Carreira

Com que roupa eu devo ir ao escritório?

Para ir ao samba de Noel Rosa, basta apanhar uma camisa amarela e sair por aí. Mas, num ambiente corporativo cada vez mais informal, o RH tem de fazer valer o código da empresa

Com que roupa  eu vou? (Ilustrações: Thaís dos Anjos)

Com que roupa eu vou? (Ilustrações: Thaís dos Anjos)

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Da Redação

Publicado em 29 de novembro de 2013 às 17h46.

São Paulo - Primeiro, foi a sexta-feira casual. Depois, algumas empresas aboliram a gravata e outras até permitiram o jeans. Para seguir a tendência casual na forma de se vestir, muitas companhias foram afrouxando os códigos de elegância. E o que se vê hoje é uma mistura de conceitos nem sempre adequada ao mundo dos negócios.

Apesar de a informalidade estar na moda, cada empresa deve levar em conta os atributos que espera que os profissionais carreguem na imagem. E, apesar de negócios e culturas diferentes, há consenso nesse quesito. De acordo com Célia Leão, consultora de etiqueta e palestrante com 20 anos de experiência no mundo corporativo, a descontração de fim de semana não combina com trabalho. “Acho mocassim sem meia um charme, mas é para fim de semana”, diz ela.

“No caso das mulheres, sandália rasteirinha só se o negócio for uma barraca na praia. Nem em lugares como Google se pode admitir bermuda masculina, blusas ou vestidos tomara que caia e frente única.” Célia, que já redigiu códigos de vestimentas, os chamados dress codes, para várias organizações, está longe de ser uma conservadora.

Ao contrário. A consultora acredita que, em pleno século 21, é um contrassenso usar gravata no Brasil. “Se a empresa prega a sustentabilidade, deve liberar a prática. Os executivos do BankBoston não usavam gravata e ninguém nunca questionou os valores ou a competência do banco. É possível se vestir casualmente de forma elegante”, afirma.  

No início de novembro, mais de cinco anos após comprar o BankBoston, todos os profissionais do Itaú, com exceção daqueles que lidam diretamente com o cliente, ficaram livres de terno, gravata, terninhos e tailleurs. Não foi uma decisão tomada da noite para o dia, porém. De forma clara, o código de vestimenta do Itaú vem sendo trabalhado desde a fusão com o Unibanco, em 2008.

O banco contratou a consultora Glória Kalil, autora de Chic – Um Guia Básico de Moda e Estilo e Alô, Chics! – Etiqueta Contemporânea, para construir um novo modelo de se vestir. Por ter mais de 100 000 funcionários, com cargos e funções muito distintas, ficou decidida num primeiro momento a criação de quatro modelos diferentes (do totalmente formal ao informal diário).

Caberia ao gestor de cada área determinar qual modelo usar na sua unidade. Para dar suporte à divulgação das novas regras, o banco lançou palestras nos principais polos administrativos. Houve oportunidade no momento de os funcionários encaminharem suas dúvidas para que a consultora pudesse respondê-las na palestra. Mais de 3 000 questões foram recebidas pelo banco.


Isso significa que, num mundo informal onde tudo parece permitido, o funcionário tem muitas dúvidas do que vestir na organização.  E, sim, cabe à área de recursos humanos fazer cumprir sua orientação para o bem da cultura da companhia e, claro, para evitar constrangimentos. Para impor a política, além das palestras, vale colocar as regras por escrito, na intranet e em manuais, de forma a evitar contestações como o famoso “eu não sabia”.

“As empresas não podem ficar indecisas para escrever isso, elas precisam ter clareza do que querem e ser transparentes com os funcionários”, opina a consultora de estilo Glória Kalil. “Não é questão de interferência na vida pessoal, afinal as organizações não definem quanto o colaborador ganha e quando tira férias?” Veja como algumas companhias conduziram seus códigos de etiquetas e estabeleceram regras claras no guarda-roupa corporativo. 

Casual, mas com limites

Desde 2002, a corretora americana AON tem regras de vestuário escritas para o Brasil. Elas estão incluídas no Guia do Colabo ador, que é entregue na integração do funcionário e exige sua assinatura em termo de conhecimento e aceite. “A AON entrou no país por meio de aquisições de corretoras locais, por isso precisava unificar o modelo”, explica a diretora de RH da empresa, Nancy Bartos, que não hesitou ao mandar funcionários de calça jeans rasgada ou minissaia voltarem para casa para se trocar.

“Atendemos pessoas jurídicas e negociamos com grandes empresas; o setor de seguro requer credibilidade, que passa pela aparência”, diz Nancy. Nas visitas, os funcionários da AON usam terno e gravata. Dentro do escritório, trajes sociais, à exceção das sextas-feiras, quando se pode usar calça jeans se não houver atendimento a cliente. Tênis, nem pensar, nunca.

Brincos, para homens, e piercings também são proibidos e o funcionário é aconselhado a tirá-los na admissão. Tatuagem não importa — desde que não esteja em local visível. Quem sai do padrão sabe que pode receber advertência por escrito. Se isso é formalidade em excesso? “Não”, responde Nancy. “O movimento pela qualidade de vida está empurrando para uma informalidade maior, mas isso depende do negócio. Eu já trabalhei em empresa na qual os homens não podiam usar barba, o que não é o caso da AON.”


Cida Garcia, diretora de talentos humanos da Algar Tecnologia, define o estilo da companhia como “esporte fino light”. Além da política do grupo Algar, que dá sugestões sobre vestimentas e inclui cores de terno, o código de conduta da Algar Tecnologia descreve em detalhes o que pode ou não ser usado. “Em visitas a clientes ou a fornecedores e eventos em que o funcionário estiver representando a empresa, terno e gravata para os homens, e blazer com saia ou calça para as mulheres”, diz Cida. “Isso, independentemente do nível hierárquico, vale até para supervisores de call center”, acrescenta.

O tema também é abordado nos programas de formação de lideranças, uma vez que cabe aos líderes zelar pelo código de conduta e lidar com eventuais desvios. Para os executivos, a companhia promove workshops. Nessas ocasiões, as mulheres recebem também dicas de penteado e maquiagem e são orientadas a restringir os tons de azul, verde e amarelo dos esmaltes de unha aos fins de semana. “Para os homens, nunca é demais repetir: calça e sapato pretos com meia branca não!”, brinca Cida. 

No Itaú, que liberou a gravata recentemente, ficou claro que traje informal é válido, mas o jeans deve ser “sóbrio, escuro e reto” e usado pontualmente às sextas-feiras.  

Código do bom senso

O conjunto se autorregula. Essa é a única regra que prevalece na Radix, empresa fundada no começo de 2010 por executivos egressos da Chemtech. Com uma equipe jovem, de faixa etária média de 26 anos, o diretor de projetos, Flávio Guimarães, que também é responsável pela área de RH, aposta no espírito casual, estendendo a informalidade da sexta-feira para todos os dias da semana, com camisas polo, de malha, tênis e calça jeans. Ficam de fora do guarda-roupa bermudas e chinelos, mas, para as mulheres, não há limite para o tamanho do salto.

Os sócios da Radix não usam terno e gravata, nem em reuniões em que recebam clientes como a Petrobras. A exceção fica para quando visitam organizações mais formais. Nessas ocasiões, eles tentam se adaptar ao dress code alheio. “Mas já cheguei todo engravatado em reuniões nas quais encontrei meus parceiros vestidos informalmente”, conta Guimarães.

A farmacêutica AstraZeneca é outra que aboliu ternos, paletós e gravatas desde 2007. “Era uma reivindicação da empresa”, diz o diretor de RH, Miguel Monzu, que adota uma sexta-feira casual bem mais casual do que o comum. “Pode usar tênis e camiseta na sexta e, durante a semana, camisa polo e calça jeans”, afirma ele, para quem o corte é mais importante que o tecido. Quando recebe visitantes do exterior, o diretor já avisa aos gringos que ternos e gravatas são dispensáveis, porque na empresa ninguém os usa. “Fiz várias visitas à matriz, em Londres, e lá a gravata também não é uma obrigação”, conta.

Se já aconteceu de alguém sair do padrão? Na AstraZeneca, sim. Monzu lembra de um funcionário que chegou para trabalhar de agasalho, calça e camisa do time de futebol. Mas, para ele, um caso isolado não justifica a necessidade de colocar regras por escrito. “O líder também é um referencial, ele conversa com o funcionário”, diz. “Vale o código do bom senso.”

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