Cena do filme "Até que a Sorte nos Separe": o erro de Tino e Jane foi interpretar sua riqueza como dinheiro a ser consumido, e não como fonte de renda. (Divulgação)
Da Redação
Publicado em 11 de março de 2013 às 15h58.
São Paulo - No filme Até Que a Sorte Nos Separe, que acaba de estrear, o casal Tino (Leandro Hassum) e Jane (Danielle Winits) se vê diante de uma complicada situação: a necessidade de ajustar seu estilo de vida esbanjador depois de anos torrando 100 milhões de reais que ganharam em um sorteio de loteria.
Os 100 milhões são apenas uma caricatura, um exagero do que acontece no dia a dia da típica família brasileira. Acreditando na sorte, muitos estabelecem um padrão de consumo como se fossem trabalhar para sempre — e os aumentos de salário, bônus e comissões fossem continuar indefinidamente.
Nossa sociedade considera normal que bens adquiridos ao longo da vida sejam vistos como um estoque de riqueza a ser consumido na aposentadoria. Não deveria ser. Se construímos riqueza com nosso trabalho e suor e desejamos um dia deixar de trabalhar ou diminuir o ritmo, não é sensato que contemos com o consumo do patrimônio acumulado. Afinal, patrimônio é uma fonte de renda, e como tal deveria ser visto como a segurança que temos caso os avanços da medicina nos levem mais longe.
Quem esgota o patrimônio durante a vida está, na prática, apagando da história sua contribuição para a sociedade e para a família. Em países em que as pessoas se planejam para deixar herança, o legado que fica vai além do conforto proporcionado a filhos e netos. O patrimônio que cresce a cada geração forma países mais ricos, que multiplicam o bem-estar ao longo de décadas.
Nós brasileiros queremos aproveitar 100% do que criamos durante a vida. Vivemos em uma cultura imediatista e pobre. Mudar isso é difícil, mas é recompensador. O erro de Tino e Jane foi interpretar sua riqueza como dinheiro a ser consumido, e não como fonte de renda. Se, em vez de contar com os 100 milhões de reais para fazer suas escolhas, o casal limitasse seu padrão de vida ao rendimento gerado por sua fortuna, viveria muito bem e sem consumir o patrimônio. Hoje, o ganho real e sem riscos obtido com essa fortuna seria de cerca de 200.000 reais mensais. Dá para viver, não?
Quem poupa não deve contar com esses recursos para a aposentadoria. O ideal é contar com os rendimentos do patrimônio, para que ele se perpetue. Os rendimentos são poucos? Pense em empreender, construir algo para si ou para revender, em vez de consumir tudo agora e desaparecer da história. Multiplique e deixe seu legado.
Gustavo Cerbasi escreve sobre finanças pessoais, investimentos e como chegar ao primeiro milhão. É consultor financeiro e autor do livro "Casais inteligentes enriquecem juntos"