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Bons na prática

Cresce a demanda por técnicos e tecnólogos no Brasil, o que leva as empresas a pagar salários de gerentes a especialistas

EXAME.com (EXAME.com)

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Da Redação

Publicado em 30 de julho de 2013 às 13h48.

São Paulo - Especializado em projetar tubos industriais, o santista Felype Oliveira Gonçalves, de 34 anos, já passou por empresas de engenharia como Promon e CH2M Hill e trabalhou nas obras de grandes refinarias no país.

No mês passado, Felype e outros cinco projetistas de tubulação foram contratados pela Techint, multinacional italiana de engenharia, para ajudar a construir uma refinaria da Petrobras em Salvador, na Bahia.

O pacote incluiu bônus anual de até cinco salários, participação nos lucros da empresa e uma remuneração fixa de 10.400 reais, valor equivalente ao salário médio dos gerentes das 150 empresas do Guia VOCÊ S/A-EXAME – As Melhores Empresas para Você Trabalhar 2009.

Com formação técnica em mecânica e instrumentação industrial, Felype faz parte de uma categoria de profissionais altamente especializados, cuja mão de obra é escassa diante da demanda atual.

"O mercado de trabalho tem necessidade urgente de mão de obra técnica", diz o economista Marcelo Neri, do Centro de Políticas Sociais da Fundação Getulio Vargas do Rio de Janeiro (FGV-RJ) e autor de um estudo recente sobre educação profissional no país.

A procura crescente por técnicos é resultado da especialização do mercado brasileiro, que exige profissionais com conhecimento específico, e da expansão de setores em que essa qualificação é essencial, como é o caso da indústria de aviação. O técnico em manutenção paulistano Fábio Santos, de 27 anos, trabalha no setor aéreo há seis anos, tem curso técnico na área e certificação da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac).

Em setembro de 2008, ele trocou a Gol Linhas Aéreas pela Azul com um aumento salarial de 70% e uma vaga no segundo nível da carreira técnica da empresa. "Se continuar me qualificando, posso subir um degrau já no ano que vem", diz. Para atrair profissionais como Fábio, cujo ritmo de formação não dá conta da demanda do setor, a Azul elaborou um plano de carreira com oito níveis de especialização.


Os salários vão de 2.300 a 7.500 reais. A empresa, que iniciou suas operações em dezembro de 2008, treina 100% dos contratados para trabalhar com os aviões da Embraer, também novatos na aviação comercial brasileira. "Temos que oferecer um bom pacote, pois quem buscamos geralmente está empregado", diz Johannes Castellano, diretor de recursos humanos da Azul. 

A concorrente Gol enfrenta as mesmas dificuldades. No mês passado, a empresa lançou um programa de recrutamento que tem como meta contratar 400 técnicos de manutenção nos próximos três anos. "Temos que recrutar pessoas da área de mecânica ou eletrônica e prepará-las aqui dentro", diz Fernando Rockert de Magalhães, vice-presidente operacional da Gol.

A companhia ainda negocia uma parceria com a Universidade Anhembi-Morumbi, de São Paulo, para a criação de um curso de despachantes operacionais de voo, o chamado DOV, outra formação em falta no mercado. Além de aviação e óleo e gás, os setores de construção civil, agronegócio e tecnologia também estão em expansão e demandam cada vez mais técnicos qualificados.

"Contratamos neste ano 600 desenvolvedores e ainda procuramos outros 150", diz Maria de Fátima Albuquerque, diretora de relações humanas da Totvs, uma das líderes no segmento de softwares de gestão.

Na Manpower, consultoria de recrutamento com sede em São Paulo, a procura por técnicos cresceu 75% no último trimestre, comparado ao mesmo período de 2008. "Nós temos 2.000 vagas por mês. Cem delas pagam salários acima de 5.000 reais", diz Pedro Guimarães, diretor comercial da Manpower.

Pleno Emprego

A procura pelo ensino técnico de Segundo Grau no país reflete o crescimento do mercado de trabalho. Um exemplo disso é o Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai) de Pernambuco, onde o número de formados dobrou em quatro anos.

Cerca de 2.600 deles foram recrutados, nos últimos dois anos, pelo Estaleiro Atlântico Sul, instalado no porto de Suape, a 40 quilômetros de Recife. Os inspetores de soldagem estão entre os que ganham mais, com salários de 6.000 a 8.000 reais. Esses profissionais trabalham com estruturas navais e tubulações e, para isso, precisam de certificação específica do Instituto Nacional de Metrologia, Normalização e Qualidade Industrial (Inmetro).


Além da parceria com o Senai, o estaleiro criou o próprio centro de treinamento e está negociando com outras instituições do estado a criação de cursos técnicos na área naval. "As escolas perguntam de quantos profissionais vamos precisar e nós respondemos: de todos", diz Jane Souza, gerente de recursos humanos do estaleiro.

As instituições que formam técnicos de nível superior também responderam ao maior interesse das companhias por seus alunos. Entre 2002 e 2008, o total de ingressos no ensino técnico superior no país aumentou quase seis vezes, ante um crescimento de 25% no número de novas matrículas nas universidades.

Enquanto o bacharel obtém no ensino acadêmico uma formação generalista, o tecnólogo, como são chamados os técnicos com formação de Terceiro Grau, se especializa em uma área durante um período mais curto — em geral, de dois a três anos. De 2002 a 2008, o número de cursos para tecnólogos no país saltou de 636 para 4 355, mas a qualidade das escolas ainda deixa a desejar.

"O problema é que não existe uma certificação específica [atestando a qualidade dos cursos] e, por isso, ainda é difícil separar o joio do trigo", diz Marcelo Neri, da FGV-RJ. 

A valorização dos técnicos está mudando a antiga imagem de formação de segunda classe. No mês passado, o Conselho Federal de Administração passou a reconhecer, para registro profissional, os cursos técnicos de nível superior em áreas como gestão de RH, de logística e de processos.

Um levantamento do Centro Paula Souza, que administra as 47 faculdades de tecnologia do estado de São Paulo, que são centros formadores de técnicos de nível superior, mostra que a empregabilidade do tecnólogo está em alta. Segundo o estudo, nove em cada dez formados em 2007 estavam empregados no primeiro semestre deste ano.

"Muitas empresas colaboram com a elaboração das grades dos cursos e isso faz com que os alunos tenham um perfil desejado pelo mercado", diz Angelo Cortelazzo, coordenador de graduação do Paula Souza. Hoje, a rede estadual tem 35.000 alunos matriculados em 46 cursos.

Nas áreas de soldagem, edificações, processos de produção e informática, o nível de ocupação após um ano de formação é de praticamente 100%. O paulista Wellington da Silva, de 25 anos, por exemplo, foi contratado como programador de softwares antes mesmo de se formar. Wellington concluiu neste ano o curso de graduação em processamento de dados na Faculdade de Tecnologia de São Paulo.

Na metade do curso, em 2007, ele foi chamado para uma entrevista na Gonow, empresa de softwares corporativos em São Paulo. Entrou como analista júnior, ganhando pouco mais de 3.000 reais. No mês passado, depois de se destacar como líder de equipe, ele foi promovido a coordenador e teve seu salário dobrado. Agora, Wellington pretende investir no desenvolvimento de suas habilidades gerenciais, sem se descuidar do aperfeiçoamento técnico. 

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