da neurodiversidade:
O estudo considerou uma base de 12 mil estudantes e profissionais ligados à Koru, e está sendo divulgado nesta terça-feira, 2 de abril, data estabelecida desde 2007 pela ONU como o Dia Mundial da Conscientização sobre o Autismo para difundir informações para a população e assim reduzir a discriminação e o preconceito sobre as pessoas afetadas pelo Transtorno do Espectro Autista (TEA).
"Pessoas neurodivergentes podem ter Transtorno de Espectro do Autismo [TEA], Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade [TDAH], Dislexia, Síndrome de Tourette, entre outras condições, e nenhuma delas as impede de exercer atividades profissionais”, diz Francisco Paiva Jr., cofundador e CEO da Tismoo.me, startup de tecnologia em saúde, comprometida em melhorar a qualidade de vida de pessoas autistas e com outras neurodivergências. “Precisamos desmistificar esses termos e normalizar a presença de pessoas atípicas no ambiente de trabalho”.
A pesquisa mostrou que, no ambiente de trabalho:
“O fato de que certas características que encontramos em algumas pessoas surgem em razão de uma questão neurológica atípica não as tornam piores que ninguém e devem ser acolhidas. Precisamos falar mais sobre neurodiversidade em nossas rotinas”, afirma Paola Carvalho, diretora criativa da Consultoria Maya, mãe de um menino autista.
Vale destacar ainda que 40% dos entrevistados acreditam que a criação de programas de sensibilização e treinamentos para colaboradores seria a melhor estratégia para promover a inclusão de pessoas neurodivergentes no local de trabalho. Outras soluções seriam:
A maioria dos entrevistados apontou que a neurodiversidade traz benefícios para o ambiente de trabalho, como promover um espaço com mais criatividade e inovação, fortalecer a cultura de equipe, fomentar um ambiente de aprendizado, aumentar a satisfação e o engajamento dos colaboradores.
O levantamento também identificou que a falta de compreensão de colegas e da liderança foi apontada como um dos principais desafios enfrentados por neurotípicos no ambiente de trabalho (62,9%). Do total, 55% acreditam que é possível combater os estigmas e preconceitos por meio de programas de conscientização e educação e outros 42,9% por meio de política de inclusão e suporte.
Apesar de o autismo ter um número relativamente grande de incidência, foi apenas em 1993 que essa condição de saúde foi adicionada à Classificação Internacional de Doenças da Organização Mundial da Saúde, afirma Paiva Jr.
“A demora na inclusão do autismo neste ranking é reflexo do pouco que se sabe sobre a questão. No Brasil, temos apenas um estudo de prevalência de TEA até hoje, um estudo-piloto, de 2011, em Atibaia (SP), de 1 autista para cada 367 habitantes, liderado pelo médico pesquisador Marcos Mercadante”, diz. “A pesquisa foi feita apenas em um bairro de 20 mil habitantes da cidade. Segundo a estimativa da OMS, o Brasil pode ter mais de 2 milhões de autistas.”
É importante ressaltar que essas pessoas com TDAH e autismo não são portadoras de patologias ou doenças, mas sim contribuem com uma rica diversidade de experiências e habilidades na sociedade. São transtornos e não doenças.
“O respeito por essas diferenças neurocognitivas é crucial para a construção de uma sociedade inclusiva e acolhedora, onde todas as pessoas sejam valorizadas e respeitadas em suas singularidades”, afirma Paiva Jr.