Jamie Davila, gerente da startup Ultranauts: ferramentas como o Zoom e o Slack para conectar funcionários e segue práticas para promover diversidade e inclusão de funcionários (Amanda Lucier/The New York Times)
Leo Branco
Publicado em 3 de novembro de 2020 às 09h39.
Última atualização em 3 de novembro de 2020 às 15h41.
De sua casa em Beaverton, no Oregon, Jamie Davila lidera uma equipe de oito engenheiros em sete estados americanos para a startup de tecnologia Ultranauts. Como milhões de outras pessoas durante esses tempos de trabalho de casa, ela conta com ferramentas de comunicação populares como o Zoom e o Slack.
Mas Davila e a Ultranauts também trabalham remotamente de maneiras diferentes da maioria das empresas. Seguem um conjunto distinto de políticas e práticas para promover a diversidade e a inclusão entre os colaboradores.
Todas as reuniões de vídeo têm legendagem, para os trabalhadores que preferem absorver as informações por meio de texto. As pautas de reunião são distribuídas com antecedência para que as pessoas que se sentem desconfortáveis em falar possam contribuir por escrito de antemão.
Os funcionários fornecem feedback diariamente – por exemplo, se acreditam que seus pontos fortes estão sendo valorizados ou se eles se sentem solitários no trabalho. "A ideia é criar um espaço seguro que permita que todos sejam ouvidos", disse Davila, de 36 anos.
A Ultranauts trabalha há anos com os desafios enfrentados por tantas empresas durante a pandemia, e provavelmente vai além: como trabalhar a distância de modo eficiente, buscar metas de diversidade e inclusão, e construir uma forte cultura organizacional.
A empresa, fundada em 2013 por dois ex-colegas de quarto do Instituto de Tecnologia de Massachusetts, tem sua força de trabalho remota desde o primeiro dia. Também foi fundada visando à utilização do talento inexplorado dos autistas, que muitas vezes pensam e processam informações de forma diferente do resto da população. Setenta e cinco por cento dos funcionários da Ultranauts estão no espectro do autismo.
Assim, a pequena startup pode oferecer lições às empresas sobre como contratar, gerenciar e motivar funcionários a distância, cujo trabalho e cuja carreira podem sofrer sem a presença física e as conversas no corredor da vida no escritório.
"A construção proposital da Ultranauts de um local de trabalho que realmente apoia as pessoas é extraordinária. Suas técnicas e ferramentas poderiam ser aplicadas de forma mais ampla", comemorou Susanne Bruyere, diretora acadêmica do Instituto Yang-Tan sobre Emprego e Deficiência da Universidade Cornell.
Os clientes da startup incluem grandes empresas como a AIG, a BNY Mellon e a Cigna. Começou com testes manuais de qualidade de sites e aplicativos, mas foi constantemente progredindo para trabalhos mais avançados, como engenharia de qualidade de dados, análise de dados e testes automatizados de software.
Quando a pandemia chegou, a Ultranauts, que tem sede em Nova York, perdeu negócios porque dois grandes clientes fizeram cortes para economizar dinheiro. Rapidamente, porém, obteve novos trabalhos de empresas que estão acelerando projetos digitais, apesar da crise. Agora, tem 90 funcionários, contra 60 de um ano atrás. Sua meta é chegar a 200 em dois anos.
A Ultranauts é apoiada por investidores de impacto social – que buscam retornos financeiros, mas não necessariamente significativos –, incluindo o Fundo de Oportunidade para Deficientes, a SustainVC, a Wasabi Ventures e a Moai Capital. Eles investiram US$ 5,7 milhões até agora.
A empresa insiste que sua força de trabalho é uma vantagem competitiva, que não advém tanto do fato de que a mente dos autistas se casa bem com tarefas de computação, mas sim do fato de que as pessoas no espectro são um grupo diversificado.
Um deles pode reconhecer padrões rapidamente, enquanto outro tem um estilo cognitivo mais comedido, mas chega a padrões e a maneiras diferentes de corrigir códigos. A chave está em aproveitar os talentos variados das equipes.
As reuniões são gravadas, transcritas e arquivadas não apenas para acomodar os funcionários que preferem ler a ouvir, mas também para promover uma organização mais aberta. Isso se estende às reuniões semanais da equipe de liderança de seis pessoas na Ultranauts. As notas dessas sessões, incluindo as decisões tomadas e as razões por trás delas, são publicadas no canal Slack da empresa.
"É muito mais transparência com a qual a maioria das pessoas nos negócios se sente confortável", disse Art Shectman, cofundador e presidente da empresa.
Seus líderes acreditam que o estilo de comunicação aberta e explícita – todas as regras são escritas – poderia beneficiar qualquer empresa. A Ultranauts liberou um de seus softwares mais valorizados, o Biodex, como parte de um teste para ver quão amplamente suas ferramentas e práticas podem se enraizar no mundo corporativo.
Cada funcionário da Ultranauts tem um perfil no Biodex que define suas preferências de trabalho, de comunicação e de feedback. Qual é seu tempo habitual de resposta às mensagens: alguns minutos, algumas horas, no mesmo dia? Se um colega tem críticas construtivas, como você deseja receber o feedback: oralmente ou por escrito?
Todas as manhãs, a Biodex envia uma mensagem automática com duas perguntas: Quão "interativo" – pronto para se comunicar com os outros – você está se sentindo hoje? Qual é seu nível de energia hoje? Os trabalhadores respondem em uma escala de um a dez.
Rajesh Anandan, cofundador e executivo-chefe da Ultranauts, descreve o Biodex como "um guia rápido de como trabalhar com uma pessoa".
A Ultranauts está permitindo que equipes em cerca de uma dúzia de organizações, de grandes corporações a startups, experimentem uma versão de teste do Biodex. Se o teste com pessoas de fora correr bem, a Ultranauts planeja disponibilizar o Biodex gratuitamente na loja de aplicativos do Slack até o fim do ano. Outros de seus aplicativos, como seu programa de pesquisa de sentimento e bem-estar dos trabalhadores, viriam a seguir.
"Desenvolvemos um processo que garante oportunidades para pessoas que nunca tiveram uma chance justa antes. Mas, se fizermos isso só para nós mesmos, o impacto não será muito grande", afirmou Anandan.
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