Emprego: números da Organização Mundial da Saúde mostram que a ansiedade e a depressão retiram da economia mundial cerca de 1 trilhão de dólares por ano (Amanda Perobelli/Reuters)
Victor Sena
Publicado em 9 de setembro de 2021 às 09h00.
Última atualização em 10 de setembro de 2021 às 11h13.
A pandemia acelerou a digitalização das empresas, forçou a adoção do trabalho remoto e trouxe a saúde mental para a roda de conversa das principais empresas.
Esses consensos podem até ser tendências que vieram para ficar, como vimos ao longo de 2021, mas no caso da saúde mental isso acontece até certo ponto, e em determinadas bolhas.
Uma pesquisa feita pelo Datafolha, e encomendada pelo Zenklub, mostra que 64% dos trabalhadores não têm acesso a benefícios e programas corporativos de saúde mental.
Os dados foram colhidos com 1.197 pessoas neste mês de setembro, quando ocorre a campanha nacional de prevenção ao suicídio, promovida desde 2014 pela Associação Brasileira de Psiquiatria e pelo Conselho Federal de Medicina.
O levantamento também mostrou que para 86% dos trabalhadores ter benefícios como terapia online e treinamentos de habilidades emocionais podem ajudar a lidarem com os impactos negativos que a pandemia gerou sobre o emocional das pessoas.
“A quantidade de pessoas com acesso a benefícios corporativos de saúde emocional é baixa, ao mesmo tempo em que a consciência que os trabalhadores têm da importância do oferecimento desses benefícios é grande", ressalta Rui Brandão, cofundador e CEO do Zenklub.
Além das questões pessoais e da instabilidade mundial causada pela pandemia, os benefícios corporativos de suporte à saúde mental são importantes porque o próprio trabalho conta como um fator de estresse para a vida da pessoa.
Números da Organização Mundial da Saúde mostram que a ansiedade e a depressão retiram da economia mundial cerca de 1 trilhão de dólares por ano.
O estudo, nomeado de Scaling-up treatment of depression and anxiety: a global return on investment analysis, também calcula que a cada um um dólar investido no tratamento dessas condições mentais, quatro dólares são obtidos como retorno.
Juntas, depressão e a ansiedade crônica afetam cerca de 10% da população, de acordo a Organização.
Mas como as empresas podem oferecer mais benefícios deste tipo?
Mesmo que à primeira vista os números pareçam baixos, o CEO do Zenklub afirma que é necessário olhar com o viés otimista. Quando a empresa começou, os benefícios relacionados à saúde mental eram praticamente zero.
"É uma construção que acontece aos poucos, e vejo que a adoção tem sido rápida. O espaço tem sido crescente e esse é um movimento normal, em que a experiência do colaborador e a vida do indivíduo são importantes", pondera Rui Brandão.
O empresário também cita que a pandemia foi um divisor de águas.
“Antes da pandemia, era muito difícil trazer o tema para dentro das quatro paredes de uma organização. O que a pandemia fez foi o que foi que todo mundo vivenciou experiências e dificuldades emocionais e fez com que o trabalho passasse a ser dentro da nossa casa", diz.
Além de benefícios relacionados à saúde mental, empresas devem operar como uma estratégia de saúde para criar uma ambiente seguro psicologicamente, segundo Rui.
Empresas como a Zenklub, que começou oferecendo terapia online, hoje oferecem soluções para outras organizações que querem investir nesse aspecto.
Outra empresa da área é a Bee.touch, que opera principalmente com diagnóstico de riscos psicológicos de um ambiente.
Outros dados da pesquisa mostram que 66% dos trabalhadores sentiram ansiedade nos últimos 12 meses, 61% exaustão ou muito cansaço, 54% insônia ou dificuldade para dormir e 26% depressão. Todos são quadros que podem se enquadrar em um quadro psiquiátrico.