Pets estão ganhando espaço na rotina de muitos trabalhadores e contribuindo para um ambiente de trabalho mais leve – seja em casa ou no escritório (Roche/Divulgação)
Repórter
Publicado em 1 de setembro de 2024 às 08h17.
Última atualização em 1 de setembro de 2024 às 09h28.
Neste mês o Brasil realizada uma campanha especial: o "Setembro Amarelo". A campanha global lembra durante todo o mês a importância de conscientizar a sociedade sobre a prevenção ao suicídio e os cuidados com a saúde mental – inclusive no mercado de trabalho.
Após a pandemia, a rotina de muitos trabalhadores ganhou novos formatos, assim como os escritórios. Enquanto alguns trabalham de forma remota de casa ou até de outro país, há escritórios que estão oferecendo salas reservadas que ajudam na concentração, massagem, manicure e até espaço para pet.
Com o tema da saúde mental em alta no mercado de trabalho, esses benefícios ligados ao bem-estar estão se tornando aliados do RH. São eles que mais engajam os funcionários (57,62%), seguidos de benefícios financeiros, como auxílio combustível, VA e VR (55,77%) e o PLR (49,25%). Os dados são do Engaja S/A, primeiro índice de engajamento de funcionários do Brasil, criado pela Flash em parceria com a FGV e o Talenses Group, que ouviu 1.732 trabalhadores, das cinco regiões do Brasil.
Do total dos entrevistados, os funcionários com faixa etária entre 18 e 44 anos são os mais engajados com benefícios ligados à saúde e bem-estar.
“Os dados mostram a importância de oferecer benefícios variados e que se adaptam à vida dos funcionários. Pode ser um dos fatores determinantes para ter um funcionário muito engajado ou ativamente desengajado quando se trata de remuneração e benefícios”, afirma Danilo Lima, diretor de Branding da Flash.
Muitas empresas já estão percebendo que profissionais estão sendo atraídos por benefícios que valorizam o equilíbrio entre trabalho e vida, mas muitas esquecem do processo de levar esse benefício até o funcionário e a sociedade – é o que o mercado de trabalho está chamando de carewashing.
Carewashing é um termo relativamente novo que ganhou popularidade nos últimos anos. Ele se refere à prática de empresas e organizações que promovem uma imagem pública de preocupação e cuidado com questões sociais e ambientais, como saúde mental e sustentabilidade, porém suas ações reais contradizem essa imagem.
“Em outras palavras, carewashing é quando uma empresa afirma se preocupar com questões importantes, mas suas práticas de negócios não refletem genuinamente esses valores”, afirma Joaquim Santini, pesquisador internacional.
“Como exemplo de carewashing, Santini cita de forma fictícia em uma empresa de moda que se diz ‘consciente’, mas que tem uma força de trabalho sendo explorada e desvalorizada, ou uma mineradora que anuncia investimentos em projetos de reflorestamento, mas que realiza desmatamento ilegal”, diz Santini.
Para combater essa "falsa imagem", as organizações precisam se envolver em um processo de autorreflexão honesta, afirma Santini. “Requer um compromisso com a transparência, diálogo autêntico com os stakeholders e a disposição de fazer mudanças sistêmicas que alinhem os valores proclamados com as práticas reais”, diz.
A frase “casa de ferreiro, espeto de pau” perdeu o sentido no mercado de trabalho atual e muitas empresas estão buscando não apenas mostrar uma imagem positiva, mas agregar benefícios diferentes no dia a dia do trabalhador com um objetivo que vai além de uma imagem positiva: manter seus talentos de forma saudável e produtiva.
Veja alguns exemplos de benefícios que podem ajudar no bem-estar e na saúde mental dos funcionários:
Famílias com pets cresceram de forma exponencial durante e após a pandemia. Segundo matéria da The Economist, pesquisas por escritórios que aceitam animais de estimação dispararam nas plataformas de busca de emprego, e uma em cada cinco famílias americanas adquiriu um animal de estimação durante o isolamento.
No Brasil, a demanda não foi diferente. O país conta com mais de 160 milhões de pets, com cães e gatos liderando o ranking, segundo dados da Abinpet (Associação Brasileira da Indústria de Produtos para Animais de Estimação) e do Instituto Pet Brasil. O mercado de pet segue contribuindo com a economia brasileira. De acordo com dados do Sebrae, o país conta com mais de 285 mil empresas voltadas para o setor, que atingiu um faturamento acima de R$ 68 bilhões em 2023, segundo a Abinpet.
Por se tornaram parte da família, as empresas precisaram criar benefícios inovadores para os funcionários. Um relatório divulgado no final de 2023 pela Harvard Business Review aponta que há muitas vantagens em desenvolver um ambiente de trabalho pet-friendly, incluindo aumento do bem-estar e da colaboração entre os funcionários. Pelo terceiro ano consecutivo, a farmacêutica Roche realizou em agosto o “Dog Day Roche”, quando os funcionários podem levar seus cachorros ao escritório. O evento mostrou ter um impacto significativo na saúde mental e no clima organizacional, afirma Vivian Oliveira, Gerente de Segurança, Saúde e Proteção Ambiental & Engenharia da Roche, responsável pela iniciativa (Dog Day).
"Percebemos uma redução considerável no nível de estresse e ansiedade dos funcionários na presença dos pets. Esses momentos de interação são valiosos para quebrar a rotina e proporcionar bem-estar", afirma a executiva
A companhia já prevê expandir a iniciativa para o próximo ano, que precisou de um investimento de R$ 30 mil. “É um valor considerado baixo diante dos benefícios proporcionados”. A partir de 2025 a empresa irá realizar o evento duas vezes ao ano, e deve implementar um programa contínuo de dog-friendly, permitindo que os funcionários tragam seus cães para o escritório regularmente.
A BeFly, empresa brasileira de turismo, oferece um plano de saúde para pets (cachorros e gatos) sem limitações ou carência, permitindo que os funcionários cuidem de seus animais de estimação por um valor acessível que é descontado em folha, em caso de adesão.
Na pandemia, a executiva Renata Esteves, diretora de gente e gestão da Befly, afirma que a empresa identificou que as famílias com pet cresceram e que a convivência com o pet ficou mais próxima.
“O animal de estimação conquistou seu espaço e a nossa atenção. Considerando que o pet se tornou membro da família e que sua saúde impacta na rotina da casa, ter um olhar cuidadoso e de assistência para a saúde do pet passou a ser um novo compromisso do funcionário e da Befly", afirma.
O plano de saúde é pago, custa a partir de R$ 35 e é descontado em folha, em caso de adesão.
Até novembro os feriados não cairão mais em dias úteis, isso significa uma folga a menos no mês do funcionário – não para os que trabalham na Swile, empresa de benefícios flexíveis. A companhia viu a repercussão que essa falta de feriados causou nas redes sociais e decidiu inovar o seu programa de benefícios criando o "feriado da Swile".
“Por meio desse benefício vamos dar a possibilidade de cada funcionário dizer qual é o melhor dia para ele tirar a sua folga de feriado dentro do mês, afinal as pessoas têm necessidades diferentes”, afirma a Josiane Lima, diretora de RH da Swile.
O benefício se estende para todos os funcionários, de estagiário a executivo, nos meses de agosto, setembro e outubro deste ano, uma vez que nesses meses os feriados cairão todos no fim de semana. Segundo a executiva de RH, o objetivo com essa ação é estimular uma mudança de relação com o trabalho e para isso afirma que acompanha as redes sociais, os pedidos dos funcionários e os exemplos de outras companhias.
“Um dos posts que vimos foi um questionamento sobre o que seria da saúde mental já que 17 semanas de trabalho separavam o funcionário do próximo feriado”, afirma Lima. “O novo benefício está tendo sucesso e pretendemos renovar no próximo ano”.
Trabalho flexível é uma das apostas da Môre, consultoria de design e estratégia digital.. Desde junho, a companhia passou a oferecer aos funcionários - tanto os que são PJ quanto os contratados no formato CLT - a possibilidade de tirarem até 60 dias de férias. Além dos 30 dias habituais, agora os funcionários podem comprar até mais 30 dias e a Môre dá um desconto de 20%. Exemplo: se a pessoa recebe R$ 10 mil / mês e quiser tirar mais 30 dias de férias, ela pode comprar os 30 dias a mais por R$ 8 mil (na prática, ela tira 30 dias de férias a mais e recebe R$ 2 mil).
“Se você pode como prestador de serviço para uma empresa vender as suas férias, por que não poderia também "comprar" mais férias? Este foi o questionamento inicial que tivemos”, afirma Leo Xavier, sócio fundador da Môre.
“Entendemos que essa liberdade é saudável, inclusive porque temos um olhar voltado para a saúde mental e equilíbrio e isso acaba dando às pessoas mais possibilidades”, afirma Xavier.
A startup também criou uma multa para quem trabalhar demais. De acordo com a iniciativa, de caráter educativo, cada funcionário recebe 500 "moedas" (fictícias) por mês, que ficam cadastradas em uma plataforma interna da empresa. As "moedas" indicam o quanto cada funcionário está conectado aos valores da startup.
Mandou mensagem de Whatsapp ou e-mail após o horário do expediente? Ligou para o colega no final de semana para falar de trabalho? Será "multado". A cada "infração", 50 "moedas" são perdidas. A "multa" vale tanto para quem envia quanto para quem recebe as mensagens ou ligações, uma vez que a plataforma mostra quando os conteúdos são acessados.
“Pouquíssimas pessoas foram multadas. O que conseguimos com esta medida foi garantir mais uma vez a lógica do cuidado com as pessoas, do entendimento de que trabalhar duro não é trabalhar muito, por muitas horas”, diz o sócio fundador da Môre.