Lorice Scalise, CEO da Roche Farma Brasil: “Acordo todos os dias com uma certeza: eu preciso honrar quem veio antes de mim e abrir caminho para quem vem depois.” (Vivian Koblinsky/Divulgação)
Repórter
Publicado em 23 de abril de 2025 às 14h28.
Última atualização em 23 de abril de 2025 às 17h25.
“Qual é a sua luta?” Essa foi uma das perguntas lançada por Lorice Scalise, CEO da Roche Farma Brasil, aos participantes do clube CHRO, nesta terça-feira, 22, no restaurante Cantaloup, em São Paulo.
O evento, promovido pela EXAME, reuniu líderes de recursos humanos de empresas de diversos setores para discutir o futuro da gestão de pessoas e como se preparar para um futuro do trabalho mais saudável – sem deixar de ser produtivo.
Com formação em Farmácia e Bioquímica, Scalise se diz apaixonada por saúde e por gente, estando há 25 anos na Roche. Foi a primeira mulher a liderar a operação na Argentina e, desde 2023, é a primeira brasileira à frente da unidade farmacêutica no Brasil. “Acordo todos os dias com uma certeza: eu preciso honrar quem veio antes de mim e abrir caminho para quem vem depois.”
O clube CHRO é voltado para C-Levels de RH e é patrocinado pela Alelo, empresa de benefícios corporativos.
Um dos maiores erros das empresas, segundo Scalise, ainda é limitar a liderança a cargos. “A liderança está em todos os níveis. O desafio é reconhecer e canalizar essa energia.” Ela cita o exemplo de uma estagiária que, durante um encontro no elevador em sua primeira semana, teve a ideia de criar um clube de leitura: “Liderança é isso, é pensar em algo novo”.
Esse olhar mais abrangente também leva Scalise a defender a ascensão de profissionais de RH a cargos de CEO. “Absolutamente, vejo o RH como futuro CEO. O mais interessante hoje é que as posições estão muito menos vinculadas a uma expertise técnica. Não é o financeiro porque entende de finanças, nem o comercial porque vende bem. O que importa são as habilidades de liderança.”, diz. “As posições estão cada vez menos vinculadas à expertise técnica. O que importa são as habilidades de liderança. Ensinar o negócio é fácil. Desenvolver soft skills leva anos”, afirma.
Participantes do clube CHRO em abril de 2025 (Eduardo Frazão/Exame/Divulgação)
Mãe solo de três filhos, Scalise sempre tomou decisões com base em suas prioridades pessoais. Recusou uma vez um alto cargo no Brasil para ficar mais próxima dos filhos na Europa. “A carreira é importante, mas ela tem que estar conectada aos seus valores. Cargo por cargo, a motivação é pequena. Quando há propósito, você ganha outra energia.”
Sobre sua trajetória até o cargo de CEO, ela é direta: “Levantei a mão, fiz assessment, ouvi muitos ‘não’, mas fui mesmo assim. A gente precisa pedir o que acredita que é nosso.”
Na Roche, a cultura organizacional é construída sobre valores vividos — e não apenas declarados. “Não adianta mostrar um slide bonito na convenção. A cultura se vê nas atitudes cotidianas.”
Ela defende estruturas horizontais, foco no bem-estar e liderança distribuída. “O papel do CEO é ser um catalisador. E isso exige tempo com as pessoas e um olhar mais humano,” afirma.
Uma das ações da companhia foi tirar a comissão dos vendedores. “Há mais ou menos cinco anos, a Roche decidiu que não teria mais uma equipe de vendas com metas financeiras.”
A ideia da companhia, segundo a CEO, foi eliminar metas comerciais e bonificações variáveis, rompendo com o modelo tradicional que premia por volume de vendas. Em vez disso, o foco passou a ser tratar o maior número possível de pacientes. “Não temos objetivos financeiros individuais. Os funcionários não têm metas de venda. O objetivo é cuidar, é tratar todos os pacientes que puderem entrar no sistema naquele momento.”
Scalise reconhece que essa mudança foi, no início, desafiadora, especialmente para profissionais que estavam acostumados a trabalhar por metas e comissionamentos. Mas afirma que a transição criou um ambiente mais alinhado com o propósito da empresa. “Hoje, trabalha conosco quem tem o propósito, a disposição, as ganas de fazer acontecer. E os resultados mostram que dá certo.”
Mesmo sem metas comerciais tradicionais, a Roche cresceu 10% no Brasil em 2023 e 15% no mundo, afirma Scalise.
No final, Scalise deixa uma mensagem para reflexão: “Eu sinto muita falta de pessoas com propósito. Nas entrevistas que faço, nos diálogos do dia a dia, falta a resposta para uma pergunta simples: por que você luta?”, diz. ““No meu último dia, quero poder olhar para os meus filhos e dizer: confesso que vivi. Que deixei algo por onde passei. Que minha existência teve valor.”
O evento contou com a presença de nomes de peso no cenário corporativo brasileiro, com representantes das seguintes empresas: