Carreira

As empresas são mais produtivas em uma pandemia?

Uma pesquisa com trabalhadores de países muito atingidos pelo coronavírus constatou que os americanos se sentem mais produtivos, e os europeus, menos

 (Yann Bastard/The New York Times)

(Yann Bastard/The New York Times)

Felipe Giacomelli

Felipe Giacomelli

Publicado em 6 de julho de 2020 às 15h37.

Última atualização em 6 de julho de 2020 às 16h35.

Quando a empresa de aprendizagem online Chegg começou a trabalhar remotamente em março, Nathan Schultz, um de seus executivos, estava convencido de que a produtividade despencaria entre 15% e 20%.

Na esperança de manter seus funcionários trabalhando, Schultz tentou recriar o estilo de gestão que o ajudou ao longo de sua carreira. Montou um canal no Slack com seus dois assistentes mais próximos, no qual começaram a se comunicar incessantemente, mesmo quando passavam horas por dia nas mesmas reuniões do Zoom. Além disso, ele entrava em contato regularmente com muitos dos outros membros de sua equipe.

"A primeira reação foi sufocar. Eu tentava replicar os muitos pontos de contato que você tem no ambiente do escritório", disse ele.

Não funcionou. Schultz logo se sentiu exausto, e notou que sua presença online constante não era muito popular entre seus funcionários. Então, resolveu ser mais moderado.

Assim, algo surpreendente começou a acontecer. Os projetos foram concluídos antes do previsto. Os funcionários se voluntariaram para assumir novas tarefas. Em vez de cair na rotina e perder o foco em meio à pandemia do coronavírus, a equipe da Chegg se tornou mais produtiva.

Quando funcionários de escritórios em todo o mundo começaram a trabalhar remotamente há quatro meses, muitos gerentes temiam que a produtividade caísse. Eles acreditavam que as distrações de casa — desde os cuidados com os filhos até a TV — afetariam os dias de trabalho.

Alguns tiveram mais dificuldade para trabalhar de casa do que outros, mas muitas empresas dizem que a produtividade permaneceu nos níveis pré-pandemia, ou mesmo aumentou. Sem longos trajetos, conversa fiada com os colegas e pausa para um cafezinho, muitos trabalhadores — especialmente aqueles que não têm de se preocupar com os filhos — estão produzindo mais.

As empresas também descobriram que processos e procedimentos que antes eram quase automáticos — desde longas reuniões até atualizações regulares de status — são menos essenciais do que se imaginava. E, embora alguns executivos estejam preocupados com o burnout, pois o trabalho à distância vai continuar, eles estão desfrutando dos ganhos por enquanto.

"Estamos vendo um aumento na produtividade", afirmou Fran Katsoudas, diretora de pessoal da Cisco.

A maioria dos funcionários da Cisco trabalha de casa há meses, e Katsoudas contou que os dados mostraram que muitos estavam produzindo mais. Por exemplo, de acordo com o monitoramento da empresa, os representantes do atendimento ao cliente estão recebendo mais chamadas e os clientes estão mais satisfeitos com a ajuda que recebem.

Uma pesquisa do Deutsche Bank com trabalhadores em países duramente atingidos pelo coronavírus constatou que, em média, os dos Estados Unidos se sentiam mais produtivos do que antes da pandemia, enquanto os da Europa se sentiam menos produtivos.

Na Eventbrite, a equipe de engenharia está prosperando, enquanto as equipes de vendas e atendimento ao cliente estão tendo mais dificuldade em trabalhar de casa, segundo a executiva-chefe, Julia Hartz.

Hartz contou que sua equipe de atendimento ao cliente trabalhava de forma mais colaborativa, e que os representantes da Eventbrite sentiam falta de poder trocar ideias sobre como lidar com diferentes situações.

"Nunca é a mesma coisa. Nosso escritório é aberto. Há a sensação de trabalho em equipe. Você pode virar a cadeira e todos se veem e compartilham ideias ou conversam sobre o estresse com seus colegas de trabalho. Não dá para fazer isso remotamente", disse ela.

Os negócios continuam fluindo, mas os executivos acreditam que trabalhar duro em isolamento poderia, no longo prazo, levar ao burnout e à solidão, e desgastar a cultura corporativa.

Satya Nadella, executivo-chefe da Microsoft, lamentou a perda de interações presenciais, mesmo ao afirmar que a produtividade estava aumentando. "Quanto tempo isso vai durar? E o burnout? E a saúde mental?", questionou ele em relação à melhoria da eficiência da empresa.

Nadella afirmou estar preocupado com o fato de que, nesta fase em que todos trabalham remotamente, empresas como a Microsoft estejam queimando parte do capital social que construíram. "Qual é a medida para isso?", indagou.

Douglas Merritt, executivo-chefe da Splunk, uma empresa de software empresarial, questionou se o surgimento de trabalhadores remotos extremamente atarefados estava gerando ganhos reais. "Há uma grande diferença entre atividade e produtividade. Não há dúvida de que nossa população de funcionários não está atuando no mesmo nível que estava", disse ele.

Na Chegg, 86% dos funcionários disseram que sua produtividade era tão boa ou melhor do que antes, de acordo com uma pesquisa interna. Eles atribuíram o aumento ao não deslocamento e a não ter limites na jornada de trabalho.

Recentemente, a equipe de Schultz concluiu um projeto para a Verizon em 15 dias, o que, segundo ele, teria levado um mês em tempos normais. "Eles teriam preenchido seu tempo indo ao nosso bem equipado café no Vale do Silício", observou Schultz.

Ainda assim, ele está ciente de que o ritmo de trabalho frenético pode não durar. "Embora possamos ter tido um aumento de produtividade no curto prazo, precisamos respeitar o equilíbrio entre casa e trabalho. Queremos ter certeza de que eles não fiquem exaustos."

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