Christina Bicalho, do STB: a crescente internacionalização das empresas, a busca pela dupla cidadania, as dificuldades para estudar nos EUA e as políticas públicas dos países europeus estão demandando cada vez mais pessoas a serem fluentes em diversos idiomas (Getty Images/Divulgação)
Repórter
Publicado em 14 de agosto de 2023 às 16h36.
Última atualização em 15 de agosto de 2023 às 20h07.
A procura de brasileiros interessados em aprender um outro idioma, além do inglês, cresceu 36% no primeiro semestre de 2023, comparado ao mesmo período de 2022, segundo levantamento realizado pelo Student Travel Bureau (STB), consultoria especializada em educação internacional. Entre os países mais buscados para estudar outro idioma estão: Espanha, França, Itália e Alemanha.
E não é a primeira vez que acontece essa busca por esses países de língua não-inglesa. Em 2022, o estudo mostra um aumento de 45% quando comparado a 2019 - período antes do início da pandemia.
“A gente não pode esquecer que o inglês há anos é o número um na escolha dos brasileiros para estudar fora, afinal, é o idioma mais falado no mundo. Mas a crescente internacionalização das empresas, a busca por dupla cidadania, as dificuldades para estudar nos EUA e as políticas públicas dos países europeus estão demandando cada vez mais pessoas a serem fluentes em diversos idiomas,” afirma Christina Bicalho, vice-presidente do STB.
Abaixo, seguem os rankings dos países mais buscados nos últimos anos, segundo estudo da STB:
Ranking dos países de língua não-inglesa mais procurados em 2019:
Ranking dos países de língua não-inglesa mais procurados em 2022:
Ranking dos países de língua não-inglesa mais procurados no 1° semestre de 2023:
Atualmente, o espanhol é falado por mais de 500 milhões de pessoas em 21 países. Inclusive, nos Estados Unidos, torna-se cada vez mais importante para o mundo dos negócios por causa da crescente população hispânica e latina no país.
Para Bicalho, o motivo de buscarem mais o idioma espanhol está relacionado com a relação que o Brasil tem com a América Latina:
“Existe sim uma necessidade de se falar o espanhol de forma correta para ter acesso a novos mercados na América Latina. O brasileiro entendeu que se ele quer uma posição de destaque na carreira ele não pode mais ficar no ‘portunhol’. Há empresas latinas vindo para o Brasil e empresas brasileiras ganhando espaço no continente.”
No Brasil, há uma concentração grande de imigrantes italianos que enxergam a possibilidade de tirar a dupla cidadania como uma oportunidade de estudar ou até mesmo de viver na Europa.
“O profissional brasileiro que tem a dupla nacionalidade (brasileira e italiana), pode trabalhar na Itália e até levar os filhos para estudar nas escolas públicas sem ter custo nenhum ou um custo muito baixo. Muitas pessoas hoje fazem a conta e avaliam o que realmente esses países oferecem de benefício, não só profissional, mas também em relação ao orçamento familiar e qualidade de vida,” diz Bicalho.
Mas quem quer estudar na Itália também deve se preocupar com o inglês, afirma Bicalho: “Muitos trabalhos e muitos cursos exigem o inglês como segundo idioma. Neste caso, é bom ter, além do italiano, o inglês avançado.”
Como a França também faz parte da comunidade europeia, para os brasileiros com dupla cidadania há possibilidade de trabalhar ou estudar com os franceses. Mas neste país a fluência do idioma local é fundamental: “Sem o francês será muito difícil conseguir um emprego e impossível entrar em uma faculdade”, diz vice-presidente do STB.
Em algumas áreas específicas, como a indústria da moda, que tem um de seus principais polos na França, falar o idioma local pode ser um grande diferencial, tanto para se aprofundar em cursos específicos quanto para conseguir empregos em grandes empresas na área.
“As pessoas que aspiram trabalhar com moda, por exemplo, querem mergulhar na cultura francesa, e ter o idioma é um requisito. Na França, todo o vestibular é em francês, o inglês pode ajudar em outros ambientes, mas para entrar no ambiente acadêmico, é preciso ter o idioma,” afirma Bicalho.
O interesse em imigração tem levado brasileiros atrás deste idioma. Dados do governo alemão preveem um déficit de 7 milhões de trabalhadores até 2035. Para tentar suprir a falta de profissionais locais, o governo tem atraído e contratado trabalhadores estrangeiros e tem até oferecido ajuda de custo para levar a família, a depender do caso.
“Áreas como saúde, TI, engenharia e educação estão sendo bem requisitadas na Alemanha que sofre com o envelhecimento populacional e as baixas taxas de natalidade”, diz Bicalho.
Outro motivo está relacionado aos negócios. Ter um bom conhecimento nessa língua pode aumentar consideravelmente as chances de uma carreira promissora nas grandes filiais de multinacionais alemãs instaladas no Brasil.
O alemão também é uma boa opção de idioma para quem busca uma internacionalização acadêmica por meio de cursos de graduações e pós-graduações na Alemanha, que é um país bastante aberto para estrangeiros, especialmente aqueles que falam o idioma.
Para quem pensa em aprender um novo idioma, seja nesses países citados ou em qualquer outro país, Christina Bicalho dá algumas dicas:
Em um mundo tão globalizado, a gente não pode parar de aprender cada vez mais, afirma Bicalho:
“Não é só o jovem que vai fazer intercâmbio ou que tem vontade de morar fora. O profissional que está hoje no mercado precisa reciclar os seus conhecimentos. O idioma que hoje é uma barreira pode ser o diferencial que vai gerar para você a oportunidade de emprego que deseja e para a empresa o funcionário que ela precisa.”
Os brasileiros estão realmente seguindo a tendência global quando o assunto é o aprendizado de idiomas. De acordo com o último relatório realizado pelo Duolingo, aplicativo de idiomas, que inclui informações sobre alunos que estudaram no aplicativo entre 1º de outubro de 2022 e 30 de abril de 2023, os 10 idiomas mais estudados do mundo (na ordem) são:
"A lista das línguas mais estudadas dificilmente tem alterações, especialmente quando se trata do topo da lista, por isso, o idioma mais popular continua sendo o inglês, seguido do espanhol e francês. As motivações podem variar, mas acreditamos que o aumento lento e constante no número de alunos de português provavelmente está ligado a mudanças globais em viagens e negócios", afirma Analigia Martins, diretora de marketing do Duolingo no Brasil.
Mas aconteceram mudanças significativas do último ano para cá, afirma Martins:
"Além do português ter subido de posição, de 11º para 8º lugar, outra mudança foi o russo, que caiu no ranking global para o 11º lugar. A mudança no interesse dos alunos em estudar russo está diretamente ligada à invasão russa da Ucrânia em 2022 e ao subsequente crescimento do interesse em aprender ucraniano."