Coronavírus: homem usando o computador em aeroporto e usando máscara de rosto (Valery Sharifulin / Colaborador/Getty Images)
Luísa Granato
Publicado em 6 de março de 2020 às 10h40.
Última atualização em 6 de março de 2020 às 11h17.
São Paulo – Além de uma questão de saúde global, o surto do novo coronavírus, o Covid-19, atinge o dia a dia de empresas e já tem efeitos no mercado de trabalho.
Segundo Daniel Zhao, economista sênior do Glassdoor, plataforma de avaliação de empresas, os profissionais estão atentos para a resposta de seus empregadores à epidemia.
“Muitos relatam preocupações com interrupções em seus locais de trabalho e com as perspectivas para os negócios, enquanto outros elogiam suas empresas por uma comunicação transparente", comenta Zhao.
Pelo mundo, usuários comentam no Glassdoor sobre o cancelamento de viagens de negócios, o adiamento de vagas e a falta de políticas de trabalho remoto.
Na China, onde foi detectado o vírus em dezembro, o home office se tornou uma necessidade por conta de medidas de quarentena e empresas correram para encontrar soluções para seus negócios.
Com a confirmação de nove diagnósticos do vírus no Brasil, sendo seis em São Paulo, um no Rio de Janeiro, um no Espírito Santo e agora um na Bahia, os trabalhadores brasileiros também cobram a orientação das empresas para se precaver.
O advogado José Carlos Wahle, sócio da área trabalhista do Veirano, explica que a lei brasileira tem dispositivos que possibilitariam a adoção de medidas restritivas para a circulação de pessoas e mercadorias, o que facilitaria uma ordem de quarentena, como ocorreu na China.
No entanto, ele não acredita que a situação no Brasil escale dessa maneira. “O mais provável é que as próprias empresas avaliem as restrições necessárias. Vejo apenas uma complicação na CLT caso seja necessário determinar férias coletivas, que precisam de aviso prévio de 15 dias, um tempo próximo da incubação do vírus”, comenta ele.
Para João Kluppel, diretor da Michael Page, é prudente que as empresas se atentem a orientações do governo local e também de instituições de saúde internacionais, como a Organização Mundial de Saúde e o Centro de Controle e Prevenção de Doenças.
As recomendações incluem a limpeza do escritório, incentivo para que funcionários doentes permaneçam em casa, restrições de viagens para países mais afetados e o monitoramento e isolamento de funcionários que viajaram recentemente.
“O primeiro ponto é não criar pânico. Depois, caso algum funcionário apresente sintomas da doença, saber orientar para que procure um médico e para não retornar ao ambiente de trabalho”, fala o diretor.
Ele considera importante que o responsável de Recursos Humanos saiba diferenciar a necessidade de home office, quando a pessoa apresenta suspeita, mas não tem sintomas, de casos em que a pessoa já está doente e necessita de licença-médica.
“Algumas práticas mais comuns que tenho visto com clientes são o adiamento de viagens e visitas internacionais e a adoção de videoconferências para evitar reuniões presenciais”, diz.
No Glassdoor, usuários publicaram reclamações de empresas que não possuem flexibilidade para lidar com a situação de emergência e garantir a segurança dos funcionários, tanto na questão de saúde quanto de estabilidade no emprego.
Outros relatos elogiaram medidas da empresa para monitorar suspeitas de contaminação, limpar o ambiente, oferecer opções de trabalho flexível e também dando orientações de saúde.
“Nós recebemos máscaras cirúrgicas, spray Dettol, luvas de vinil, lenços e a temperatura é medida 2 vezes ao dia. O RH também está acompanhando de perto aqueles que viajaram para qualquer lugar (não apenas para a China) durante esse período”, relatou anonimamente um trabalhador em inglês.