Marcio Fernandes, presidente da distribuidora de energia Elektro, e o executivo mais bem avaliado do país pelos funcionários (Marcelo Spatafora)
Da Redação
Publicado em 9 de outubro de 2014 às 18h07.
Filho de um operário metalúrgico e de uma cabeleireira, o administrador de empresas Marcio Fernandes, de 39 anos, teve seu primeiro emprego aos 12 anos como auxiliar de oficina mecânica. Aos 13, conseguiu uma vaga numa filial da rede de lojas Pernambucanas, em Campinas, no interior de São Paulo. Fazia entregas, arrumava a loja e empacotava mercadorias. Foi o mais jovem vendedor da rede varejista, conseguiu juntar dinheiro para fazer faculdade e iniciou a carreira na contabilidade de uma fabricante de autopeças.
Entrou na Elektro, distribuidora de energia com sede em Campinas, em agosto de 2004, como gerente de controladoria e finanças. Foi indicado à presidência da companhia em 2011. Ao assumir, resolveu adotar a filosofia de que “felicidade gera resultado”. Duas vezes ao ano ele e seus diretores se dividem para ir aos 228 municípios da área de concessão para um bate-papo com os empregados da empresa.
A liderança baseada em uma maior participação dos funcionários vem rendendo resultados. No Guia VOCÊ S/A As Melhores Empresas para Você Trabalhar 2014, a Elektro recebeu a maior da nota da história da pesquisa, publicada desde 1997. Em uma escala de zero a 100, em que o maior número corresponde à plena satisfação dos funcionários, a gestão de Fernandes recebeu nota 98,26 na avaliação dos 3 700 empregados. “Tive de me despir um pouco do ego de ser presidente, intocável e ir lá abraçar as pessoas e confiar nelas olhando no olho, e a diretoria também embarcou, e 200 líderes também embarcaram”, diz Marcio.
VOCÊ S/A - Você vem de uma família muito simples. Que exemplo sua carreira dá a outros profissionais?
Gosto de pensar que o brasileiro tem um poder inacreditável. Ele só precisa entender isso e aceitar que pode. Depois que ele aceita que pode, ele vence. Não tenha dúvida. Sou pacoteiro das Pernambucanas e venci. E por que eles não podem? Então a gente coloca nessas pessoas um pouco mais de confiança e elas voam altíssimo. A gente tem inúmeros eletricistas fazendo engenharia.Ontem estávamos na cidade de Iguape [litoral sul de São Paulo], que tem 20 000 habitantes, e aí uma pessoa perguntou ao eletricista: “Mas você já está estudando curso técnico?”, ele falou: “Não, eu estou fazendo engenharia de produção”. A gente tem um número enorme de eletricistas fazendo engenharia, e eles querem entrar nos recrutamentos internos.
VOCÊ S/A - Como um líder conquista a confiança das pessoas?
É aí que entra a disciplina. Tem hora que mandar é muito fácil. Você tem que ter certeza que tem um time de líderes que entenderam e compraram esse grande propósito, que humaniza a relação com as pessoas, que permite a você conversar cotidianamente sobre assuntos de dentro e de fora da empresa. Aí você consegue ser realmente o facilitador dos propósitos que ela tem. Porque não existe só um propósito, aquele lá que está na pregado na parede. Cada pessoa tem os seus.
VOCÊ S/A - E foi fácil implantar essa gestão?
Não, eu acho que tive uma dose de confiança incrível. Chegava em casa e comentava com a minha esposa: “Eu não acredito que eles estão confiando tanto assim!” Mas as coisas vão acontecendo, as pessoas veem que é para valer e o engajamento começa a aumentar. Numa conversa que tive em setembro com funcionários de Registro [sul de São Paulo], eles contaram que foram cortar a energia da casa de uma cliente inadimplente. Chegaram lá e encontraram uma senhora pobre, viúva e com dificuldades financeiras. E contaram para mim que decidiram pegar as contas dela, fizeram uma coleta de dinheiro entre eles, pagaram a dívida e não cortaram energia. Aí a gente tem um prêmio aqui que chama Fiz a Diferença, que não vale dinheiro, vale um reconhecimento. A gente vai entregar a eles um prêmio desses porque é isso a filosofia.
VOCÊ S/A - Você se emociona com essas histórias?
Demais, demais! Essa energia é isso. A gente comete erros, mas a gente fica empenhado em acertar, sente a dor física quando fazemos alguma coisa errada, a gente busca acertar.
VOCÊ S/A - Qual você acha que foi o segredo para fazer dar certo?
Tive que ser genuíno, teve que ser de coração mesmo. Tive que me despir um pouco do ego de ser presidente, intocável, e ir lá abraçar as pessoas e confiar nelas olhando no olho, e a diretoria também embarcou, e 200 líderes também embarcaram! Então as pessoas quando embarcam, embarcam numa nau que já está todo mundo junto. Aí funciona. Aí a gente fica eficiente, fica lucrativo, a nossa qualidade aumenta, a segurança fica impecável, a gente passa a ser reconhecido.
Leia a reportagem completa na edição de outubro da VOCÊ S/A.