João Ricardo Carneiro (em pé), 46 anos, diretor da Nextel: transparência na comunicação para garantir a credibilidade (Omar Paixão/EXAME.com)
Da Redação
Publicado em 21 de maio de 2013 às 15h00.
São Paulo - No final do ano passado, o engenheiro João Ricardo Teixeira Carneiro, de 46 anos, diretor de engenharia da Nextel, operadora de telecomunicações, de São Paulo, soube que teria de conduzir a terceirização de 90% de sua área, promovendo demissões. O clima de apreensão e incertezas predominava. João Ricardo reuniu toda a equipe para explicar as razões da mudança e esclarecer dúvidas. Diante de uma notícia ruim, apostou na transparência.
Montou um esquema de reuniões semanais para informar a seus funcionários sobre cada etapa do processo. Deixou claro quando havia uma informação que ele não poderia divulgar ou quando desconhecia a resposta. Aos poucos, foi conquistando a confiança do time. “No final, a transição ocorreu de forma mais tranquila do que o esperado”, diz João Ricardo.
Uma pesquisa recente, realizada pela consultoria Fellipelli, em parceria com VOCÊ S/A, mostrou que, para 95% das 1 510 pessoas entrevistadas, a falta de confiança no trabalho interfere na produtividade, sendo que oito em cada dez entrevistados afirmaram já ter tido o trabalho prejudicado por esse motivo (veja outras conclusões da pesquisa no quadro Assunto Delicado).
Conquistar e transmitir confiança, como fez João Ricardo, da Nextel, é uma questão mais complicada. Em geral, o principal problema é a falta de transparência na comunicação, comum em empresas em que a relação chefe–subordinado é distante. Outro complicador é a dinâmica do mercado e dos negócios, que muda rapidamente, impossibilitando muitas vezes o alinhamento entre o gestor e sua equipe. A mudança desperta a incerteza, por isso, manter reuniões frequentes com a turma é importante, quando há necessidade constante de alinhar expectativas.
“Hoje, o que as companhias mais precisam é de velocidade, e a confiança é a principal variável para garantir isso”, diz Luciano Meira, diretor de conteúdo e facilitação da consultoria FranklinCovey Brasil, que acaba de lançar um curso para executivos sobre esse assunto. “As pessoas realmente precisam confiar umas nas outras para se sentir seguras, motivadas e trazer resultado”, diz Adriana Fellipelli, sócia-diretora da consultoria Fellipelli.
Bom para o negócio
Em ambientes no qual a desconfiança impera, a resistência às mudanças e a competitividade aumentam, há maior dificuldade de criação de vínculos entre as pessoas, menos troca de informações, o que prejudica a busca de soluções criativas. No lugar do resultado, os funcionários buscam se defender. “A incerteza gera medo do conflito, que resulta em falta de comprometimento e perda do foco no resultado”, diz o professor Marco Tulio Zanini, da Fundação Dom Cabral, de Minas Gerais, e autor do livro Confiança – O Principal Ativo Intangível de uma Empresa (Editora Campus/Elsevier).
Prestar atenção a alguns sinais pode dar pistas para avaliar se você está num ambiente contaminado. Falta de diálogo entre chefe e subordinados, desmotivação e ausência de conflitos são alguns deles. “Em uma relação sadia as opiniões devem divergir e, se isso não acontece, pode ser sinal de que os profissionais estão inseguros”, diz o consultor Maurício Goldstein, autor do livro Jogos Políticos nas Empresas (Editora Campus/Elsevier).
Pequenos hábitos corriqueiros podem criar ruídos e, sem nenhuma má intenção, fomentar um clima de desconfiança no time. Não à toa, 31% dos pesquisados não confiam no chefe, de acordo com levantamento da VOCÊ S/A e da Fellipelli. “Reconquistar a confiança é possível, mas é mais trabalhoso do que construir um relacionamento confiável”, diz Luciano Meira, da FranklinCovey. Quando entrou na farmacêutica Sandoz, em 2007, a diretora jurídica Rafaela Frazão Kireeff, de 37 anos, tomou o maior cuidado nos primeiros contatos com a nova equipe.
O receio da advogada era encontrar resistência do pessoal, já que vinha de fora. Nos primeiros dias, ela foi almoçar com as pessoas e pediu ajuda. “Disse que precisaria delas para fazer um bom trabalho, já que conheciam os negócios da companhia mais do que eu”, diz Rafaela. O gelo foi quebrado. “Se não tivesse a humildade de pedir ajuda, analisando primeiro o ambiente para depois estabelecer as novas regras, certamente não teria sido tão fácil”, completa. Portanto, atenção redobrada ao comportamento no dia a dia corporativo.