Escritório do Google em Irvine, na Califórnia (Mike Blake/Reuters)
Claudia Gasparini
Publicado em 3 de setembro de 2017 às 06h00.
Última atualização em 3 de setembro de 2017 às 06h01.
São Paulo — Angela Taylor nasceu e cresceu numa cidadezinha no interior do Arkansas, na região sul dos Estados Unidos. Distante do universo da tecnologia, ela nunca tinha ouvido falar em engenharia de software. Tudo mudou quando ela se mudou para a Califórnia para estagiar no Google.
Formada em comunicação, a jovem estagiária acabou sendo efetivada na equipe de recursos humanos da multinacional. Em 2017, porém, ela se tornou engenheira de software da divisão de mapeamento do Google — mesmo sem ter nenhum diploma na área.
O pontapé inicial dessa inusitada mudança de carreira, conta Taylor ao site Business Insider, aconteceu em junho de 2011, quando a equipe de RH da empresa estava trabalhando em uma planilha que começou a apresentar problemas técnicos.
É claro que o Google tinha muitos engenheiros que poderiam ajudar, mas o time estava sobrecarregado com outras tarefas e não conseguia encontrar tempo para a demanda do outro departamento. Diante do impasse, Taylor tomou a iniciativa de estudar um pouco de programação para tentar consertar a planilha.
Durante um longo voo para a China, a analista de RH decidiu aprender por conta própria sobre uma linguagem de programação chamada Visual Basic. As horas de viagem foram suficientes para que ela descobrisse um universo completamente desconhecido até então, e apaixonasse por ele.
Ao voltar para os Estados Unidos, Taylor assumiu definitivamente a intenção de ser autodidata em programação. Fez cursos online em plataformas como Udacity e Code Academy e se ofereceu para fazer pequenos projetos de TI para seu time de RH.
Ao longo dos dois anos seguintes, ela fez algumas aulas avulsas de computação em faculdades e universidades, mas sem se matricular em um curso formal na área. Ela também começou a participar de desafios e maratonas de programação dentro da empresa, até o dia em que se ofereceu como voluntária do núcleo GEO, ligado aos produtos de localização geográfica do Google.
“Depois de seis meses, o líder de tecnologia disse: ‘Você é muito boa. Por que não entra para nossa equipe em tempo integral?’”, conta a ex-analista de RH, que recebeu o convite de ocupar um cargo inicial no departamento de engenharia de software da empresa. “Aos meus olhos, foi uma promoção”.
A história é duplamente atípica. Primeiro porque não é tão simples mudar de área dentro do Google. Em segundo lugar, porque engenheiros de software do Vale do Silício são, em sua maioria, homens e brancos. Além de mulher, Taylor é negra.
A seu favor havia o fato de que a equipe do GEO já era bastante heterogênea: dos cinco engenheiros que compunham o time antes da sua chegada, duas já eram mulheres. Além disso, nem todos eram norte-americanos.
Representante de uma minoria dentro de um universo tradicionalmente pouco diverso, ela diz que contou com apoio de mentores inclusivos, que ajudaram a superar as angústias do processo. Seu conselho para outras pessoas que sonham com histórias parecidas é procurar apoio. “Não dá para fazer isso sozinha”, explica. “Busquem se unir e se apoiem uns aos outros”.