(illustration/Getty Images)
Luísa Granato
Publicado em 1 de maio de 2020 às 06h00.
Última atualização em 1 de maio de 2020 às 06h00.
Não é novidade que a pandemia do coronavírus impactou o setor trabalhista e os modelos de trabalho, entre outras áreas. Mas o que muito profissionais se perguntam é se todas essas mudanças que a doença trouxe vão resultar em um novo mercado de trabalho. Buscando esclarecer essa questão, a socióloga do trabalho norte-americana Tracy Brower faz a predição de alguns pontos sobre o futuro do trabalho, em artigo publicado na Forbes.
O novo mercado de trabalho
Para explicar como deve ser o novo mercado de trabalho pós-coronavírus, a pesquisadora separa sua análise em cinco itens: o que as empresas farão pelos colaboradores, como profissionais irão interagir com os pares, como irão mudar os locais de trabalho, como as organizações vão mudar seus processos de forma geral e como aproveitar as oportunidades de carreira no novo cenário.
Muitas empresas criaram ferramentas de apoio para ajudar sua força de trabalho a sobreviver à crise. Tracy acredita que esse comportamento deve ser mantido e que as organizações vão aumentar a assistência que oferecem aos colaboradores. Para a socióloga, no novo mercado de trabalho, os gestores estarão cada vez mais envolvidos no engajamento e motivação dos seus funcionários, independente de trabalharem in loco ou em home office. Ela também observa que as organizações terão uma preocupação maior com a saúde mental e emocional dos trabalhadores e buscarão oferecer benefícios e soluções para lidar com a questão.
Tracy também prevê que a liderança das empresas vai melhorar uma vez que, durante a crise, o mercado como um todo terá a chance de reconhecer verdadeiros líderes. E ela define que os líderes de destaque são aqueles que se comunicam com clareza, permanecem calmos e fortes, demonstram empatia, pensam a longo prazo e tomam decisões apropriadas. Além disso, a pesquisadora acredita que a cultura da empresa se tornará um foco já que, depois do coronavírus, as organizações vão reconhecer cada vez mais a importância da cultura como contexto para o desempenho e o envolvimento dos funcionários.
O novo mercado de trabalho também será propício para aumentar a diversidade. De acordo com Tracy, o home office abriu caminho para que mais pessoas contribuíssem de novas maneiras e as empresas devem começar a enxergar o quanto pessoas com diferentes capacidades são capazes de contribuir. Isso tudo será alinhado com design inclusivo, novas políticas, práticas e novas abordagens ao trabalho em equipe.
Além disso, esse cenário fará com que o relacionamento entre colegas de trabalho melhore. Isso porque atualmente todos estão unidos contra um inimigo comum – o coronavírus – e esse engajamento irá fortalecer laços e conexões. Também por conta disso, lideranças e pares se tornam mais empáticos, principalmente por entenderem melhor os desafios da vida pessoal da cada um. E, consequentemente, os profissionais também demonstrarão mais consideração pelo papel que a família e amigos têm em suas vidas.
Nem todo mundo deve continuar trabalhando em casa depois da crise, mas a pesquisadora afirma que com certeza os expedientes devem se tornar mais flexíveis no novo mercado de trabalho. Mesmo empresas que antes eram aversas à modalidade se viram obrigadas a reconhecê-la como opção. Com isso, Tracy acredita que as companhias vão expandir a possibilidade de trabalho remoto, oferecendo mais opções e flexibilidade para os funcionários trabalharem onde eles possam produzir mais.
E quem for voltar para o escritório também deve se deparar com mudanças. Para a socióloga, as empresas precisarão implementar técnicas de limpeza aprimoradas, mais distanciamento e aumento de opções de locais para atividades específicas, como foco, colaboração, aprendizado, socialização e descanso. Os profissionais também se tornarão cada vez mais confortáveis com o uso de novas tecnologias, por conta de suas experiências durante a pandemia.
Com mais velocidade e menos burocracia, segundo Tracy. Um dos benefícios da pandemia foi que as empresas precisaram parar para reduzir ou eliminar sistemas desnecessários. Isso levou as organizações a simplificar os processos para responder mais rapidamente às necessidades. Parte desse processo está relacionado ao fato de que muitas empresas tiveram que delegar a tomada de decisões para aumentar a velocidade, resultando em maior capacitação dos funcionários. Ela acredita que os efeitos positivos dessa trajetória levarão as empresas manterem essa abordagem.
E as restrições impostas pelo vírus farão com que a inovação desabroche no novo mercado de trabalho.
A socióloga observa que os desafios criados pelas medidas de combate ao coronavírus forçaram os profissionais a buscar novas formas de pensar, melhores abordagens e novas perspectivas sobre os problemas. Além disso, Tracy também acredita que as empresas vão começar a colaborar mais entre si ou pelo menos ter um senso de responsabilidade maior com suas comunidades e vontade de colaborar para o bem maior nas suas áreas de atuação.
O coronavírus pode ter causado uma grande onda de desemprego, mas a pesquisadora garante que os profissionais terão novas oportunidades de carreira. Durante esse período, as empresas tiveram que reavaliar trabalhos, expandir responsabilidades e explorar novos limites para suas entregas. Essa mudança na maneira como empregos são projetados trará muitas oportunidades de carreira. A grande demanda será por pessoas que possam se acelerar rapidamente, agir e colocar motivação em esforços que façam as empresas funcionarem.
Além disso, no novo mercado de trabalho, as empresas terão pressa em restabelecer seu valor e reenergizar os fluxos de produtos, e para isso adotarão um modelo de trabalho similar aos das startups. Os profissionais devem se preparar e desenvolver raciocínio rápido, capacidade de manter um grande fluxo de ideias e ter engenhosidade para descobrir e fazer as coisas acontecerem.
Tracy finaliza afirmando que pode ser difícil manter o otimismo no futuro, mas que existem oportunidades reais esperando os profissionais após o coronavírus. Seja observando o que as empresas fazem, a maneira como cada um trabalha com outras pessoas, como fazer melhores escolhas no trabalho, como organizações trabalham seus compromissos com a comunidade ou novas oportunidades de carreira, o aprendizado que os profissionais levam dessa crise irá ressonar nos próximos anos e servir de guia para o desenvolvimento profissional.
Este artigo foi originalmente publicado pelo Na Prática, portal da Fundação Estudar.