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Da Redação
Publicado em 21 de maio de 2013 às 15h00.
São Paulo - Consumir, muitas vezes, é um ato impulsivo. Imagine que você está passeando por um shopping center e decide comprar um sapato, mas não tem dinheiro. Imediatamente, você se lembra que há um limite de grana disponível em sua conta corrente com acesso rápido e fácil. Você, então, não pensa duas vezes e compra o sapato. Parece simples, mas o uso do limite do cheque especial terá um custo alto na sua vida.
O crédito do cheque especial é o mais caro do mercado bancário. Os juros superam 180% ao ano. Mesmo assim, seu uso está em alta. Só no primeiro semestre deste ano ele aumentou 8% em relação ao mesmo período do ano passado. O estrago do cheque especial nas suas finanças é assombroso. Quem usa 3 000 reais vai ter uma dívida de 8 437 reais depois de 12 meses.
Segundo cálculos de José Eduardo Amato Balian, professor de administração da ESPM, de São Paulo, desse total, 5 437 reais serão só juros. Não é à toa que quando alguém cai no buraco sem fundo do cheque especial não consegue sair com facilidade. A inadimplência nessa modalidade de crédito é superior a 9%. A média geral de quem não paga o financiamento em todo tipo de crediário é de 6,5%. O crédito fácil, muitas vezes, transforma-se em uma dívida difícil.
O que faz então com que as pessoas escolham pagar mais e entrar no cheque especial? A planejadora financeira Cristiana Baptista, de São Paulo, diz que os usuários de cheque especial entendem que aquele dinheiro é uma extensão do seu salário ou de sua renda. “O importante é não identificar os limites do cheque especial e do cartão como créditos disponíveis, porque são muito caros”, diz. Normalmente, as pessoas usam o limite do cheque especial porque acham que é uma situação passageira. “O que era para ser temporário se estende. O que poderia servir de proteção para uma eventualidade, um descuido momentâneo no caixa, vira uma dor de cabeça”, diz José Eduardo, da ESPM.
Nem todo crédito é ruim
Isso não quer dizer que usar linhas de crédito disponíveis seja ruim. Sim, o crédito pode ser bom aliado, desde que utilizado de forma racional, com muita pesquisa e sabendo qual o tamanho da parcela para pagamento desse empréstimo que caberá no seu bolso. A dica é fugir do cheque especial e olhar para outras linhas de crédito disponíveis no mercado. Os juros anuais do empréstimo pessoal são bem mais baratos — ficam em 42% ao ano. A taxa do crédito consignado, com desconto em folha de pagamento, fica em 27% ao ano, segundo dados do Banco Central.
Agora, se não foi possível ser racional no momento de gastar e a situação já está consumada e você transformou o seu crédito em uma dívida, com a incidência de uma taxa elevada de juros, é hora de cair na real. Tente reduzir o prejuízo. De acordo com Roberto Pfeiffer, diretor executivo do Procon, em São Paulo, o melhor é tentar negociar com o credor, seja o banco, seja a administradora de cartão de crédito. “Sempre haverá interesse em renegociar, pois o credor quer receber. O importante é buscar uma solução que seja viável dentro de seu orçamento”, diz Roberto.
Negociações frustradas? Calma, há outras opções. Você pode utilizar o recurso da portabilidade de crédito: transferir a sua dívida de um banco para outro que ofereça taxas menores de juros ou parcelas com valores mais baixos. Será preciso negociar com o novo parceiro financeiro, mas é um caminho, segundo Roberto Pfeiffer, ainda pouco utilizado.
A portabilidade existe no mercado financeiro só há três anos. Mas se, mesmo assim, a sua escolha for fazer um gasto além da sua renda disponível no momento, que ao menos seja uma decisão racional. O uso do crédito fácil, oferecido pelo cheque especial, deve ser a sua última opção — opinião que é consenso entre os especialistas da área. Pelas taxas de juros cobradas dá para entender o motivo.