Amizades: "Há uma tendência em negligenciar um dos aspectos mais importantes do nosso bem-estar, que é a nossa conexão com as pessoas" (shironosov/Thinkstock)
Da Redação
Publicado em 3 de agosto de 2017 às 19h05.
Para muitos que trilham carreiras ambiciosas, as longas horas de trabalho e talvez uma ou outra transferência de cidades, são a pura realidade. E, muito embora possam ser boas escolhas, diz Neal Roese, professor de marketing na Kellogg School, lembre-se que, se suas amizades mais próximas acabam morrendo em decorrência da sua agenda cheia, com o passar do tempo, é bem provável que você se arrependa.
Roese é um dos principais especialistas na ciência do arrependimento, como evitá-lo e como usá-lo para fazer escolhas que lhe proporcionem satisfação a longo prazo.
"Há uma tendência em negligenciar um dos aspectos mais importantes do nosso bem-estar, que é a nossa conexão com as pessoas", diz Roese, autor do livro If Only. "Estamos descobrindo que as pessoas frequentemente se arrependem por perder essas conexões pessoais".
As relações não românticas são especialmente suscetíveis à negligência benigna. “Todos entendemos que precisamos investir em nosso relacionamento com nosso cônjuge ou parceiro/a", diz Roese. “O que não é tão óbvio é que manter amizades íntimas também exige empenho, e que este é um esforço que vale a pena".
Assim, o que até mesmo a pessoa mais ocupada poderia fazer para manter os amigos próximos e a vida o mais livre possível de arrependimentos? Roese oferece algumas estratégias com base em pesquisas.
Todos desejamos segurança, propósito, romance, parceria e trabalho gratificante. No entanto, quando esses impulsos colidem (o impulso de procurar um trabalho gratificante em contrapartida com, por exemplo, o desejo de ficar conectado às pessoas que já estão à nossa volta) nem sempre escolhemos aquilo que de fato nos tornaria mais felizes.
“As pessoas não são necessariamente hábeis em prever suas próprias reações emocionais frente aos resultados das suas escolhas", diz Roese. "No entanto, ao fazer uma retrospectiva, conseguem ver o que era mais importante para elas".
E o que é mais importante? Embora muitos profissionais tenham arrependimentos relacionados com a carreira e a formação, a própria pesquisa de Roese descobre que alguns dos nossos arrependimentos mais intensos têm a ver com a perda de contato com os amigos.
Para Roese, isso significa que as pessoas devam se esforçar mais para manter seus relacionamentos mais significativos, e não simplesmente curtir fotos de férias de alguém no Facebook. “O que vemos é uma ansiedade por uma conexão íntima", diz ele.
“Na era das redes sociais, podemos chamar muitas pessoas de amigos, mas o que as pessoas sentem falta - quando perdem - é de um amigo próximo o suficiente para compartilhar detalhes da vida íntima. Isso é comum com as amizades que eram importantes para pessoas de vinte e poucos anos e que ficam ignoradas na casa dos quarenta ou cinquenta anos. As pessoas na casa dos vinte anos talvez não percebam quantas forças da vida as afastarão de seus amigos à medida que envelhecem".
Uma das maneiras mais simples de preservar uma amizade de valor é fazer questão de mantê-la em sua agenda.
"À medida que as pessoas começam a ficar presas no trabalho e na vida em família, a primeira coisa que devem fazer é programar a cervejada semanal ou mensal que costumava fazer com seu amigo", diz Roese.
Isso tende a ser especialmente complicado para os homens. Há uma diferença interessante entre gêneros na literatura acadêmica a respeito de como as pessoas mantêm as amizades, explica Roese. As mulheres se saem melhor ao preservar conexões individuais, conhecidas como díades (pelos psicólogos sociais em geral).
"As conexões diádicas são uma especialidade feminina", diz Roese, "enquanto os homens tendem a se sair bem em formar pequenos grupos, como equipes esportivas. Os homens precisam de um impulso extra para dedicar tempo para amizades individuais".
No entanto, preservar as amizades não significa necessariamente limitar a própria ambição ou se recusar a buscar oportunidades que possam prejudicar o senso de comunidade. Na verdade, a literatura sobre o arrependimento sugere que os tomadores de risco são recompensados com maiores sentimentos de satisfação.
“Há uma infinidade de pesquisas mostrando que, quando temos uma oportunidade e a aproveitamos, temos menos propensidade a nos sentir arrependidos, porque nos saímos bem em nos reconciliar com o desenrolar dos fatos. No entanto, quando não aproveitamos as oportunidades, as possibilidades não concretizadas continuam nos seguindo".
Em um estudo realizado pela professora da Kellogg Victoria Medvec, por exemplo, 83% dos entrevistados indicaram algo que não fizeram como a ação individual de que mais se arrependeram na vida.
Portanto, certamente vale a pena aproveitar as oportunidades que aparecem, mesmo que elas façam você trilhar um caminho ligeiramente itinerante. A chave é encontrar maneiras de criar conexões pessoais onde quer que esteja e preservar as que você mais preza.
Roese recomenda olhar para além dos colegas de trabalho e amigos. "Se houver uma maneira de mudar para uma nova cidade e fazer amigos fora da sua área de trabalho, isso pode ser mais enriquecedor, em parte porque, se algo está indo mal no trabalho, você tem alguém mais atento para ouvi-lo. Você pode compartilhar detalhes íntimos sem se abrir demais".
“É aqui que as redes sociais realmente podem ajudar, pois nunca foi mais fácil se conectar com pessoas que compartilham os interesses e passatempos", diz Roese.
Roese também dá conselhos sobre como confiar nas amizades íntimas que conseguimos manter. Além da conexão, ele diz, as amizades íntimas oferecem uma perspectiva muito necessária. À medida que refletimos sobre nossas vidas e nossas realizações, nossos amigos muitas vezes podem ver mais claramente que nós quando nos tornarmos bem-sucedidos.
"Nem sempre fazemos isso muito bem", diz Roese. “Muitas vezes, imediatamente imaginamos o ideal, o que seria o melhor resultado possível. Mas paramos nesse ponto. Não dedicamos tempo para parabenizarmos a nós mesmos e nos sentirmos um pouco melhores a respeito de tudo de bom que realizamos".
Um exemplo clássico disso vem de outro estudo de Victorica Medvec. Em um artigo publicado após os Jogos Olímpicos de 1992, ela e seus coautores avaliaram fotos de atletas no pódio e descobriram que os medalhistas de bronze expressavam emoções mais positivas do que os medalhistas de prata.
“O medalhista de bronze se compara com seus pares inferiores e vê o quanto foi arriscado acabar sem medalha alguma, o que os fez dar mais valor ao que eles conseguiram", diz Roese. "O medalhista de prata olha para cima e vê a perda do ouro, e por isso se sente um pouco pior por não ter conseguido o resultado ideal. ”
Ao refletir sobre nosso passado e tomar decisões sobre o futuro, usar amigos íntimos como câmaras de ressonância sinceras pode nos impedir de fazer escolhas com as quais nos arrependeremos depois.
E para aqueles que se afastam dos amigos, nunca é tarde demais para entrar em contato. Uma das ideias centrais de Roese é que o arrependimento não é simplesmente uma maneira de se torturar numa noite de insônia. Também pode ser uma oportunidade para mudar certos comportamentos de forma razoável e direcionada.
“O arrependimento é doloroso", diz ele, "por isso, muitas vezes nossa reação imediata é ignorá-lo. Mas você também pode ouvir o sinal que está dentro desse arrependimento, e o sinal pode representar uma lição ou uma semente útil da verdade se você decidir abrir o seu coração e aceitar a realidade. Sempre há tempo para mudar seu comportamento".
Texto publicado com a permissão da Northwestern University (em representação da Kellogg School of Management). Publicado originalmente no Kellogg Insight.