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A Heineken quer chegar a 50% das mulheres na liderança no Brasil. Como? Apostando na base

Dos nove vice-presidentes que respondem ao CEO, quatro já são mulheres; movimento se intensifica com programas internos e ultrapassa meta global

Raquel Zagui, vice-presidente de Pessoas da Heineken no Brasil: Queremos acelerar talentos internos para atingir os 50% no Brasil. Faz muito sentido investir em pessoas que já conhecem a nossa cultura  (Heineken/Divulgação)

Raquel Zagui, vice-presidente de Pessoas da Heineken no Brasil: Queremos acelerar talentos internos para atingir os 50% no Brasil. Faz muito sentido investir em pessoas que já conhecem a nossa cultura (Heineken/Divulgação)

Publicado em 28 de fevereiro de 2024 às 07h30.

O mercado cervejeiro por muitos anos teve o homem como o público-alvo, como o principal consumidor da bebida. Se para o consumo já existia uma restrição de gênero, no ambiente corporativo ter mulheres liderando uma indústria de cerveja era e ainda é um grande desafio. Quando Raquel Zagui, vice-presidente de Pessoas da Heineken no Brasil, chegou na companhia, a agenda de igualdade de gênero não era uma prioridade.

“Estou na Heineken Brasil há 6 anos e sempre vi o respeito e o cuidado com o funcionário serem prioridades aqui, mas quando eu cheguei, não tinha uma agenda de inclusão voltada especificamente para mulheres na liderança, não dava para começar a falar em compromissos com equidade de gênero sendo que em muitas unidades não tinha um banheiro feminino próximo da linha de produção”, diz a executiva que afirma que em 2021 esse tema ganhou mais relevância e mesmo durante o caos da pandemia, um compromisso foi firmado no Brasil. Traçamos a meta de ter 50% de mulheres na liderança na companhia até 2026.”

A meta foi uma aposta do próprio CEO, Mauricio Giamellaro, que indicou um número para a empresa perseguir. “Saímos da reunião com a meta 50 em 5: 50% das mulheres em posição de liderança em 5 anos”, diz Zagui que mesmo sendo uma das grandes aliadas da causa, ficou preocupada. “Na época tínhamos apenas 29% de mulheres na liderança. Estamos falando em uma mudança de 20% na liderança em cinco anos em uma indústria cervejeira que naturalmente é um ambiente mais masculino”.

A aposta interna

Para atender a esse desafio de crescer 12% em 3 anos, a executiva afirma que começaram a ser mais intencionais e desenvolveram programas internos por meio de três frentes: atração, retenção/promoção e desenvolvimento de mulheres da companhia.

“Percebemos que tínhamos muitas mulheres boas na base e outras que precisaríamos apoiar com qualificação. Em vendas, por exemplo, vimos que era uma área predominantemente masculina e começamos a avaliar o porquê não tínhamos mulheres nesta base”, diz a executiva.

A análise do setor trouxe como resultado que mais de 90% dos vendedores trabalhavam com moto. “Sabemos que é mais difícil achar mulheres motociclistas. É uma dificuldade a mais e por isso começamos a questionar se era necessário motociclistas na área de vendas.”

Ao concluírem que o carro além de ser mais seguro, poderia atrair mais mulheres para a área, a companhia criou em 2022 o “Projeto Mobilidade”, que liberou carros para os vendedores, resultando no aumento de 20% de mulheres neste grupo. “Esse aumento não entra na meta das mulheres na liderança, mas vai entrar no futuro, porque estamos trabalhando a causa na base, uma vez que as vendedoras podem ser supervisoras e com o tempo podem chegar em posições de liderança.”

Em 2023, o RH da companhia identificou que além de vendas, a área de produção também não atraia tantas mulheres e por isso criaram o primeiro programa de trainee interno chamado “Elas que Brilham” em 2023.

“Foi neste cenário que decidimos apostar no primeiro programa de trainee 100% interno e 100% feminino só na área de produção. Como resultado do programa, foram escolhidas 11 mulheres para liderar a produção de cerveja Heineken no Brasil”.

Devido ao retorno positivo, neste ano a executiva de RH da Heineken disse que irá replicar os dois programas para fortalecer a presença das mulheres no time de vendas e produção.

A aposta dos benefícios para reter

Além desses programas internos, a Heineken aposta em benefícios para atrair e reter o time feminino no Brasil, como licença maternidade estendida para 6 meses, paternidade de 30 dias, acompanhamento antes, durante e após a gravidez, apoio para adoção, extensão do convênio médico para filhos de cônjuges e oportunidades de atuação internacional.

“Do total, temos 39% de mulheres expatriadas de forma definitiva ou em job rotations internacionais como chamamos aqui”, diz Zagui.

O compromisso nacional frente ao global

A agenda de diversidade e gênero é uma iniciativa global, mas o compromisso de chegar em 50% de lideranças femininas em todos os níveis é um compromisso da Heineken no Brasil. A meta global é de 35% de diretores sênior para cima até 2026. No Brasil, com benefícios e iniciativas internas focadas em mulheres, a Heineken já registra 37,4% de mulheres em cargos de liderança – passando a meta global.

“Queremos acelerar talentos internos para atingir os 50% que apostamos. Faz muito sentido investir em pessoas que já conhecem a nossa cultura e que estão trabalhando para o sucesso da companhia em diferentes frentes”, afirma Zagui.

Atualmente, a Heineken Brasil soma nove vice-presidentes que reportam para o CEO – que na época em que sugeriu o compromisso 50 em 5, contava com apenas 2 mulheres como vice-presidentes (Raquel Zagui, no RH, e Sirley Lima, VP do Jurídico).

“No ano passado chegou Cecília Bottai, VP de Marketing, e neste mês anunciamos a 4ª mulher, Christelle Rudyk, que vem da França para liderar o time de finanças da Heineken no Brasil, começando oficialmente em abril”.

Com o novo time de VP, a Heineken chega próximo aos 50% de liderança feminina do mais alto nível no Brasil.

“Encontrar mulheres líderes não é um desafio. Temos muitas mulheres boas no mercado para cargos de VP e demais lideranças, precisamos apenas criar um ambiente mais inclusivo e apostar nas mulheres que já fazem acontecer dentro de casa”, afirma Zagui.

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