Poliana Sousa, CEO da General Mills Brasil: “Os sonhos precisam causar um ‘frio na barriga’, indicando que é necessário sair da zona de conforto para alcançar grandes realizações” (General Mills/Divulgação)
Repórter
Publicado em 1 de outubro de 2024 às 15h35.
Última atualização em 3 de outubro de 2024 às 14h29.
"Se os seus sonhos não te assustam, eles não são grandes o suficiente”, afirma Poliana Sousa, que aos 49 anos se torna a primeira presidente mulher da General Mills Brasil, dona das marcas Yoki, Kitano e Häagen Dazs. Essa frase foi dita por Ellen Johnson Sirleaf, primeira mulher a se tornar presidente da Libéria, e se tornou uma reflexão constante para Sousa em sua trajetória profissional até o topo de uma multinacional.
Nascida em Goiás, mas criada em Cuiabá, Mato Grosso, por um músico e uma dona de casa, Poliana Sousa é a primeira de sua família a concluir o ensino superior. Sua trajetória é marcada pela busca de ampliar horizontes e conhecer o mundo desde jovem.
A educação sempre foi uma prioridade para seus pais, e foi por meio do estudo de inglês que Sousa descobriu a possibilidade de participar de um intercâmbio nos Estados Unidos.
“Minha mãe achava que seria algo impossível de realizar. Estudar em outro país ainda era uma realidade muito distante para a minha família na época”.
O sonho se tornou realidade em 1994 quando Sousa conseguiu uma bolsa de estudos 100% em uma universidade americana para estudar administração, mas para cobrir despesas como alimentação e lazer, trabalhou em empregos permitidos para estudantes, incluindo fast food e trabalho de garçonete em restaurantes. “Esse esforço foi fundamental para que eu conseguisse me sustentar e concluir meus estudos no exterior.”
Após estudar nos EUA, Sousa começou sua carreira na P&G, onde trabalhou por 20 anos, passando por diversas áreas até alcançar a tão desejada posição em marketing. Sua trajetória inclui passagens por gigantes como Coca-Cola e Unilever, até assumir, há um mês, o cargo de CEO da General Mills no Brasil.
"Não foi fácil. No início da minha carreira, eu muitas vezes era a única mulher na sala de reunião. Hoje, fico muito feliz ao ver o aumento da representatividade feminina nas empresas", afirma.
Chegar ao topo de uma empresa pode ser o sonho de muitos profissionais, mas não era o de Sousa. Quando começou sua carreira, seu objetivo era se tornar diretora de marketing, para ela era o auge de sua trajetória. Mas conforme foi alcançando novas posições e enfrentando desafios, Sousa percebeu que queria mais.
“Eu buscava sempre novos cargos não por ambição ou poder, mas porque eu me sentia motivada pelos desafios e pelo aprendizado constante.”
Cada nova etapa trouxe novas oportunidades, e o caminho de Sousa até a liderança foi acontecendo de forma natural.
“Obviamente que precisei ser uma pessoa muito resiliente e ter uma rede de apoio forte para tentar novos desafios”.A primeira pessoa a inspirar Sousa foi a própria mãe, mesmo sem ter conhecimento do mundo corporativo. “Minha mãe sempre enfatizou a importância de estudar para ser independente, o que me marcou profundamente desde jovem.”
No caminho Sousa encontrou muitos colegas de trabalho que a ajudaram a alcançar novos postos, mas tem uma que ela lembra com carinho, que hoje é a Juliana Azevedo, atual presidente global de Home Care e P&G Professional na P&G.
“Juliana foi minha chefe em diferentes momentos e me ensinou muito sobre resiliência. Ela sempre foi incansável e determinada, muito focada em alcançar seus objetivos”, diz Sousa que reforça que colegas no trabalho e bons líderes são cruciais para o desenvolvimento de qualquer profissional.
Outro fator que ajudou Sousa em ter uma carreia de sucesso foi a sorte de trabalhar em empresas que levam a sério a diversidade e a inclusão. “A General Mills, por exemplo, tem hoje 43% de mulheres em cargos de liderança. É algo que me orgulha muito. Não é só um número para o site da empresa, é uma realidade aqui", afirma.
Para conseguir alcançar o sucesso, Sousa afirma que é preciso ter clareza sobre as prioridades da vida, principalmente para as mulheres que desejam ser mães.
“Tomei a decisão consciente de que seu filho seria minha prioridade número um. Isso não significa que eu não valorize a minha carreira, mas que, em momentos cruciais, como decidir entre uma reunião de trabalho ou levar o filho ao médico, eu escolho a família sem culpa.”
Para quem deseja ter cargos cada vez maiores, Sousa lembra a importância de ser resiliente no processo.
"Além de ter clareza sobre suas prioridades e fazer escolhas que te façam feliz, outra lição que carrego comigo é a importância da resiliência. A jornada não é fácil, mas, com determinação, é possível chegar lá."Sobre a gestão de 3.500 funcionários no Brasil, Sousa compartilhou as oportunidades de crescimento no país. A categoria de farofa, por exemplo, cresceu 10% no último ano, consolidando-se como uma das maiores áreas de atuação da companhia no país.
"O Brasil é um mercado-chave para nós, com categorias gigantes, como a de farofa, que praticamente criamos no país", afirma Sousa que anuncia o lançamento de uma nova farofa no país, a Caseiríssima. “A nova farofa já chegou em alguns estados da região Sudeste e Sul, e logo mais vamos avançar em outras regiões do país. É mais uma aposta na categoria que movimenta cerca de 1 bilhão de reais no mercado brasileiro”, diz a CEO.
Para a brasileira que estudou nos Estados Unidos com bolsa e trabalhou em restaurantes para se sustentar, presidir a operação do Brasil da General Mills, empresa americana que faturou 20 bilhões de dólares e está presente em mais de 150 países, é motivo de orgulho e de superação de um sonho que pareceu um dia impossível.
“É aquilo que eu sempre lembro. Os sonhos precisam causar um "frio na barriga", indicando que é necessário sair da zona de conforto para alcançar grandes realizações, afinal, se os seus sonhos não te assustam, eles não são grandes o suficiente”, afirma Sousa.
A General Mills, foi criada nos Estados Unidos, e iniciou suas operações no Brasil em 1997, com foco na produção e comercialização de alimentos. Desde então, a empresa tem expandido sua presença no país. Em 1997, chegou ao Brasil trazendo suas marcas globais para o mercado brasileiro, como os sorvetes Häagen-Dazs e produtos da linha de cereais, que já eram amplamente reconhecidos em outros países.
Em 2012, a aquisição da Yoki Alimentos foi concluída por aproximadamente 857 milhões de dólares, e com isso a companhia americana incorporou outras marcas tradicionais do Brasil ao seu portfólio, como Kitano (temperos), Yokitos (snacks) e Mais Vita (alimentos saudáveis).
A General Mills no Brasil opera várias fábricas, incluindo unidades em Pouso Alegre (MG), Paranavaí (PR) e Campo Novo do Parecis (MT). Essas fábricas produzem diversos alimentos, como farofas, pipocas, temperos e grãos.