Pandemia: pessoas ansiosas podem ter menor adesão às recomendações de distanciamento social e fatores de estilo de vida (Amanda Perobelli/Reuters)
Victor Sena
Publicado em 10 de novembro de 2020 às 11h37.
Última atualização em 10 de novembro de 2020 às 11h38.
De olho nos efeitos que a pandemia tem causado sobre a saúde mental, como já foi alertado pela Organização Mundial da Saúde, uma pesquisa da Universidade de Oxford descobriu dados que demonstram que a covid-19 pode ter mais chances de estimular o surgimento de doenças mentais, como transtornos de ansiedade e depressão.
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Além disso, a pesquisa descobriu que existe uma correlação entre problemas psiquiátricos já existentes e a chance de alguém ser infectado pelo novo coronavírus. Essas pessoas tinham 65% mais chances de ser diagnosticadas com covid-19.
Nos três meses após terem sido infectados, 5,8% dos pacientes tiveram seu primeiro diagnóstico psiquiátrico. Enquanto isso, pessoas recém recuperadas de doenças respiratórias comparáveis, como gripe, foram 2,5 e 3,4% do total.
Isso mostra que a pessoas infectadas pelo novo coronavírus tiveram pelo menos duas vezes mais chances de ter transtornos psiquiátricos.
O estudo, conduzido por pesquisadores da the Universidade de Oxford e do NIHR Oxford Health Biomedical Research Centre, explorou dados dos Estados Unidos. Foram analisados dados de saúde de 69,8 milhões de pacientes norte-americanos, dos quais 62.354 mil tiveram covid-19.
Apesar de o primeiro diagnóstico ter sido encontrado em apenas 5,8% dos infectados, o que indica a causalidade, 18,1% das pessoas que tiveram covid-19 têm alguma questão psiquiátrica.
No Brasil, uma pesquisa da consultoria Falconi aponta o crescimento de casos de depressão, burnout e distúrbios emocionais. 37% das empresas registraram aumento de doenças psiquiátricas.
Os acometimentos mentais no ambiente laboral são preocupantes, tanto pelo estado precário de saúde dos funcionários, quanto pelo impacto que o cenário gera nas empresas, inclusive financeiramente. A Isma-BR calcula que a má gestão do estresse custa 80 bilhões de dólares às organizações no Brasil. Nos EUA, o número pode chegar a 300 bilhões de dólares.
Até agora, os fatores de risco mais comuns são a idade, problemas cardíacos e a diabetes.
No artigo, os autores afirmam que não há dados que expliquem por que isso acontece, mas apontam algumas hipóteses.
Pessoas ansiosas podem ter menor adesão às recomendações de distanciamento social e fatores de estilo de vida (como, tabagismo) também podem ter essa influência.
A vulnerabilidade à covid-19 também pode ser aumentada por um estado pró-inflamatório existente em algumas formas de transtorno psiquiátrico ou estar relacionado à medicação psicotrópica.
Os afirma que não previam que o histórico psiquiátrica poderia ser um fator de risco independente e reforçam que a conclusão parece robusta, já que é observada em diferentes idades, ambos os secos, se há outro fator de risco ou não e mesmo em casos em que não havia vulnerabilidade de moradia e econômica.
Mesmo os dados sendo robustos, os autores citam uma pesquisa coreana que não encontrou associação entre diagnóstico psiquiátrico e a covid-19, mas que tinha amostra pequena.
Os pesquisadores destacam que as conclusões já servem para que médicos e sistemas de saúde consideram os transtornos mentais como comorbidade e adequem a estratégia de combate à pandemia.