Cargos de liderança estiveram mais associados a casos de assédio moral, com gerentes, coordenadores e supervisores sendo apontados por 33% dos entrevistados (Six_Characters/Getty Images)
Repórter
Publicado em 11 de março de 2025 às 08h01.
O ambiente corporativo brasileiro está cada vez mais atento à transparência e à integridade organizacional. Mas, ao mesmo tempo que as empresas aprimoram seus canais de denúncia, cresce também o número de relatos sobre assédio moral, discriminação e descumprimento de políticas internas.
De acordo com a 4ª edição do estudo "Perfil do Hotline no Brasil 2024" realizado pela consultoria KPMG, 45% das empresas participantes registraram um aumento de 28% nas reclamações recebidas pelos canais internos de denúncia (hotline) em 2024, em comparação com o ano anterior. O levantamento envolveu executivos de 67 organizações de dez setores diferentes. Entre os principais temas reportados, o descumprimento de políticas foi considerado totalmente procedente por 26% dos denunciantes, enquanto o assédio moral se destacou como a categoria com o maior percentual de casos parcialmente procedentes (40%).
Os dados revelam também que os perfis mais denunciados variam conforme a natureza da infração. No caso de segurança do trabalho, analistas e equipe operacional foram os mais citados (36%).
Já em situações de discriminação, essa mesma categoria de profissionais apareceu em 25% das denúncias. Por outro lado, cargos de liderança estiveram mais associados a casos de assédio moral, com gerentes, coordenadores e supervisores sendo apontados por 33% dos entrevistados. Eles também foram mencionados em 22% das ocorrências relacionadas a conduta e comportamento inadequados.
O estudo foi realizado com 67 organizações de diferentes setores, incluindo agronegócio, varejo, saúde, tecnologia e serviços financeiros no segundo semestre de 2024. A coleta de dados ocorreu por meio de um questionário estruturado online, abordando temas como adoção e gestão dos canais de denúncia, confiança dos funcionários no sistema, tipos de infrações mais reportadas e impacto na governança corporativa.
Outro dado relevante da pesquisa é a percepção de confiabilidade nos canais de denúncia. Apesar do aumento nos relatos, 89% dos funcionários e terceiros afirmaram confiar na ferramenta, o que demonstra que esses sistemas são um pilar essencial para a integridade empresarial. No entanto, a maioria dos denunciantes (85%) opta por manter o anonimato ao relatar irregularidades, o que reforça a necessidade de políticas que garantam a proteção e segurança dos profissionais que fazem as denúncias.
Os dados também mostram que nem todas as denúncias resultam em comprovação. No caso de corrupção, 30% dos relatos foram considerados improcedentes e 42% dos entrevistados disseram não saber informar o desfecho. Já a fraude financeira teve 22% das queixas refutadas e 43% sem conclusão definitiva.
Para Emerson Melo, sócio-líder da prática forense e de litígios da KPMG no Brasil e colíder na América do Sul, o aumento no volume de denúncias evidencia a importância desses canais para a integridade empresarial.
"A implementação de um canal de denúncias eficiente e alinhado às boas práticas é um pilar essencial para a prevenção e detecção de fraudes e desvios de conduta. Com a incorporação de avanços em inteligência artificial, esses sistemas aprimoram a análise dos relatos e ampliam a vigilância proativa", afirma.
A pesquisa também mostrou que a existência de canais estruturados permite a identificação precoce de fraudes, algo apontado por 22% dos entrevistados. Para Carolina Paulino, sócia da prática forense e de litígios da KPMG no Brasil, esse crescimento nas denúncias demonstra o volume de informação que poderia ficar represado sem essas ferramentas.
"Independentemente do momento em que é disponibilizado, o hotline passa a ser recebido com ampla confiabilidade e grande adesão, o que pode ser notado pelo aumento no número de relatos registrados", afirma.
Com a crescente adoção de canais de denúncia estruturados e o uso de tecnologia para análise de comportamentos suspeitos, as empresas precisam reforçar estratégias de compliance e governança corporativa para garantir um ambiente de trabalho seguro e transparente. Ao mesmo tempo, a alta taxa de denúncias mostra que os profissionais estão cada vez mais atentos às condutas inadequadas dentro das organizações.
A transparência e a integridade organizacional não são apenas tendências, mas fatores essenciais para a atração e retenção de talentos, especialmente em um mercado onde a reputação corporativa é determinante para o sucesso dos negócios.