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Como saber se o "brain rot" está atrapalhando a sua carreira?

A expressão "brain rot" ou “cérebro podre” foi eleita a palavra do ano pela Universidade de Oxford. O termo pode estar mais presente na sua rotina do que você imagina. Veja os sintomas e como evitar seus impactos

O termo "brain rot" descreve o impacto do consumo desordenado de informações rápidas e de baixo valor, que reduz a capacidade de atenção e pensamento crítico  (Deagreez/Getty Images)

O termo "brain rot" descreve o impacto do consumo desordenado de informações rápidas e de baixo valor, que reduz a capacidade de atenção e pensamento crítico (Deagreez/Getty Images)

Publicado em 16 de janeiro de 2025 às 09h25.

Última atualização em 16 de janeiro de 2025 às 09h34.

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Em 2024, a expressão “brain rot”, ou “cérebro podre”, foi eleita a palavra do ano pela Universidade de Oxford. Enquanto isso, no Brasil, ansiedade foi o termo escolhido por 22% dos brasileiros para descrever o estado mental predominante, segundo o Instituto de Pesquisa Ideia.

No Janeiro Branco, mês dedicado à conscientização sobre saúde mental, surge uma reflexão necessária: qual é o impacto desses fenômenos no mercado de trabalho? Por que estamos ficando sobrecarregados mentalmente?

O Brasil frequentemente aparece entre os países que lideram rankings globais de tempo gasto em redes sociais. Segundo relatórios como o Digital 2023 Global Overview Report, elaborado pela We Are Social e Hootsuite. “Esse comportamento de hiperconexão e alta exposição a conteúdos superficiais acarreta uma sensação de sobrecarga mental, além de gerar desafios para a manutenção do foco”, afirma Fabiana Abath, psicóloga da carreira, torna-se ainda mais prejudicial no ambiente profissional, onde essas competências são cruciais.

A influência do “brain rot” na vida profissional

O termo “brain rot” descreve o impacto do consumo desordenado de informações rápidas e superficiais, que reduz habilidades essenciais como atenção, pensamento crítico e tomada de decisão. Esse comportamento, segundo a psicóloga Abath, torna-se ainda mais prejudicial no ambiente profissional, onde essas competências são cruciais.

“A exposição constante a conteúdo fragmentado e de fácil consumo pode enfraquecer o pensamento crítico, já que o cérebro se acostuma a analisar informações de forma passiva, sem questionamento ou análise profunda. Isso pode levar à perda da habilidade de avaliar dados, criar soluções inovadoras e ideias articuladas com clareza, competências essenciais no ambiente corporativo”, afirma Abath, que tem mais de 10 anos de experiência em ajudar profissionais a encontrar equilíbrio entre vida pessoal e trabalho.

Entre os possíveis impactos no trabalho a psicóloga destaca:

  • Diminuição da capacidade de concentração prolongada: Isso se observa em colaboradores que têm dificuldade em concluir projetos de longo prazo, revisar documentos técnicos ou participar de reuniões estratégicas sem se distrair.
  • Comprometimento do pensamento crítico: Impactando na capacidade de analisar informações de forma profunda. Questionar suposições, interpretar dados e avaliar argumentos complexos.
  • Sensação de sobrecarga cognitiva e fadiga mental: O "bombardeio" constante de informações superficiais leva à sobrecarga cognitiva, um estado em que a pessoa tem dificuldade de processar e priorizar o que é importante.

“Profissionais em busca de recolocação enfrentam desafios ainda maiores nesse cenário. “O consumo constante de informações superficiais dificulta a preparação para entrevistas e a absorção de novos conhecimentos, indispensáveis para uma transição de carreira bem-sucedida”, diz a psicóloga. “Essa falta de concentração pode impactar diretamente a confiança e a capacidade de se destacar em um mercado cada vez mais competitivo”.

Ansiedade: o efeito colateral do excesso de informações

O consumo contínuo de conteúdos rápidos e irrelevantes também está relacionado a um aumento significativo nos níveis de ansiedade no trabalho. A sobrecarga mental provocada por essa exposição torna difícil priorizar tarefas e tomar decisões, gerando uma constante sensação de estar “atrasado” ou “desconectado”.

“A dificuldade de foco cria frustração e insegurança no trabalho, enquanto a comparação constante com padrões irreais de sucesso exibidos nas redes sociais amplifica a sensação de insuficiência, provocando então ansiedade”, afirma Abath.

Como proteger o intelecto?

Para evitar ser impactado pelo “brain rot”, Abath recomenda que funcionários e lídres apostem em estratégias práticas, como:

  • Limitar o consumo de informações superficiais,
  • Priorizar atividades que promovam o foco, como leitura e mindfulness,
  • Organizar prioridades com listas de tarefas para reduzir a sobrecarga.

O ideal é fazer pausas para desconexão ao longo do dia, afirma Abath. “Por exemplo, quando estiver em uma reunião, esteja presente de verdade e deixe o celular no modo não perturbe”.

“Também é importante buscar equilíbrio por meio de exercícios físicos e momentos de lazer, mas se ainda assim não der jeito, procure ajuda profissional”, diz Abath.

Janeiro Branco: uma reflexão de todos – inclusive das empresas

O “Janeiro Branco”, de acordo com Abath, serve como oportunidade para refletir que saúde mental não deve ser uma preocupação apenas individual, mas um compromisso também das empresas. “É indispensável que as organizações assumam responsabilidade frente a essa realidade”, afirma.

A prova disso é a última atualização da NR-1 que trouxe como novidade o foco na saúde mental dos trabalhadores, diz Abath. “A partir de agora, as empresas precisam gerenciar os riscos psicossociais, que podem levar a problemas como: estresse, ansiedade, burn out, e depressão. Para isso, precisarão se adequar implementando ações para identificação de riscos, prevenção e suporte”, afirma a psicóloga em referência à atualização que entrará em vigor em maio de 2025.

Ações das empresas a favor da saúde mental

Empresas ao redor do mundo têm implementado iniciativas inovadoras para promover a saúde mental de seus funcionários, enfrentando desafios como ansiedade e o impacto do "brain rot". “Essas ações incluem programas de bem-estar, horários flexíveis, dias de desintoxicação digital e treinamentos voltados para atenção plena”, afirma Joaquim Santini, pesquisador internacional.

Um exemplo é o Google, que oferece o programa Search Inside Yourself, focado em mindfulness. “A iniciativa ajuda os funcionários a gerenciar o estresse, melhorar a concentração e fortalecer a resiliência emocional”, diz Santini.  Já a Unilever adotou o Wellbeing Hub, uma plataforma com recursos que incluem aplicativos de meditação e sessões de terapia subsidiadas, visando cuidar tanto da saúde mental quanto da saúde física de seus colaboradores, conta o pesquisador.

Na Patagonia, o bem-estar é promovido por meio de pausas regulares para atividades ao ar livre, incentivando os funcionários a se reconectarem com a natureza. “Além disso, a empresa oferece horários de trabalho flexíveis, permitindo que compromissos pessoais e familiares sejam conciliados com a rotina profissional”, diz Santini.

O impacto no cérebro  

“Gente é gente, robô é robô”, afirma Andrea Deis, especialista em carreira e neurociência há mais de 20 anos e professora autônoma da FGV, Mackenzie, FIA e Dom Cabral na área de gestão de pessoas, administração e negócios. Para ela, as sinapses, que são conexões entre neurônios, têm um papel crucial no desenvolvimento do cérebro. Quanto mais estimuladas, maior a capacidade de resolução de problemas, mas algo de ruim acontece quando o número de informações ultrapassa a capacidade humana.

 "Quando recebemos mais do que produzimos, há uma atrofia cerebral”.

Embora o impacto da tecnologia atinja todas as gerações, a intensidade varia de acordo com o tempo e o tipo de exposição. "Quando usamos a tecnologia apenas para facilitar e não para nos desenvolver, estamos minimizando a capacidade criativa do ser humano", afirma Andrea.

Ela destaca que o uso excessivo de dispositivos tecnológicos, sem passar pelo processo criativo e de tomada de decisões, pode comprometer áreas como o córtex frontal, fundamental para o raciocínio e a memorização.

Como usar a IA como aliada?

A utilização de Inteligência Artificial (IA) e de outras tecnologias pode ser uma grande aliada na promoção do bem-estar mental, desde que utilizada de forma consciente e estratégica, afirma Deis.

"Seria como decidir parar de usar o celular, abrir mão da geladeira ou da energia elétrica. Essas tecnologias chegaram para ficar, assim como a IA."

Ao invés de buscar apenas soluções prontas, a IA pode te propor problemas para resolver, estimulando o cérebro de forma criativa, diz Deis.

“A prática de mindfulness — ou atenção plena — é um exemplo de como a IA pode contribuir para a saúde mental. Existem aplicativos que utilizam IA para guiar a meditação e ajudar no desenvolvimento dessa habilidade."

Os sintomas do "brain rot": como identificar e agir

O termo "brain rot", embora popularizado em conversas casuais, carrega implicações sérias relacionadas à saúde mental. Ele remete a um processo de deterioração ou atrofia cerebral, muitas vezes associado a sobrecargas, estresse ou até mesmo condições mais graves de adoecimento mental. “É essencial compreender que o diagnóstico desse tipo de situação deve ser exclusivamente realizado por profissionais da saúde qualificados, como psicólogos ou psiquiatras”, afirma Deis.

Um líder, por exemplo, pode identificar dificuldades no comportamento ou desempenho de um funcionário, mas nunca deve rotular alguém de forma pejorativa, afirma Deis. “Classificar uma pessoa como tendo um "cérebro pobre" ou algo semelhante não apenas gera juízo de valor como também perpetua preconceitos, afetando ainda mais a autoestima de quem pode estar em sofrimento.”

Entre os principais sintomas do "brain rot, a neurocientista Deis destaca"

  • Esquecimento: dificuldade em reter informações ou lembrar tarefas simples do dia a dia.
  • Ansiedade: sensação constante de apreensão, muitas vezes acompanhada de aceleração cardíaca.
  • Impaciência: redução da tolerância a situações do cotidiano ou convivência social.
  • Isolamento social: tendência a evitar interações devido ao cansaço emocional.
  • Tremores: em casos extremos, manifestações físicas do estresse acumulado.

"Esses sinais estão diretamente relacionados ao alto nível de estresse", afirma a especialista. "São pessoas que enfrentam dificuldades em manter a paciência e em interagir socialmente, o que agrava ainda mais o quadro."

O que fazer diante desses sinais?

É fundamental lembrar que, em casos avançados, a pessoa afetada pode não conseguir sair dessa situação sem apoio especializado. O tratamento para condições como essa é baseado em acompanhamento psicológico e, quando necessário, psiquiátrico. “Apenas esses profissionais estão habilitados para avaliar o nível de comprometimento e recomendar o melhor curso de ação”, diz. “A saúde mental exige atenção, empatia e ação responsável de todos os envolvidos.”

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