Bruno Leonardo reflete sobre o novo papel do líder de RH e lista as habilidades que definem um CHRO de alto desempenho (Autor/Exame)
Vice President of Corporate Education da Exame
Publicado em 18 de setembro de 2024 às 13h03.
Nos últimos anos, o mundo do trabalho passou por transformações significativas. Muito por isso, a necessidade constante de adaptação e o desenvolvimento de habilidades como flexibilidade e inovação se tornaram fundamentais. Tais transformações redefiniram as expectativas em relação aos profissionais e às práticas de gestão de pessoas, exigindo novas abordagens e soluções.
Em meio à escassez de mão de obra qualificada, ao aumento da insatisfação no ambiente de trabalho e à necessidade de criar equipes mais flexíveis e produtivas, surge uma reflexão: qual é o papel do líder de RH nisso tudo?
O CHRO (Chief Human Resources Officer ou Pessoa Líder de Recursos Humanos), que antes era visto como uma posição de menor valor estratégico, passa hoje a ser reconhecido como um dos cargos mais cruciais dentro da estrutura organizacional.
Um artigo publicado recentemente pelo Josh Bersin, um dos maiores especialistas de RH do mundo, mostra que o CHRO tem se tornado um líder com impacto direto nos resultados e na sustentabilidade das empresas. As mudanças no mercado de trabalho exigem uma liderança ágil e proativa, capaz de repensar estratégias que vão muito além do simples recrutamento e retenção de talentos.
Nesse artigo, te mostro um pouco da reflexão de Bersin e também uma provocação final sobre o que eu acredito que define um CHRO de alto desempenho no mundo do trabalho hoje e nos próximos anos (habilidades, mentalidades e ações). Vamos?
O mundo corporativo enfrenta uma das maiores crises de infelicidade no trabalho nas últimas décadas. Praticamente 7 em cada 10 profissionais estão insatisfeitos com o que fazem no trabalho (Gallup/2024), e no Brasil, essa também é a média para o desengajamento geral de funcionários (72%). Entre muitos desafios que a pandemia e o isolamento social desencadearam, certamente essa onda de esgotamento e insatisfação está entre a lista.
Como consequência, vemos altos índices de turnover, queda de produtividade e aumento de pedidos de demissão voluntária. O CHRO, portanto, precisa ter uma visão ampla e inovadora para combater esses desafios, criando ambientes de trabalho saudáveis, engajadores e adaptados às novas exigências dos profissionais.
Outro desafio significativo é a escassez de mão de obra qualificada. Em um mercado globalizado, onde a competitividade por especialistas é intensa, as empresas precisam repensar suas estratégias de contratação. Não basta mais apenas buscar novos profissionais no mercado; é preciso desenvolver e valorizar os talentos internos, criando caminhos para a mobilidade interna e o crescimento profissional dentro da própria empresa. Essa abordagem, embora promissora, exige uma mudança cultural significativa — algo que está nas mãos do CHRO.
Saiba mais sobre Mobilidade Interna de Talentos
Além disso, a gestão de equipes remotas, que se consolidou como um modelo de trabalho pós-pandemia, também coloca à prova a capacidade de liderança e comunicação eficiente do CHRO.
O papel do líder de RH, no entanto, vai muito além de responder a essas crises imediatas. Ele se tornou um arquiteto estratégico dentro da empresa, responsável por moldar a cultura organizacional, desenvolver líderes e garantir que a força de trabalho esteja alinhada com os objetivos de longo prazo do negócio. A cultura, os valores e a identidade da empresa dependem diretamente de como o CHRO comunica e reforça esses aspectos no dia a dia, seja através de processos de integração, rituais internos ou campanhas de engajamento contínuas.
Bersin também pontua que o uso estratégico de dados e inteligência artificial (IA) se destaca como uma ferramenta indispensável para o CHRO que busca eficiência e inovação. O poder dos dados pode transformar o RH, desde a previsão de turnover até o mapeamento de habilidades e necessidades de desenvolvimento. A IA pode ser usada para identificar tendências, promover a mobilidade interna e antecipar desafios futuros, permitindo que o CHRO atue de forma preditiva, e não reativa.
Dito tudo isso, quais são as características que diferenciam um CHRO de alto desempenho? Como esse líder pode verdadeiramente agregar valor à organização, indo além da gestão de RH tradicional?
A partir da minha experiência e das trocas diárias que tenho com líderes de RH e liderança em geral, cheguei a algumas conclusões e as listei abaixo:
Antes que você que está lendo se desespere, essa não é uma checklist a ser cumprida, ok? O mais importante não é como você vai chegar lá, mas sim entender que as lideranças de RH (eu diria, inclusive, as lideranças em geral) precisam começar a sair um pouco mais de suas próprias caixas.
O CHRO do futuro não pode se contentar apenas em atender aos KPIs tradicionais do RH, como recrutamento, retenção ou benefícios. Ele se posiciona como um executivo estratégico, com uma visão transversal do negócio, que entende como as suas decisões impactam toda a organização. Esse líder não apenas apoia o negócio, mas contribui diretamente para seu sucesso, ampliando os horizontes da empresa e impulsionando seu crescimento de forma sustentável.
Esse profissional sim é cada vez mais importante e já começa a ser reconhecido como tal nas maiores empresas do mundo.