As melhores respostas para seus grandes dilemas de carreira (EXAME.com)
Da Redação
Publicado em 18 de março de 2013 às 11h30.
Buscar uma posição mais alta ou ficar num cargo de menor responsabilidade?
De acordo com uma pesquisa feita pelo site de empregos Catho Online com 46 000 profissionais brasileiros, 61% deles trocam de emprego em busca de mais responsabilidade, principalmente os que estão no início da carreira. Para Rogério Chér, professor da Fundação Getulio Vargas de São Paulo, consultor da Empreender Vida e Carreira e autor do livro Todo Novo Começo Surge de um Antigo Começo (Editora Évora), o dilema de assumir ou não um posto de chefia tem sido atropelado com frequência num contexto organizacional de carreiras aceleradas, marcadas por promoções feitas às pressas.
“Um líder tem de engajar e inspirar, mas muitas pessoas têm chegado a esses postos sem habilidade para gestão de pessoas, sem saber como dar feedback, como exercer uma escuta empática ou ser mentor de alguém”, diz. “Por isso, são tão comuns as histórias de excelentes profissionais que, quando são promovidos a postos de liderança, perdem o brilho.” Caso almeje um posto de liderança, procure desenvolver ao máximo essas habilidades antes de se candidatar à posição.
Já entre profissionais com mais experiência, o equilíbrio entre vida pessoal e trabalho tem um valor maior. Em geral, após os 35 anos, muitas pessoas começam a recusar promoções ou diminuir esforços para evitá-las. “São movimentos naturais hoje”, diz Maria Elizabeth Rezende Fernandes, diretora executiva de desenvolvimento da Fundação Dom Cabral, de Minas Gerais. De acordo com ela, o profissional tem o direito de falar “não”.
Cabe à empresa gerenciar a situação e ao profissional lidar com o risco de perder o emprego, já que nem todas as companhias estão abertas a situações desse tipo. Segundo Ana Carla Scalabrin, consultora de gestão de pessoas e professora da Fundação Instituto de Administração, de São Paulo, para que a organização entenda uma recusa é preciso haver diálogo transparente. “Seja claro e explique por que a mudança não está em seu planejamento de carreira”, diz Ana Carla. Aumentos radicais de responsabilidade, promoções repentinas e mudanças de cidade ou de país são casos em que é comum a recusa.
Devo manter minha remuneração ou optar por uma vida mais equilibrada?
Uma pesquisa feita pela empresa de recrutamento Robert Half com 2 179 diretores de 15 países, como Brasil, Alemanha, Inglaterra e França mostra que 36% dos profissionais abaixo de 30 anos consideram a qualidade de vida um quesito tão importante quanto a remuneração na decisão de permanecer no emprego.
“O sistema de trabalho em que competência é entrar às 7 horas e sair à meia-noite está sendo desafiado”, diz Fábio Saad, gerente da Robert Half, de São Paulo. Profissionais mais velhos também prezam um ritmo mais saudável. “No começo da carreira aceitamos nos submeter a muitas situações apenas para crescer, mas, a certa altura, começamos a questionar se estamos felizes com aquelas escolhas”, diz Pablo Aversa, sócio da Alliance Coaching, de São Paulo.
De acordo com o coach, resolver o dilema entre ganhar mais ou ter uma vida mais equilibrada envolve um exercício de conhecimento pessoal. “Pergunte-se o que realmente dá significado à sua vida, se é dinheiro ou se é a companhia dos amigos e da família”, diz Pablo. Se você se encaixar na segunda opção, provavelmente já experimentou a angústia de não ter tempo suficiente para se dedicar às pessoas mais próximas.
Nesse caso, vale a pena começar a estudar uma transição de carreira que lhe permita dedicar mais tempo a outras atividades além do trabalho. Se esse for o caso e você decidiu mudar de ritmo — e de carreira —, faça uma reserva financeira e construa uma rede de contatos que possa prestar ajuda no trabalho ou no mercado em que você pretende atuar. “Não faz sentido ficar em um trabalho sem ter satisfação”, diz Ana Carla Scalabrin, consultora de gestão de pessoas e professora da Fundação Instituto de Administração, de São Paulo.
De acordo com Maria Elizabeth Rezende Fernandes, diretora executiva de desenvolvimento da Fundação Dom Cabral, de Minas Gerais, os mais jovens têm procurado construir carreiras de forma mais criativa. Para eles, sucesso tem a ver com, além da satisfação financeira, realização pessoal e busca de qualidade de vida. “As pessoas escolhem empresas mais abertas e dispostas a novos contratos, com a possibilidade de flexibilizar o horário de trabalho”, diz.
Para negociar um esquema de home office, uma boa opção é mostrar a vantagem que a empresa terá. “Se você quer ter um horário mais flexível para fazer um curso ou ficar mais tempo com seus filhos, deve mostrar para o chefe como isso pode melhorar seu trabalho e quais benefícios essa mudança pode trazer para ele”, diz Ana. Um esquema desse tipo pode diminuir os custos da companhia, por exemplo.
Trabalhar numa cidade grande ou mudar para uma menor?
De 2000 a 2010, 2 055 municípios brasileiros passaram a ter um nível de desenvolvimento moderado ou alto, segundo o Índice de Desenvolvimento Municipal, medido pela Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro. Uma década atrás, 1 670 cidades estavam nesse nível. Agora, a pesquisa — que avalia emprego, renda, educação e saúde — considera que 66% dos 5 565 municípios do país oferecem boas condições de desenvolvimento. Praticamente todas as cidades das regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste atingem graus satisfatórios nesse estudo.
No Norte e Nordeste, em que a maioria dos lugares apresenta um quadro regular, o estudo aponta a quase erradicação das localidades com desenvolvimento baixo — e nas capitais das duas regiões os índices são considerados moderados. Um reflexo disso é o aumento da renda das populações dessas áreas e, consequentemente, do consumo. Um estudo da consultoria McKinsey mostra que, até 2020, em 13 dos 26 estados brasileiros o consumo deve aumentar mais no interior do que nas capitais.
Esses dados servem para ilustrar que nos próximos anos o Brasil terá uma situação inédita de oferta de empregos e trabalhos temporários fora das capitais e, principalmente, longe de São Paulo e Rio de Janeiro, que foram historicamente os principais polos de atração de trabalhadores. “O questionamento sobre a mudança para cidades menores tende a ser cada vez mais frequente entre os executivos”, diz Mariá Giuliese, especialista em aconselhamento de carreira da Lens & Minarelli, empresa de recolocação de executivos, de São Paulo.
Além da oportunidade de crescimento, a perspectiva de trabalhar no interior acena com a possibilidade de uma vida mais equilibrada, saudável e distante da violência da grande cidade. O receio de muitos profissionais ao mudar para o interior é perder a visibilidade no mercado. Para Mariá, o profissional deve se importar menos com o lugar onde mora e mais com o que está fazendo. “A mudança de cidade tem valor se ela significar um nível maior de autonomia, de aprendizado e aumento de responsabilidades”, diz ela.
Mas a especialista aconselha a colocar outros fatores na balança antes de optar pela mudança para uma cidade menor. “Um dos principais é se a família vai com você, porque a distância tem um custo psicológico. Se a ideia é ficar toda semana numa ponte aérea, seu projeto de trabalhar no interior provavelmente vai durar pouco”, afirma Mariá.
Prolongar minha carreira até ser demitido ou fazer uma mudança radical?
Esse dilema afeta profissionais com medo de não conseguir um emprego compatível com o atual. Lá no fundo, eles desconfiam de que estão ficando para trás em termos de competência. A solução para esse dilema é reassumir o comando da carreira. Para o coach Pablo Aversa, da Alliance Coaching, de São Paulo, uma postura previdente ajuda a superar essa situação.
“Se em sua profissão é notório que ninguém ultrapassa determinada idade empregado, planeje uma alternativa”, diz Pablo. O mesmo vale para quem percebe que as demissões têm sido frequentes no setor em que atua. “O que nunca se pode fazer é deixar a carreira sem gestão”, afirma Pablo.
Vale conversar com amigos e colegas que já passaram por esse tipo de situação para saber como se prepararam para esse momento, ler sobre o assunto e falar com um mentor que ajude a enxergar os próximos passos. Mas a principal orientação, caso não veja perspectivas de permanecer no mesmo segmento, é preparar a transição de carreira enquanto ainda está na ativa e empregado.
“Não espere ser desligado para começar do zero em outra área”, diz a especialista em aconselhamento de carreira Mariá Giuliese, da Lens & Minarelli. Em qualquer atividade, o mercado só vai lhe apresentar oportunidades compatíveis com o que você andou fazendo nos últimos anos. Por isso, vá ganhando experiência na nova atividade antes de ser surpreendido pela demissão. “Isso lhe dará segurança”, afirma Mariá.
Ter um emprego estável, porém com remuneração baixa, ou procurar um trabalho cheio de riscos, mas que paga bem mais?
Para Carlos Siqueira, diretor responsável pela área de remuneração do Hay Group, consultoria de recursos humanos, de São Paulo, a maioria dos estudos sobre remuneração e clima organizacional indica que a remuneração não é o fator que mais pesa para um profissional decidir se fica ou sai de um trabalho.
“O salário costuma ser citado em primeiro lugar, mas não é a maior motivação entre os executivos”, diz Carlos. “Oportunidades de carreira costumam ser um fator mais importante, por exemplo.” Empresas que pagam acima da média normalmente o fazem por saber que existe algum risco envolvido no negócio e usam o dinheiro como instrumento de atração.
Por risco, entenda-se uma atividade nova ou de futuro incerto, uma empresa antiética ou um produto polêmico. Se for um negócio novo, pode haver uma oportunidade de carreira interessante. “Companhias que oferecem riscos por estar começando têm mais abertura a inovações”, diz Carlos. Mesmo que o negócio fracasse depois, a experiência traz aprendizado.
Em negócios comuns, é preciso desconfiar de uma oferta salarial muito acima da média. Empresas que oferecem mais dinheiro geralmente estão com dificuldade de contratar ou reter. “Isso pode ser por causa da necessidade de mão de obra mais especializada ou porque a organização não está com uma reputação boa no mercado”, diz Mônica Ramos, diretora da CTS, consultoria de transição de carreira, de São Paulo.
No trabalho, posso revelar um pouco como sou na intimidade ou devo manter relações mais frias?
Na cultura brasileira, as relações sociais, entre elas as profissionais, tendem a ser construídas com certo grau de sentimentalismo. No trabalho, ambiente onde existe cobrança e onde é importante haver opiniões divergentes, a cordialidade pode ser um problema. Para Mariá Giuliese, da Lens & Minarelli, a amizade que surge no ambiente de trabalho não deve ser sobreposta ao profissionalismo e não deve ser interpretada como uma proteção contra reprimendas e demissões. “Seja amistoso e colaborativo, mas lembre-se sempre de que você está no ambiente de trabalho e preocupe-se com as informações íntimas que compartilha”, diz Mariá.
Em todas as situações nas quais colegas, chefes ou equipe estiverem presentes, o indicado é usar a cultura da empresa como base para orientar comportamentos. Não diga nada que seja polêmico ou possa parecer inconveniente ou desagradável. “Mesmo durante um happy hour ou numa confraternização, que são ambientes mais informais, piadas e comportamentos inadequados devem ser evitados”, diz Rogério Chér, consultor da Empreender Vida e Carreira e professor da Fundação Getulio Vargas de São Paulo.
Mesmo tendo simpatia ou proximidade com alguns colegas, também deve-se evitar, em momentos mais íntimos, dizer coisas que não seriam reveladas no escritório. O churrasco de fim de semana com o pessoal do escritório é o exemplo clássico. “Nesses ambientes não existe informação em off”, diz o consultor Nélio Bilate, associado à LHH/DBM.
“Se a informação não deve ser repassada, não a repasse.” A questão da intimidade no ambiente de trabalho ainda ganha outras nuances por causa das redes sociais, que podem facilmente expor nossa vida particular a um grande número de pessoas. Como lidar, por exemplo, com um pedido de um parceiro de um fornecedor ou de um chefe ou subordinado para ser adicionado à sua rede de amigos? “Até aceite, mas tenha como regra jamais postar coisas muito íntimas”, diz Mariá Giuliese.
Fazer carreira longa em uma só empresa ou circular por várias?
A ideia de fidelidade eterna a uma única empresa caiu por terra há mais de 20 anos, quando as companhias passaram a buscar mais eficiência com menos custo. A partir desse momento histórico — as reengenharias dos anos 1980 e 1990 —, as organizações passaram a demitir com frequência muito maior. Desde então, para os profissionais, a postar em relações duradouras com uma empresa virou ingenuidade — como ser fiel a alguém que pode demiti-lo a qualquer hora?
No momento atual, o problema chega a ser o extremo contrário: há mercados que se preocupam com a alta rotatividade de alguns funcionários que passam pouco tempo nos empregos. Qual a medida certa, então? Difícil generalizar, mas pode-se dizer que mudar algumas vezes de empresa ao longo da carreira é uma coisa normal.
O importante é verificar se as mudanças fazem sentido ao longo do tempo, se a pessoa conseguiu aprender e crescer em cada passagem. “O empregador vai avaliar se as mudanças representaram aquisição de conhecimento, aumento das responsabilidades e se resultaram no desenvolvimento de habilidades específicas”, diz Pablo Aversa, da Alliance Coaching, de São Paulo.
Ficar em uma grande companhia ou ir para uma pequena?
A opção por participar de uma empresa que está em formação tem muito a ver com perfil profissional. Em geral, pessoas mais afeitas ao risco e à inovação gostam dos ambientes das startups — os novos negócios podem tanto tornar-se empresas de sucesso quanto acabar em poucos meses. As vantagens são a remuneração mais agressiva e a visibilidade maior tanto internamente quanto no mercado.
Também existe um grande aprendizado, já que os profissionais normalmente desempenham mais de uma função e precisam desenvolver “cabeça de dono” para trabalhar. “Para uma pessoa jovem, a experiência de estruturar uma empresa desde o início pode ser altamente enriquecedora, dando uma visão mais global do negócio do que o trabalho numa companhia tradicional, com estrutura já departamentalizada e onde tudo já está pronto”, diz Mariá Giuliese, especialista em aconselhamento de carreira da Lens & Minarelli, empresa de recolocação de executivos, de São Paulo. O maior risco é embarcar numa furada e ver o negócio fechar rapidamente.
Outra característica da pessoa que trabalha em startup (empresa em início de operação) é a mudança constante. Conforme o negócio amadurece, fatores de motivação pessoal, como pioneirismo e falta de autonomia, tendem a ficar mais raros. E a própria empresa começa a ter necessidade de outro perfil de profissional, mais afeito a empresas de crescimento baixo.
Quando essa virada ocorre, é hora de procurar outra startup. Ou, caso esteja numa fase menos arrojada da carreira, seguir no negócio. “Calcule onde você quer estar depois da experiência”, diz Nélio Bilate, consultor da LHH/DBM, empresa de recolocação de executivos, de São Paulo.
Já que terei de trabalhar até uma idade mais avançada, devo seguir na mesma profissão ou mudar de carreira?
Diferentemente do que aconteceu com outras gerações, com o aumento da expectativa de vida chegar aos 60 anos não é mais sinônimo de aposentadoria. Porém, trabalhar mais tempo não deve significar, necessariamente, fazer mais do mesmo. Numa idade mais madura, costuma aparecer o desejo de fazer uma atividade que permita maior qualidade de vida.
Descobrir essa nova ocupação costuma ser fonte de angústia e exige esforço, tanto emocional quanto financeiro. O primeiro passo é acabar com a ideia de que só se sabe fazer uma coisa. “É uma percepção errônea achar que temos uma única vocação, uma única identidade profissional”, diz Rogério Chér, consultor da Empreender Vida e Carreira e professor da Fundação Getulio Vargas de São Paulo.
O especialista orienta a revisar regularmente a carreira, em qualquer idade. “O pior plano de carreira é o único”, diz ele. Sua sugestão é tentar aliar o prazer das atividades de que gostamos e que fazemos bem com o trabalho. Isso porque, segundo Rogério, mais do que em outras fases da vida, na idade madura precisa prevalecer a percepção de ter um trabalho significativo, que dá sentido à vida. “Outro erro frequente é considerar como carreira apenas o que é chato. Muitas vezes por trás de um hobby existe uma nova carreira”, afirma Rogério.
Ficar no Brasil ou buscar uma experiência internacional?
A experiência internacional é uma das mais enriquecedoras para qualquer profissional. Desse ponto de vista, ela é insubstituível. Ficando aqui, não tem como adquiri-la. Uma pesquisa da Korn/Ferry, empresa de recrutamento de executivos, feita em 2012 com 120 profissionais, mostrou que mais da metade engata uma carreira no exterior e só 35% voltam à terra natal. Além disso, caso a obtenção dessa experiência seja por meio de estudo, as melhores escolas de negócio do Brasil figuram somente em posições intermediárias nos rankings internacionais de MBA, como o do jornal Financial Times.
Assim, estudar no exterior também proporciona formação melhor. “Uma experiência em outro país é sempre uma possibilidade de ter acesso a conhecimento de ponta, ao que está sendo discutido de mais atual”, afirma Goret Pereira Paulo, diretora do FGV in Company, área da Fundação Getulio Vargas que oferece cursos customizados para empresas.
De acordo com o coach Pablo Aversa, da Alliance Coaching, de São Paulo, a aquisição de conhecimento valoriza o currículo e é bem-vinda em qualquer fase da carreira. “Na minha opinião, o melhor momento para uma experiência no exterior é aquele em que a empresa pode liberar o funcionário ou aquele em que você tem recursos para isso”, diz Pablo. Por isso, se o momento for favorável financeiramente, busque a negociação com sua chefia para ser liberado, mostrando quanto a empresa tem a ganhar com esse investimento em você.
Mas há vantagens em ficar e sacrificar essa experiência. Num momento em que o Brasil é destino de investimentos e há uma perspectiva de crescimento de setores importantes, como infraestrutura e petróleo nos próximos anos, manter-se empregado no país pode ser interessante. Conhecer o mercado brasileiro tornou-se uma competência, que só pode ser adquirida permanecendo aqui.
“Para profissionais de áreas como varejo, óleo e gás e infraestrutura, não vale a pena sair”, diz Marcelo Cuellar, diretor da Michael Page, empresa de recrutamento de executivos. No final, cada profissional precisa pesar os dois lados dessa questão e entender o que vai, no médio e longo prazo, impulsionar mais a carreira.