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Como é possível sair do RH e se tornar CEO? Com a palavra, a presidente da Zeiss Vision Brasil

Há 7 meses, a companhia alemã de lentes oftálmicas conta com Gabriele Carlos na cadeira de presidente. Entre conquistas e desafios, conheça as iniciativas da CEO que busca focar em gente para ter o resultado

Gabriele Carlos, CEO da Zeiss Brasil: "Nosso propósito é claro: ajudar as pessoas a verem o mundo de uma forma melhor, não apenas pelo produto, mas pelo impacto que criamos no mercado e na vida dos nossos funcionários" (JBS Brasil /Divulgação)

Gabriele Carlos, CEO da Zeiss Brasil: "Nosso propósito é claro: ajudar as pessoas a verem o mundo de uma forma melhor, não apenas pelo produto, mas pelo impacto que criamos no mercado e na vida dos nossos funcionários" (JBS Brasil /Divulgação)

Publicado em 1 de dezembro de 2024 às 08h01.

Última atualização em 1 de dezembro de 2024 às 11h57.

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“Use o conhecimento para fazer a diferença na vida das pessoas”. Esse é o lema que Gabriele Carlos ouviu em sua formatura de psicologia e leva para a vida, inclusive quando decidiu sair da diretoria de RH para ser CEO da Zeiss Brasil, multinacional alemã de alta tecnologia com 178 anos de história na produção de lentes ópticas

“Nunca sonhei em ser CEO, mas entendi que essa posição me oferece a oportunidade de mostrar que é possível. A responsabilidade é grande, mas também é um chamado para fazer mais e melhor todos os dias”, diz Gabriele.

Desde a infância, Gabriele foi influenciada pelos valores de garra e educação de seus pais nordestinos, o que a levou a uma carreira focada no desenvolvimento humano e organizacional. "Ajudava no salão de beleza da minha mãe desde os 9 anos, o que me ensinou a lidar com pessoas e suas necessidades. Isso moldou minha visão de mundo", conta.

Com mais de 20 anos de experiência em Recursos Humanos, Gabriele atuou em setores como siderurgia, telecomunicações e varejo, passando por desafios que foram fundamentais para sua trajetória. “Sempre fui generalista, com foco no negócio. Quando o convite para ser CEO surgiu, percebi que era a oportunidade de aplicar minha experiência estratégica em algo maior”, afirma.

Com o sonho de se tornar conselheira, ela viu o cargo de CEO como um desafio para colocar em prática o princípio que aprendeu no dia da formatura. "Eu sei que eu não posso mudar o mundo, mas posso mobilizar mudanças no mundo daqueles com quem eu me relaciono”, afirma a CEO. 

A transformação na Zeiss

Antes de assumir como CEO, Gabriele liderava iniciativas de cultura organizacional e engajamento como diretora de RH da Zeiss. "Nosso foco era consolidar processos e políticas que conectassem as pessoas ao propósito estratégico da empresa. Ao engajar nossos funcionários, aumentamos a produtividade e melhoramos os resultados financeiros", afirma.

Essa experiência no RH da Zeiss Vision, que começou em 2015, foi importante quando surgiu o convite este ano para liderar a empresa no Brasil. "Perguntei ao meu gestor por que eu havia sido escolhida, e ele destacou minha capacidade de relacionamento, inteligência emocional e profundo conhecimento da indústria. Isso me motivou a aceitar o desafio," diz a executiva que está como CEO há sete meses.

Inovação e inclusão no centro

Desde que assumiu, Gabriele implementou mudanças no board da empresa, alcançando a paridade de gênero com 50% de mulheres. "Foi uma mensagem importante para a organização, mostrando que diversidade também é uma estratégia de negócio", afirma.

Liderar um time renovado foi outra estratégica da nova CEO, que trouxe talentos de diferentes setores. "Nosso objetivo é ousar e construir um futuro mais dinâmico, honrando o passado, mas com inovação, inclusive do time."

Para trazer uma abordagem disruptiva ao mercado tradicional da Zeiss, Gabriele apostou em profissionais de diferentes setores. "Normalmente, trazemos pessoas com experiência consolidada no setor, mas decidimos fazer diferente. Para cumprir nosso propósito de ajudar as pessoas a verem o mundo melhor, era preciso pensar fora da caixa."

Do RH ao topo

A transição de Gabriele para CEO também representa uma quebra de paradigma. "Nunca tivemos alguém de RH assumindo essa posição. Foi desafiador me reposicionar para o time e a organização, mas acredito que, ao mostrar resultados e liderar com autenticidade, conseguimos construir um novo lugar juntos."

Nesses primeiros meses Gabriele reforça que o desafio é constante. "Estamos consolidando cultura, entendimento de negócio e construindo um time coeso. Tudo isso com a ousadia de quem quer transformar não só uma empresa, mas também o setor de saúde no Brasil."

Para líderes em ascensão, Gabrielle deixa uma mensagem: "O caminho para o topo exige conhecimento técnico, inteligência emocional e, acima de tudo, coragem para pensar diferente. É isso que nos permite deixar um legado," afirma a CEO.

A pergunta que não cala: o que falta para o CHRO virar CEO?

A resposta vai além de competências técnicas, segundo Gabriele: “Digo que há muitas pessoas capacitadas em RH para assumir uma posição de CEO, por conta da sensibilidade com gente, da capacidade de conexão e da inteligência emocional.”

Desenvolver uma visão de negócio, aliada a uma abordagem centrada em pessoas, é essencial para qualquer profissional que deseja ocupar a cadeira de CEO, diz Gabriele. Ela também enfatiza que o RH precisa ser mais estratégico e capaz de “sentar à mesa” nas discussões organizacionais.

“Isso significa entender a linguagem do negócio e aplicar soluções que façam sentido no contexto empresarial. Se eu estou discutindo financeiro, trago o impacto real: turnover X gera custo Y. Isso não é aspiracional, é concreto, é baseado em dados, e faz sentido para qualquer negócio".

Desafios e aprendizados como CEO

Após 7 meses à frente da Zeiss, Gabriele já compartilha os desafios da liderança. “Tem uma fala que ouvi e que faz sentido hoje: 'A primeira coisa que muda é que você sai do grupo de WhatsApp dos pares. Na verdade, eles já criaram um novo sem você.'

Para ela, a solidão da liderança é real, mas pode ser atenuada com apoio, networking e um time comprometido. Para reverter esse cenário, ela destaca a importância de se cercar de aliados – tanto na esfera pessoal quanto profissional – e de manter uma agenda disciplinada para preservar o equilíbrio mental e físico:

“Preciso me cuidar para conseguir cuidar dos outros e da empresa”, diz a CEO.

Um derrame aos 30 anos trouxe à Gabriele essa consciência do equilíbrio entre a vida profissional e particular. Para ela, a experiência serviu como um divisor de águas, trazendo ainda mais clareza sobre o valor das escolhas, o cuidado com o bem-estar e a necessidade de equilibrar demandas. “Essa vivência também reforçou o meu propósito de liderar com empatia e de cuidar de mim e das pessoas ao meu redor.”

Uma estratégia que ela adotou logo que chegou à cadeira de CEO foi criar uma agenda de onboarding com todos os executivos da organização, ouvindo suas percepções e conselhos.

“Perguntei ‘se você estivesse na minha cadeira hoje, o que faria?’ Essa capacidade de escuta é essencial para construir uma liderança compartilhada.”

O papel do CEO: o maestro da orquestra corporativa

A função de CEO, para Gabriele, é como se fosse um maestro de uma orquestra. “No final do dia, o que o CEO faz? Ele cuida de pessoas, cultura e resultados. Ele não faz nada sozinho; quem faz são as pessoas”, diz.

“O papel do CEO é 'orquestrar' o momento certo de cada instrumento para que a sinfonia seja harmônica.”

Essa abordagem reflete uma liderança baseada na humildade e confiança. “É crucial acreditar no time que você ajudou a construir. Sem confiança, você se perde na paranoia e na solidão do poder.”

Benefícios do RH que são validados pela CEO

Para ajudar o time a ser mais produtivo e engajado com a companhia, Gabriele destaca alguns benefícios, que vão além do vale-transporte e do vale-refeição.

Um dos benefícios exclusivos oferecidos pela Zeiss é o acesso a lentes ópticas gratuitas para funcionários e seus dependentes, com direito a três lentes a cada dois anos. "Esse é um diferencial considerando o segmento em que atuamos. Nossos funcionários podem usufruir de lentes de alta tecnologia produzidas nos ZEISS Vision Centers, o que reflete nosso cuidado com a saúde visual da equipe e suas famílias", conta a CEO.

Além disso, a empresa implementou recentemente a previdência privada como parte dos benefícios, e o plano de saúde está em revisão para melhorias já no próximo ano. No longo prazo, a CEO afirma que o foco está em temas de sustentabilidade, como a adoção de um salário digno para os cargos operacionais.

"Queremos ir além das metas tradicionais de ESG. Estamos analisando formas de implementar essa prática em um período mais curto que o habitual, alinhado aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da ONU", afirma.

Outro tema prioritário é a igualdade salarial. Apesar de já contar com uma política que busca minimizar disparidades de gênero, a Zeiss trabalha para corrigir diferenças residuais oriundas de aquisições passadas. "Nosso equilíbrio é notável, com cerca de 50% de mulheres em cargos de liderança. No entanto, seguimos atentos para eliminar qualquer resquício de desigualdade", diz Gabriele.

Sobre a Zeiss Vision no Brasil e no mundo

Com a produção centralizada em Petrópolis (RJ) e presença comercial em todo o país, a Zeiss Vision Brasil ocupa uma posição de sétimo maior mercado global da companhia. No cenário internacional, o grupo faturou mais de 11 bilhões de euros no último ano, se consolidando em mais de 50 países.

"Nosso propósito é claro: ajudar as pessoas a verem o mundo de uma forma melhor, não apenas pelo produto, mas pelo impacto que criamos no mercado e na vida dos nossos funcionários", afirma a CEO.

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