Maranhão, atleta olímpico de arremedo de peso: “Aos 13 anos saí de casa com uma mochila e uma nota de 50 reais para eu comer na estrada. Esse foi o início de um sonho” (Clube Pinheiros/Divulgação)
Repórter
Publicado em 20 de julho de 2024 às 12h37.
Última atualização em 23 de julho de 2024 às 13h06.
Quanto tempo podemos levar para realizar um sonho? Para o atleta Welington Silva Morais o tempo que for necessário. Após 15 anos de muito treinos e tentativas, ele será um dos atletas que vai representar o Brasil nas Olimpíadas de Paris deste ano na modalidade arremesso de peso.
Nascido na região rural de Imperatriz, no bairro Bom Jesus, o atleta recebeu o apelido de “Welington Maranhão”, graças ao seu estado de origem, e desde cedo preciso se livrar de muitos pesos da realidade. Aos 6 anos já foi trabalhar na roça para ajudar a mãe e a avó que viviam em condições difíceis.
“Em algumas regiões do Nordeste é bem complicado. A criança aprende a trabalhar cedo porque senão passa necessidade e eu fui uma dessas crianças. Às vezes não tinha o que comer”, diz o atleta que morava em uma casa de bairro.
O desafio de Maranhão era de chegar mais longe e de mudar a situação em que sua família vivia, por isso estudava de manhã e trabalhava de tarde, mas era de noite que vinha a maior motivação. “Eu sempre quis mudar aquela situação. Eu não suportava ver minha mãe chorando à noite, por conta de não ter nada para comer.”
Entre as atividades da criança, Maranhão tirava o mato, limpava todo o terreno para depois plantar as sementes. “Plantava, colhia e vendia arroz e feijão. Essa era a renda da minha família na época”.
Maranhão é o primeiro atleta da família, e a sua irmã está buscando se destacar no mundo do esporte por meio do judô. A proximidade com a modalidade de arremesso de peso começou em um projeto social da cidade onde Maranhão se destacou na queimada. Devido ao porte físico, por ser alto e forte, Maranhão teve o conselho de tentar o arremesso. Aos 10 anos começou a treinar, com lançamento de dardo, e no primeiro ano de competição ganhou os nacionais do maranhão e o brasileiro escolar. E aos 13 anos recebeu uma proposta para morar em Londrina.
“Aos 13 anos saí de casa com uma mochila e uma nota de 50 reais para eu comer na estrada. Esse foi o início de um sonho”.
O sonho para Maranhão chegar nas Olimpíadas durou 15 anos. Isso porque além da modalidade, teve que mudar de técnico, de clube, além de passar dois anos machucado - mas nos últimos três anos, ele começou a fazer marcas expressivas. O atleta tem como marca 2101, que é a segunda maior marca da história do arremesso do peso no Brasil e a terceira da história da América do Sul. “Esse resultado me deixa muito orgulhoso e otimista para as Olimpíadas deste ano”.
O fato de esperar tanto tempo para realizar um sonho não é para qualquer um, ainda mais para quem busca uma vaga no maior campeonato de esporte do mundo, mas Maranhão diz que há um segredo para conseguir focar em um objetivo de longo prazo.
“O maior segredo é ter a saúde mental, porque o corpo ele pode estar em um dia ruim, mas o que manda é a cabeça. Não vai ser todo dia mil maravilhas, haverá dias difíceis, e você terá que ter uma cabeça muito boa para superar esses obstáculos”.
Um dos obstáculos de Maranhão foi a perda da sua avó durante o Mundial em Oregon, nos Estados Unidos, em 2022. “Ela é a pessoa que eu me inspiro todos os dias. É a pessoa que sempre esteve comigo ali nos momentos bons e ruins”, diz o atleta que lembra com carinho de sua avó que quebrava coco babaçu.
Caso Maranhão traga a medalha olímpica para casa, ela será dedicada à sua avó. “Ser atleta não é uma profissão fácil. O caminho é bem estreito. Você tem que abrir mão de muitas coisas, vai perder muitas coisas importantíssimas para você durante essa caminhada, no meu caso, a despedida da minha avó foi uma delas, mas no final você vai ver que tudo aquilo que você passou terá um resultado.”
Mesmo com toda a dificuldade, Maranhão terminou os estudos da escola e decidiu iniciar a faculdade de fisioterapia, que ele teve que trancar no último semestre para se dedicar às Olimpíadas deste ano.
Com 27 anos, Maranhão busca praticar o arremesso de peso até o corpo aguentar, mas também tem planos para a vida pós-atleta.
“Vou ser fisioterapeuta, voltar para a minha cidade e começar uma nova vida. Pretendo trabalhar por lá, abrir uma clínica e seguir minha vida simples e cheia de alegria.”
A modalidade olímpica do arremesso de peso surgiu nos primeiros Jogos Olímpicos modernos, realizados em Atenas, Grécia, em 1896. Desde então, o arremesso de peso tem sido uma presença constante no programa olímpico de atletismo para os homens. A versão feminina do arremesso de peso foi incluída nos Jogos Olímpicos pela primeira vez em 1948, durante as Olimpíadas de Londres.
O arremesso de peso requer uma técnica precisa e refinada para jogar uma bola de metal o mais distante possível. Para isso, existem duas principais técnicas: o giro (rotational technique) e o deslocamento lateral (glide technique). Ambas exigem anos de prática para serem dominadas.
Até o momento, o Brasil não conquistou uma medalha olímpica na modalidade de arremesso de peso, tanto na categoria masculina quanto na feminina. A modalidade tem sido uma área desafiadora para os atletas brasileiros nas Olimpíadas.