Dilma Campos, fundadora e CEO da Nossa Praia: “O papel de CEO é o de uma liderança que escuta, que entende o mercado e suas dores.” (Leandro Fonseca/Exame)
Repórter
Publicado em 21 de abril de 2025 às 07h51.
Última atualização em 22 de abril de 2025 às 13h10.
“Quando começo a falar da minha carreira, penso: quanta coisa eu fiz e mudei, parece que nem cabe numa vida só”, diz Dilma Campos, fundadora da Nossa Praia e CSO da holding BPartners.co, durante o terceiro episódio do podcast “De frente com CEO”. Sua história profissional, no entanto, começou longe dos cargos de liderança. Formada em dança e, mais tarde, em odontologia, Dilma passou por diversas áreas até entender seu verdadeiro propósito: comunicar com impacto.
“Do lugar de onde eu vim, as oportunidades não existiam. Você não tinha um pensamento de planejar minha carreira. O jeito foi ir apostando em algo que eu gostava”, diz Dilma.
A trajetória que começou em palcos – e que ficou famosa ao estrear no Castelo Rá-Tim-Bum, interpretando a personagem Passarinha - se transformou em uma jornada de liderança e ativismo pelo ESG, muito antes do termo ganhar força nas empresas.
“Quando montei a minha empresa, há mais de 12 anos, já queria que ela nascesse com esse olhar de transformação social e ambiental”, afirma.
Como muitos jovens que não sabe qual carreira seguir de imediato, os sonhos de Dilma em relação à carreira foi se modificando conforme ela foi descobrindo o mundo e a si mesmo. “Eu tinha o sonho de ser caixa de supermercado, mas quando entrei na área de eventos e comunicação, percebi que dominava aquilo”, conta. Aos 22 anos, mesmo querendo cursar comunicação, acabou se formando em odontologia.
“Nada a ver, né? Mas cada formação trouxe habilidades fundamentais que eu uso até hoje”, afirma. “A dança, por exemplo, me ensinou a ter disciplina e criatividade. A odontologia, por sua vez, me deu estrutura para pensar com base em dados e pesquisa”.
Dilma Campos atuando no "Castelo Rá-Tim-Bum" (Instagram/Reprodução)
Antes de fundar a “Nossa Praia”, em 2013, empresa de comunicação especializada em impacto social, ESG e marketing regenerativo, Dilma chegou a ser diretora em uma grande agência de comunicação. “Mas percebi que não estava mais crescendo. Foi aí que decidi empreender.”
Criada inicialmente como “Outra Praia”, a agência passou a se chamar “Nossa Praia” após uma sugestão do sócio e CEO da BPartners, Bazinho Ferraz. “Quando ele disse que ‘outra’ não parecia inclusivo, caiu a ficha. ‘Nossa Praia’ representa muito melhor o que queremos construir coletivamente”, diz. “Isso me fez exercer um papel que um CEO deve ter também: o da escuta”.
Pioneira no conceito de marketing regenerativo, Dilma explica que ele vai além do ESG tradicional. “Se todo valor investido em marketing gera impacto ambiental e social, você está praticando marketing regenerativo”, afirma.
Hoje, a “Nossa Praia” desenvolve campanhas e plataformas que ajudam grandes empresas a educar sua cadeia de suprimentos com foco em ESG. “Transformamos marcas em plataformas educacionais, com cursos e mentorias para pequenas empresas se desenvolverem de forma sustentável.”
A estratégia está dando certo: a expectativa é crescer 30% em 2025 com os produtos ESG e 35% com marketing regenerativo.
Durante muito tempo, Dilma Campos não se sentia pronta para assumir o título de CEO. Mesmo liderando a Nossa Praia desde sua fundação, ela evitava usar o cargo por insegurança. “Eu achava que ainda não tinha o preparo para ser CEO, que precisava entender muitas outras coisas antes”, admite. O ponto de virada veio em 2016, quando foi selecionada para o programa Winning Women, da Ernst & Young (EY), uma iniciativa global que apoia mulheres empreendedoras com alto potencial de crescimento.
“Foi um divisor de águas. Até ali, eu via a minha empresa como meu ganha-pão. Não enxergava aquilo como um negócio estruturado, com produtos e potencial de escala. Nesse processo, comecei a entender que eu podia, sim, ser CEO. E que precisava ocupar esse lugar com responsabilidade.”
A mentoria oferecida pelo programa não apenas fortaleceu sua visão de negócio, como também impulsionou a formalização da sua liderança. “Foi ali que eu me coloquei como CEO da Nossa Praia de verdade. A liderança que escuta, entende o mercado, as dores, e acredita que pode fazer diferente.”
A COP30 (30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas) acontecerá entre os dias 10 e 21 de novembro de 2025, na cidade de Belém, no estado do Pará, Brasil. Será a primeira vez que a Amazônia sediará uma conferência climática da ONU, e para Dilma, o evento será uma oportunidade histórica para o país se posicionar como líder global em sustentabilidade.
“Temos uma matriz energética limpa, que pode melhorar. Temos também como biocombustível o álcool, que já emite muito menos e que pode melhorar. A COP é uma grande oportunidade para colocar o Brasil como protagonista de sustentabilidade.”
Desde 2023, Dilma também ocupa o cargo de CSO da BPartners.co, grupo que incorporou sua agência. O desafio? Aplicar os princípios de ESG em 17 empresas com culturas diferentes. “É um grupo multicultural, mas com governança única. Meu papel é garantir que todas caminhem com o mesmo foco de impacto social e ambiental.”
O trabalho já rendeu frutos: a holding ganhou cinco prêmios do Pacto Global da ONU em 2024. “Foi quando me dei conta de que estava, sim, preparada para essa posição.”
Com uma filha que irá se formar em breve em Relações Internacionais, Dilma espera um futuro do trabalho diferente.
“Ela certamente vai encontrar um mercado melhor do que eu encontrei, mas não ideal. Quando eu comecei não falavam de mulheres na liderança e nem de questões como o racismo. Era como se isso não existisse. Hoje falamos sobre isso”, afirma a CEO.
Apesar dos avanços, Dilma acredita que o novo mercado exigirá ainda mais resiliência, saúde emocional e inteligência social das novas gerações – e reforça que, mais do que nunca, será essencial buscar propósito:
“Se a gente não ama o que faz, fica ainda mais difícil. A competitividade é cada dia maior. Então, você precisa achar o que você ama fazer — e não precisa achar agora. Vai procurar, vai experimentar”, diz Dilma.
Dilma finaliza com um conselho para quem ainda busca a carreira ideal. “A coragem de experimentar é essencial. Mesmo quando você ainda não sabe o que quer, saber o que não quer já é um bom começo”.
Para as empresas, o recado também é claro: “Investir em sustentabilidade não é uma obrigação. É o que precisamos fazer para garantir um futuro melhor.”