Carreira

Com medo de demissão, 40% dos brasileiros empregados procuram novos cargos

Pesquisa da Robert Half indica que mesmo profissionais que conseguiram manter os empregos após o início da pandemia querem se recolocar

Programadora: oportunidades (foto/Thinkstock)

Programadora: oportunidades (foto/Thinkstock)

Luísa Granato

Luísa Granato

Publicado em 28 de julho de 2020 às 10h20.

A pandemia do coronavírus pegou todo mundo de surpresa, mas alguns profissionais sentiram um impacto maior. Perdas de empregos, clientes, fontes de renda e até salários reduzidos foram algumas das consequências da recessão no mercado.

Por conta disso, ainda que estejam trabalhando, 40% dos profissionais qualificados com 25 anos ou mais e formação superior estão à procura de novas oportunidades de trabalho, segundo dados da 12ª edição do Índice de Confiança Robert Half (ICRH).

O principal motivo é o medo de perderem o emprego, mesmo que não tenham sido levados nas primeiras levas de cortes de gastos das empresas. O levantamento também mostra a recessão no mercado já que o índice de confiança caiu, apontando uma expectativa pouco otimista para o futuro nos próximos seis meses.

Os dados foram levantados pela empresa de recrutamento Robert Half em meados de maio, com mais de mil profissionais entre recrutadores e colaboradores.

Entendendo o fenômeno e a recessão no mercado

Especialista em carreiras e professora de liderança do Ibmec Brasília, Solange Castro indica que a pesquisa não esclarece o porquê dos profissionais estarem procurando novas oportunidades. Contudo, ela ressalta que pessoa empregada não é sinônimo de satisfeita.

“O que motiva as pessoas a buscarem uma recolocação pode ser desde uma busca por oportunidades de crescimento, pacote de benefícios melhor, a reputação de determinada empresa, entre outros. Os profissionais empregados têm a segurança de conseguir pagar as contas, o que é positivo com a recessão no mercado, mas isso faz pouco pela satisfação e motivação no trabalho”, esclarece.

O levantamento ainda indica que 29% dos profissionais tiveram o salário ou a renda mensal reduzida. Do total dos entrevistados, apenas 12%, no entanto, estão exercendo alguma atividade extra para complementar a renda. Por isso, muitos se sentem motivados a buscar outra oportunidade para retornar aos ganhos anteriores e retomar o padrão de vida.

Além disso, a docente observa que profissionais qualificados se sentem mais seguros e à vontade de buscar uma empresa que possa oferecer mais. “Esse sempre foi um movimento do mercado.

Talvez um aumento do índice esteja presente por causa de todo desespero, preocupação, ansiedade e medo que a pandemia causou nos profissionais. Mais uma variável foi colocada, além de todas aquelas que já existiam e eram naturais. Muitos profissionais têm se sentido inseguros e temerosos e não conseguem respostas das empresas onde trabalham. As organizações precisam se comunicar de forma clara e transparente com os seus colaboradores”, aconselha.

Solange aponta que é interessante observar que, segundo a pesquisa, os recrutadores ainda apresentam uma percepção menos pessimista sobre a recessão no mercado, o que é um bom sinal.

“Os profissionais que são responsáveis por contratar estão mais seguros e otimista que os demais, apesar de o índice indicar um pessimismo geral. Mas se os colaboradores estão com mais medo do que as empresas, de forma geral, indica um problema de comunicação ou transparência. Porque se o profissional está buscando outra oportunidade de trabalho, ele provavelmente não está enxergando esse certo otimismo da empresa”, analisa.

Ela também pondera que é possível que muitos profissional queriam ter um plano B que seja mais seguro e estável.

“Estabilidade é um grande motivador no mercado de trabalho e pode ser que isso esteja motivando essas pessoas a procurar outra empresa que tenha essa questão mais trabalhada, além de uma certa ansiedade. São questões psicológicas normais, as pessoas querem saber o que o amanhã reserva, ainda mais quem tem família ou pessoas que dependam deles financeiramente”, exemplifica.

Por isso, a especialista acredita ser tão importante que os colaboradores entendam o que está acontecendo com a empresa.

“É preciso ter transparência. Os profissionais não podem ficar fantasiando sobre o que pode acontecer, ainda mais observando os efeitos da recessão no mercado. Algumas instituições têm adotado medidas de acolhimento psicológico para sua força de trabalho. É visível que as pessoas estão com medo. Para além da questão de trabalho, elas temem pela própria vida e muitas vezes se encontram em uma situação domiciliar que não é harmoniosa. As empresas precisam acolher seus trabalhadores”, pontua.

Recortes de idade

E apesar de a pesquisa se referir a profissionais qualificados com 25 anos ou mais, também existe uma grande preocupação com a parcela mais jovem da força de trabalho. Segundo um estudo recente da Organização Internacional do Trabalho (OIT), mais de 16% dos jovens entre 18 e 29 anos perdeu o emprego por conta da pandemia a nível mundial. E antes mesmo da pandemia, os trabalhadores até 24 anos representavam 27,1% dos desempregados brasileiros, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Especialistas consideram essa faixa de idade como a mais frágil, ainda mais com a recessão no mercado. Isso ocorre por considerarem que são pessoas que entraram a pouco tempo no mercado de trabalho e costumam estar entre os cargos que são cortados ou substituídos mais facilmente, já que a chance de desemprego é quase 50% menor para as pessoas com nível superior completo, segundo a OIT.

Solange observa que uma das formas dos jovens driblarem essa dificuldades é se capacitarem cada vez mais em conhecimentos relacionados à internet. “Uma coisa que estamos observado é a digitalização dos processos de trabalho. As empresas estão buscando mais alternativas virtuais para integrar clientes e mercados. Esse é um mercado que ainda está amadurecendo, então é carente de mão de obra especializada e possui vários oportunidades, mesmo com a recessão no mercado”, indica.

Ela analisa que, pelas vivências pessoais, os jovens têm uma facilidade maior de se capacitarem em profissões ligadas ao mundo digital, ao contrário de profissionais mais experientes que precisam migrar para novas carreiras.

“Uma coisa boa que a pandemia trouxe foram cursos de qualidade disponíveis na internet até de forma gratuita e que podem ser feitos mais rapidamente do que os modelos tradicionais. Além disso, alguns jovens tem a oportunidade de se profissionalizar com o apoio financeiro de pais. Então, que eles só precisam transformar esse mundo digital que já vivem em negócio”, finaliza.

Este artigo foi originalmente publicado pelo Na Prática, portal da Fundação Estudar.

Acompanhe tudo sobre:Busca de empregoCoronavírusCrise econômicaDesemprego

Mais de Carreira

Como usar a técnica de Myers-Briggs Type Indicator (MBTI) para melhorar o desempenho profissional

Escala 6x1, 12x36, 4x3: quais são os 10 regimes de trabalho mais comuns no Brasil

Ele trabalha remoto e ganha acima da média nacional: conheça o profissional mais cobiçado do mercado

Não é apenas em TI: falta de talentos qualificados faz salários de até R$ 96 mil ficarem sem dono