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As empresas olham tudo dos funcionários nas redes sociais

Pesquisa revela que as companhias observam a intimidade de seus funcionários nas redes sociais e que o comportamento digital pode levar à demissão. Religião, política e futebol estão entre as coisas que elas mais reparam

Tela com aplicativos de redes sociais (Flickr//jasonahowie/CC)

Tela com aplicativos de redes sociais (Flickr//jasonahowie/CC)

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Da Redação

Publicado em 16 de janeiro de 2014 às 18h30.

São Paulo - Uma pesquisa feita pelo instituto Ibero-Brasileiro de Relacionamento com o Cliente (IBRC) para VOCÊ S/A revela que é crescente o número de empresas que observam o comportamento de profissionais nas redes sociais tanto na hora de contratar como ao longo de sua permanência no emprego.

E o que elas querem saber pouco tem a ver com trabalho. O que conta mesmo são o posicionamento religioso e político, o vínculo com torcidas organizadas, a presença de fotos com conteúdo constrangedor e as manifestações de intolerância e preconceito. Até as curtidas no Facebook não passam despercebidas.

De acordo com o levantamento, que ouviu 623 executivos de RH de 577 empresas brasileiras de todos os tamanhos e de vários setores, o comportamento nas redes sociais pode influenciar a promoção de um profissional e levar a uma punição ou à demissão. 

A pesquisa desmonta a ideia de que as companhias recorrem às mídias sociais apenas para fazer uma avaliação informal de funcionários e candidatos ou de que essa varredura só verifica aspectos profissionais, como o que está declarado no Linkedin.

O que o profissional faz nas horas vagas revela mais sobre quem ele realmente é e tem um peso maior em sua reputação. "As fronteiras entre o pessoal e o profissional desapareceram", diz Mauro Segura, diretor de marketing e comunicação da IBM e especialista em mídias sociais, do Rio de Janeiro.

O estudo mostra ainda que as pessoas costumam pensar na própria reputação digital no momento em que estão concorrendo a uma vaga, mas se esquecem completamente de cuidar da imagem enquanto estão empregadas. Profissionais ouvidos na pesquisa atribuem nota 8,2 à infuência das redes sociais na decisão de contratação, mas dão nota 1,8 ao peso das mídias na definição de uma demissão.

"É um equívoco que os profissionais cometem, porque a pesquisa aponta que, para as empresas, as redes sociais têm um peso maior na demissão do que na promoção", diz Alexandre Diogo, presidente do IBRC e responsável pela pesquisa, de São Paulo. 


O problema da atividade das redes sociais é que as pessoas esquecem quanto seus passos no universo virtual são visíveis e quanto a conexão com o mundo real é nítida e traz refexos no dia a dia.

"Se um executivo frequentemente publica fotos com um copo de bebida na mão em festas, vão surgir comentários na empresa, e a imagem do profissional ficará marcada", afirma André Freire, presidente da Odgers Berndtson, empresa de seleção de executivos de São Paulo, explicando que os danos na reputação ocorrem em todos os níveis. 

Embora sejam escolhas da vida privada, que nada deveriam ter a ver com trabalho, religião, política e futebol são assuntos aos quais as empresas evitam se associar institucionalmente. "As pessoas levam o sobrenome da empresa, e isso exige que elas adotem uma postura responsável fora do escritório", diz Henriette Fleig, gerente de RH da Tigre, empresa de tubos e conexões de Joinville, em Santa Catarina.

Reputação é um tema sensível, pois pode levar à perda de clientes ou à pressão de governos e sindicatos. Por isso também as empresas são refratárias a profissionais envolvidos em questões polêmicas — embora sejam poucas as que admitam isso publicamente.

Muitas já têm refeito contratos de trabalho dos funcionários para incluir cláusulas de comportamento nas redes sociais e de uso de aparelhos tecnológicos. 

"Ao avançar, a tecnologia cria situações novas, que ainda não estão previstas em lei, e para se proteger as empresas criam instrumentos de cobrança", diz Hélio Ferreira Moraes, sócio e advogado do Pinhão e Koiffman Advogados, escritório especializado em tecnologia e comunicações, de São Paulo.

O comportamento digital tem aspectos pouco considerados por profissionais na hora de se manifestar. O primeiro é que muitos comentários são feitos no calor da hora, quando os ânimos estão exaltados — as declarações sobre política e futebol seguem bem essa regra. Outro item mal calculado por quem publica nas redes sociais é a repercussão das declarações.


"Comportamentos inadequados são notados pela organização porque os colegas espalham o que viram", diz Henriette, da Tigre. E aí entra o terceiro problema: o descontrole. Ao expor uma faceta íntima da própria vida, o profissional dá munição a outras pessoas para que façam comentários a seu respeito.

Em muitas ocasiões, ele nem fcará sabendo o que se diz a seu respeito. "Não há como impedir que as pessoas falem de você", afirma Mauro, da IBM.

Vontade de falar versus medo de se expor

Participar de redes sociais é um hábito incorporado à vida moderna. O desejo de ter uma vida digital esbarra, porém, nos cuidados que os profissionais devem ter para não prejudicar a si mesmos e a empresa em que trabalham.

Segundo Lynn R. Offermann, professora de psicologia organizacional da Universidade de Washington, a vontade de ter conversas abertas no trabalho e de contar histórias pessoais como forma de estreitar os relacionamentos faz parte do comportamento social atual.

As redes sociais reforçam e ampliam essa tendência. Porém, a exposição mal calculada de opiniões e histórias pessoais pode prejudicar a imagem do profissional. "Cria desconfiança e atrapalha o desempenho", diz Lynn.

Como proceder diante da vontade de existir no mundo digital e da pressão para não se expor? "As pessoas devem dar sua opinião, até para demonstrar suas convicções", diz Fernanda Lima, gerente de gente da Allis, empresa especializada em recursos humanos, de São Paulo.

"O que não pode é agredir quem tem uma posição contrária à sua ou ter reações explosivas." Segundo Adriana Neglia, consultora da Produtive, empresa de planejamento de carreira, de Porto Alegre, o que acontece é que as pessoas confundem autenticidade com falar o que pensam. "Autenticidade é ser você mesmo, expor seu ponto de vista de forma verdadeira, mas sem desrespeitar as pessoas e a cultura da empresa", diz.


Eliminando rastros digitais

Como apagar algo que você disse e do qual se arrependeu? Eliminar o rastro digital é tarefa difícil. Parte da atividade online se perde em sites e servidores fora do alcance, como informações pessoais publicadas por terceiros. Mas é possível gerenciar alguns dados. Entre as medidas ao alcance do profissional estão apagar publicações no Facebook ou no Twitter e "descurtir" itens nas linhas do tempo de amigos.

No entanto, há comentários que já podem ter sido compartilhados por seus contatos, e aí não há nada a fazer.

 Quer sair do Facebook? Faça o login, vá até Conta/Confgurações da Conta. Na parte inferior da primeira tela (Configurações), há um link para "Desativar Conta". Clique nele e aparecerá uma tela cheia de fotos de seus "amigos" e mensagens de como sentirão sua falta.

 Escolha uma razão para sua saída e certifque-se de marcar a opção para não receber futuros e-mails da rede social (senão poderá receber mensagens tentando convencê-lo a voltar para o site). Depois, basta deixar sua conta "desativada" e não fazer login por duas semanas.

Outra dica para evitar surpresas desagradáveis é não habilitar o Foursquare, que está disponível para todos os sistemas operacionais mobile e permite que seus contatos saibam os lugares por onde você passou.

"Não só seus amigos, mas todos podem seguir seus passos. É um prato cheio para bandidos. Então, é melhor não dizer onde você esteve", diz Ricardo Giogi, professor de MBA da Fiap em segurança da informação. "Da mesma forma que sair postando fotos em viagens com toda a família pode ser um risco. Muita gente dá informações de que deixou a casa sozinha."

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