Mulheres conversando em escritório (Hinterhaus Productions/Getty Images)
Da Redação
Publicado em 9 de março de 2020 às 12h00.
Última atualização em 9 de março de 2020 às 12h00.
Recentemente me perguntaram: “Sofia, hoje as mulheres ainda sofrem preconceito no mercado de trabalho, mas antigamente era ainda mais difícil, como você lidava com isso?”
Me lembrei de quando, no início da minha carreira, fui visitar um cliente pela primeira vez e logo que entrei na sala de reunião ele me perguntou: “Quando o seu chefe vai chegar?”. Ele pensou que eu, por ser mulher, era a secretária.
Naquele momento tive que fazer uma escolha. Eu poderia demonstrar irritação e insegurança ou simplesmente afirmar quem eu era, uma boa profissional querendo colocar meus talentos em movimento. Lhe respondi que eu era a chefe e que esperava que ele não se importasse com o fato de eu ser mulher, mas que focasse na minha competência profissional porque eu estava ali para ajudá-lo com o meu trabalho. Disse com firmeza, mas sem perder a gentileza e o sorriso no rosto. Claro, ele ficou sem graça, me escutou, fechamos negócio e até hoje é um grande amigo pessoal.
Com certeza atravessei desafios pelo fato de ser uma mulher empreendedora em um tempo onde, ainda, a mulher estava muito destinada a ser “do lar”. Porém, não só eu, como muitas das minhas colegas de profissão, fomos juntas abrindo caminhos e mostrando nossa competência e por mais que ainda exista pré-conceitos com as mulheres no mercado de trabalho, é inegável: a força feminina já conquistou espaço no cenário empresarial e mais do que nunca o mercado precisa das mulheres entre as equipes e em cargos de liderança. Sabe por quê? Sem equilíbrio não há avanço.
A tecnologia nunca esteve tão presente e é tendência em todas as áreas de trabalho. Será através dela que muitas funções físicas e analíticas serão cada vez mais substituídas. No entanto, os softwares, mesmo os mais avançados, não conseguem contemplar a complexidade de emoções que nós, seres humanos, possuímos e nem lidar com a nossa necessidade intrínseca de humanização nas relações. É da nossa biologia viver em comunidade. Logo, com a crescente onda tecnológica é natural que tantas pesquisas comportamentais estejam revelando pedidos emergenciais dos colaboradores por mais humanização nas relações de trabalho.
Estamos, enquanto humanidade, presenciando altos índices de depressão e ansiedade. A tecnologia é rápida, nossa mente também, mas o corpo não está acompanhando e já está dando sinais de que precisamos parar para respirar, voltar a nos olharmos nos olhos e termos espaços seguros para sermos vulneráveis. Humanização.
Sendo assim, equilibrando a onda das automações, as empresas começaram a olhar para as relações, para um cuidado melhor na comunicação, no bem-estar integral e na conexão entre colegas de trabalho e lideranças e colaboradores. Nada disso pode ser feito sem gentileza, respeito, escuta, paciência, compaixão e acolhimento. Esses aspectos, normalmente, são mais presentes nas mulheres, tanto pela forma como somos criadas, como pelo fato de produzirmos oxitocina (hormônio da confiança e do amor) com mais facilidade. O mercado também precisa de coragem, criatividade, resiliência, garra e inteligência emocional e de pensamento crítico – também aspectos presentes na mulher.
Sendo assim, as empresas precisam que mais mulheres ocupem cargos de influência dentro das organizações, para que seja cada vez mais aplicada gestões mais humanizadas. Lembrando que, essas habilidades também podem estar presentes em homens e mulheres e trans. E às mulheres, precisamos continuar inspirando e ensinando ao mercado e seus profissionais o valor que tem olhar para as relações com mais viés emocional, mas também, deixar claro que não somos apenas isso. Em cada indivíduo residem polaridades psíquicas e esse estigma de que as mulheres são apenas emocionais também não combina com uma mentalidade do futuro. Somos plurais.
Então, em torno do Dia Internacional da Luta pelo Direito das Mulheres, faço esse lembrete. Mulheres, precisamos de gentileza e afeto dentro das empresas. Precisamos nos lembrar que é só o cuidado e o respeito que podem reeducar a humanidade a ser mais solidária e mais inclusiva. Não estou falando que as mulheres precisam usar vestido de flores e falar manso, não “temos que” nada, inclusive.
Porém, é essencial esse resgate da potência feminina. Garra aliada à delicadeza do cuidado genuíno. Doçura aliada à selvageria de um bom coração, disposto a colocar amor em tudo que faz. Não podemos mais nos esconder por medo do preconceito ou da falta de respeito, precisamos é cada vez mais resistir e revelar a capacidade única que as mulheres têm de serem humanas, inspirando esse valor em cada contato profissional, em cada reunião, em cada fala.
Chegou o momento de nos retirarmos do lugar de exclusão com coragem de assumir nosso posto. Somos educadoras, cuidadoras, mães, filhas, amigas, irmãs, companheiras e excelentes profissionais e ninguém poderá falar o contrário se não permitirmos que isso aconteça, primeiro, dentro de nós mesmas. Precisamos continuar fortalecendo a busca pela igualdade de direitos e pelo respeito, merecemos. Assim como, todas os públicos diversos merecem seu espaço e inclusão genuína.
Esse é o meu convite de hoje, que você se relembre da sua potência. Que façamos uma revolução gentil no mercado através de atitudes amorosas e que os homens que estejam lendo esse artigo, também se permitam à vulnerabilidade, ao afeto e a se questionarem sobre suas crenças e pré-conceitos. A união entre gerações de profissionais e entre os gêneros é o único caminho para a transformação real, para a criação de realidade de ambientes profissionais mais saudáveis, criativos, harmoniosos e sustentáveis.
Desejo a todos uma boa reflexão.