Aquilo que que não deixa você dormir à noite é provavelmente o que guia como você toma decisões em momentos críticos (ra2studio/Getty Images)
Escola de Negócios
Publicado em 20 de maio de 2023 às 08h31.
Talvez o seu medo seja de doenças devastadoras ou acidentes inesperados. Ou medo de perder o emprego (ou trabalhar no mesmo monótono emprego para /a eternidade). Ou talvez seu maior medo seja não atender às suas próprias ambiciosas expectativas ou obrigações importantes.
Aquilo que que não deixa você dormir à noite é provavelmente o que guia como você toma decisões em momentos críticos.
Apresentamos abaixo alguns dos nossos estudos favoritos de autoria do corpo docente da Kellogg abordando esse tópico difícil—ou até mesmo aterrorizante.
Segundo a pesquisa da professora assistente de marketing da Kellogg, Chethana Achar, o medo de saber que contraímos uma doença grave nos impede de fazer mamografias ou usar outros tipos de ferramentas de diagnóstico. Afinal, ninguém quer ouvir más notícias.
Porém, se os profissionais de saúde conseguem detectar algum problema — que é algo assustador — porém se parece mais com a prevenção—o que não é tão assustador—podemos ficar mais dispostos a usar ferramentas de diagnóstico de doenças.
Em um estudo, Achar e suas colegas recrutaram mais de 400 mulheres on-line para ler a respeito de uma ferramenta gratuita, a Ferramenta de Avaliação de Risco de Câncer de Mama on-line, de autoria do Instituto Nacional do Câncer (BCRAT - Breast Cancer Risk Assessment Tool), que detecta o risco de se desenvolver câncer de mama.
Muitas pessoas ficam nervosas com as trajetórias de carreira—e seus salários —e nem mesmo os executivos escapam dessa preocupação.
Uma pesquisa do professor de finanças David Matsa e seu colega Todd Gormley descobre que, às vezes, os altos executivos evitam fazer investimentos arriscados, mas potencialmente recompensadores, que podem gerar maior lucro para os acionistas.
Por quê? Os executivos querem preservar a riqueza de seus pacotes de compensação ligados à empresa e também o brilho do sucesso que poderá os levar para o seu próximo emprego.
Os pesquisadores descobriram que as preocupações com a carreira levaram os executivos a fazer aquisições seguras e focadas na diversificação que não criava valor para os acionistas, inclusive o pagamento excessivo de “vacas leiteiras” com grandes lucros nada saudáveis, em vez de compras mais estratégicas.
Notou-se especificamente ser esse o caso para gerentes protegidos pelas leis estaduais contra a ameaça de aquisição hostil, dando-lhes maior flexibilidade para evitar correr riscos.
Condizente com a ideia de que os gerentes protegidos preferem não se arriscar, os pesquisadores descobriram que as empresas que fizeram a maior parte da aquisição focada na diversificação tenderam a correr maior risco de falhar.
Além disso, os gerentes tendiam a ter maiores participações acionárias nas empresas, colocando em risco um maior quinhão de suas finanças pessoais, e a ter menos de 55 anos de idade, com uma carreira mais longa pela frente.
Os executivos podem ter aversão ao risco, mas, na verdade, o mesmo acontece com todos nós: as pessoas têm um medo desproporcional de perder o que já têm.
Por exemplo, já foi bem documentado ficarmos muito mais infelizes por termos perdido dez dólares em comparação ao nível de felicidade que sentimos se ganharmos a mesma quantia.
Assim, por que as pessoas ainda se arriscam o tempo todo—fazendo coisas muito mais arriscadas do que uma simples aposta de dez dólares?
O professor de marketing Derek Rucker e seu colega David Gal têm uma teoria: a coragem pode ser um fator motivador importante. Ou seja, para muitas decisões importantes da vida, fazer uma escolha arriscada requer coragem, e a coragem, valorizada por quase todas as culturas, é algo que desejamos para nós também.
Na verdade, em vários estudos, os pesquisadores descobriram que o que motiva uma pessoa a ser corajosa pode levá-las a opções mais arriscadas— mas apenas na medida em que as opções permitem que ela se sinta realmente corajosa (por exemplo, quando aposta em algo que parecia ser relevante ou que muda completamente sua vida).
Por exemplo, as participantes que pensaram a respeito da coragem estavam mais propensas a escolher um tratamento médico arriscado, porém não se mostraram mais propensas a fazer uma aposta financeira trivial.
"Quando as pessoas enxergam uma oportunidade para serem corajosas, isso pode realmente levar a uma preferência pela opção mais arriscada", diz Rucker.
É claro que escolher um portfólio de investimentos geralmente não provoca medo. Porém, não poderíamos deixar de citar um estudo do professor de finanças Dimitris Papanikolaou que discorre como a ansiedade de desperdiçar a próxima grande oportunidade leva os investidores a pagar demais por startups com maior potencial transformador ou disruptivo.
"Um dos quebra-cabeças mais intenso em finanças é o fato de que as chamadas ‘ações de alta rentabilidade’ são tipicamente sobrevalorizadas em relação a alguma medida de fundamentos, e apresentam retornos muito baixos", diz Papanikolaou.
"Esse padrão ocorre há cerca de cem anos, desde o início da disponibilidade de dados provenientes do mercado de ações".
Papanikolaou e seus colegas criaram um modelo com uma suposição inovadora: embora a inovação seja geralmente um positivo econômico líquido, ela não traz benefícios para todos os participantes da economia de forma igualitária.
Ou seja, enquanto o inovador “vencedor” ficará muito rico, juntamente com quaisquer investidores de sorte o suficiente para escolher sua empresa, aqueles que não apostaram na empresa perderão feio.
O resultado do modelo se comparou bem com os dados econômicos reais do século passado, o que significa que a suposição sobre os medos dos investidores poderia estar correta.
“Se as pessoas têm medo de perder ou ficar para trás, elas verão o investimento em algo como um Tesla como uma forma de se proteger contra futuras interrupções e desigualdades”, explica ele, comparando o investimento em ações de alta rentabilidade como garantia para o bolso.
Algumas de nossas ansiedades mais profundas não são sobre coisas terríveis que porventura aconteçam conosco, mas sim sobre nossa própria capacidade de lidar com nossas diversas obrigações e aspirações.
Pense em pais que trabalham. Um estudo realizado por Cynthia Wang, professora clínica de administração e organizações, descobriu que os pais que trabalham são profundamente vulneráveis a temores de que não se concentram o suficiente na criação dos filhos.
Esses medos podem ser desencadeados por conflitos de agenda, comentários indelicados ou a percepção de que deixam a desejar na vida pessoal, em família.
“Os pais estão sempre se questionando se são bons pais ou mães, e há muita pressão social sobre a maneira ‘certa’ de ser pai ou mãe. Essas pressões nos sobrecarregam tanto que a vergonha se torna a emoção predominante”, diz Wang.
Wang e seus colegas pediram para alguns pais que trabalham ler pesquisas (fictícias) sugerindo que os pais que trabalham estão menos envolvidos na vida de seus filhos em comparação aos pais que não trabalham; o outro grupo leu outras pesquisas (também fictícias) sugerindo que os pais que trabalham estavam tão envolvidos na criação dos filhos quanto os que não trabalham.
Aqueles que leram resultados que ameaçavam suas identidades como pais que trabalham, sugerindo que estarem menos envolvidos nesse aspecto de suas vidas relataram sentir níveis mais altos de vergonha e níveis mais baixos de produtividade no trabalho.
No entanto, um estudo afim também revelou que os pais que sentiram mais vergonha da ameaça da identidade como pais também investiram mais energia no papel de pai/mãe. Em suma, “compensamos a vergonha que estamos sentindo passando mais tempo de qualidade com nossos filhos”, explica Wang.
“Não se imagina que a compra de biscoito Oreo tradicional é uma maneira de trazer controle para nossa vida, mas aparentemente é assim que as pessoas se comportam”, diz o professor de marketing Gregory Carpenter. Leia mais aqui.