Stella Medlicott, vice-presidente sênior, diretora de marketing e chefe de relações corporativas da Ericsson: “O Brasil é um país extremamente estratégico para a Ericsson e representa nosso maior mercado na América do Sul. Temos muito orgulho de atuar no Brasil desde 1924” (Ericsson /Divulgação)
Repórter
Publicado em 8 de julho de 2024 às 10h07.
Que tipo de recepção sua empresa oferece para mulheres que retornam ao trabalho após o período de licença maternidade? A Ericsson, empresa sueca de infraestrutura de rede e telecomunicações, pensou em um retorno estratégico de suas funcionárias mães, após licença maternidade de 6 meses, e criou uma edição do programa “WE Mentoring” que começou a valer em junho deste ano no Brasil.
“O programa ‘WE Mentoring’ foi criado para ajudar todas as mulheres da companhia com planejamento profissional dentro e fora do país, mas neste ano, em que vamos celebrar 100 anos no Brasil, teremos um programa de mentoria especial para mulheres que retornam ao trabalho após a licença maternidade”, afirma a britânica Stella Medlicott, vice-presidente sênior, diretora de marketing e chefe de relações corporativas da Ericsson global.
Este programa que chega ao Brasil, segundo a executiva faz parte de uma estratégia global mais ampla que inclui o apoio a uma rede de mais de 42 grupos de funcionários e oferece programas de desenvolvimento de carreira destinados a remover barreiras à progressão profissional.
“O ‘WE Mentoring’ passará a oferecer uma mentoria especial para as mães com metas intencionais, planejamento de desenvolvimento, workshops de orientação, execução de planos e análise de resultados.”, diz. “A empresa também trabalha em políticas de recrutamento e inclusão que visam alcançar uma representatividade de 30% de mulheres em todos os níveis hierárquicos até 2030.”
O programa contará com uma agenda estruturada. No primeiro mês é definida a meta e o plano de desenvolvimento, que depois é apresentado e discutido com o gestor e mentor.
"Nesta primeira fase as mães participam de uma oficina focada no processo de mentoria. Nos meses 2 a 5 será executado o plano de desenvolvimento e, por fim, no mês 6 é feito um encerramento e analisados os resultados do programa", afirma a executiva da Ericsson.
Essa ação pautada no desenvolvimento de mulheres trouxe Stella Medlicott, vice-presidente sênior, diretora de marketing e chefe de relações corporativas da Ericsson, ao Brasil este ano. Em uma entrevista exclusiva à EXAME, a executiva que tem mais de 30 anos de experiência em grandes empresas de TI, telecomunicações e mídia, como Ericsson, Red Bee Media e Siemens, compartilha os desafios de sua trajetória profissional e as expectativas da companhia ao completar 100 anos no Brasil.
Eu nasci e cresci no Reino Unido e sou a mais nova de três filhas. Meus pais sempre tiveram uma preocupação muito grande com ética no trabalho e esse valor foi passado para mim desde muito cedo. Eu fui a primeira da minha família a frequentar uma universidade; meu pai deixou a escola aos 14 anos e avançou na carreira, que foi impulsionada por sua forte ética e estudo noturno. Já a minha mãe abandonou a escola aos 16 anos.
Quando eu era criança, não havia esse foco na educação superior. A partir dos 14 anos, comecei a trabalhar meio período e, aos 16, passei para o período integral. Por causa disso, meu caminho para conquistar o meu diploma de graduação e de pós-graduação não foi convencional. Minha experiência me tornou uma forte incentivadora dos jovens para que busquem uma educação universitária e obtenham a melhor educação possível.
Levei um tempo para decidir sobre minha carreira. Depois de sair da escola, comecei a me interessar por Jornalismo, mas depois de estudar Psicologia junto com Economia e Direito, logo percebi que me sentia atraída por um ambiente de negócios. No final das contas, escolhi Marketing e Relações Corporativas porque me permitiram combinar meu conhecimento sobre comportamento humano com a área de negócios.
Minhas escolhas educacionais foram motivadas pela minha necessidade de aprender algo novo todos os dias, e às vezes várias vezes ao dia; e foi essa curiosidade que me levou ao campo da Tecnologia. Sempre trabalhei ao lado de engenheiros de tecnologia. Adoro a sua paixão, a sua criatividade e o seu pragmatismo. Vejo que o meu papel é tornar os seus produtos bem-sucedidos, destacando os benefícios que trazem, tanto para as empresas, como para a sociedade, e garantindo que esses benefícios possam ser claramente compreendido por todas as partes interessadas.
A minha curiosidade me ajudou a expandir as minhas funções nas empresas e a assumir as responsabilidades pela política e defesa governamental, sustentabilidade e saúde e segurança, além de marketing e comunicações.
Sempre acreditei que a área STEM tem um potencial significativo para transformar a sociedade e que deveria ser ocupada tanto por homens, como por mulheres. Apesar de alguns progressos, as mulheres ainda estão sub-representadas nas áreas STEM. Ao longo da minha carreira, estive em setores dominados por homens e superar os desafios que isso representa foi essencial para ajudar a impulsionar a mudança em direção a um futuro mais equitativo.
Vi, por exemplo, muitas vozes de mulheres serem ignoradas - incluindo a minha própria. Isso é algo em que continuamente me concentro, e encorajo tanto homens quanto mulheres a fazerem o mesmo. Uma vez que você percebe isso, não pode mais ignorar. Enfatizo sempre a importância de garantir que todas as vozes sejam ouvidas.
Tornar-me mãe foi sem dúvida um dos maiores desafios que tive como profissional, especialmente porque coincidiu com um momento crucial na minha carreira. Equilibrar maternidade e trabalho muitas vezes me fazia sentir como se estivesse falhando em ambas as funções, e a culpa de priorizar o trabalho era um fardo pesado.
Meu conselho para as mulheres que aspiram a posições de liderança é focar no desenvolvimento de seu próprio estilo de liderança, permanecer fiel a quem ela é, ser sempre autêntica e reconhecer que está lá porque está agregando um valor incrível. As mulheres não devem ter medo de se afirmarem no local de trabalho, porque esta confiança irá distingui-las e torná-las modelos fortes para a próxima geração de mulheres.
Penso que também é importante que as mulheres encontrem uma rede de apoio à qual possam se conectar. Todas enfrentamos desafios profissionais que precisam ser superados e essas redes permitem que aprendamos com outras pessoas como administrar e superar desafios. A Ericsson tem diversas redes de mulheres fortes e bem-sucedidas – passar um tempo com elas é muito fortalecedor.
Especificamente nos campos da Ciência, Tecnologia, Engenharia e Matemática (STEM), que foram historicamente dominados pelos homens, há uma discriminação com mulheres, especialmente em cargos de liderança e igualdade salarial. Globalmente, as mulheres representam apenas cerca de 29,2% da força de trabalho STEM, de acordo com o Relatório Global sobre Desigualdades de Gênero de 2023 do Fórum Econômico Mundial.
Outro aspecto crucial é o equilíbrio entre as responsabilidades familiares e as aspirações profissionais. As mulheres enfrentam, frequentemente, expectativas sociais relacionadas ao cuidado, o que pode afetar a sua disponibilidade para cargos de liderança.
Todos estes fatores, isolados ou interligados, contribuem para a escassez de mulheres em cargos de liderança, especialmente nas indústrias STEM, resultando em menos exemplos para inspirar outras a seguirem caminhos semelhantes.
O Brasil é um país extremamente estratégico para a Ericsson e representa nosso maior mercado na América do Sul. Temos muito orgulho de atuar no Brasil desde 1924.
Em 1955, a Ericsson inaugurou uma fábrica de alta tecnologia em São José dos Campos-SP, que é uma das quatro desse tipo no mundo e a mais antiga em operação contínua. Esta fábrica produz tecnologias não só para o mercado brasileiro, mas também para outros países da América Latina, sendo cerca de 40% de sua produção exportada.
Em março de 2021, foi inaugurada, em São José dos Campos, a primeira linha de produção de tecnologia 5G da América Latina e do Hemisfério Sul. Além disso, a Ericsson mantém um Centro de P&D&I em Indaiatuba, que atua há mais de 50 anos, conta com cerca de 450 pesquisadores e faz parcerias com as principais instituições de ensino superior nacionais.
A Ericsson celebrará o seu centenário no Brasil continuando a impulsionar a inovação e expandindo as oportunidades de mercado.
A Ericsson estabeleceu metas ambiciosas para aumentar a porcentagem de mulheres entre todos os funcionários e time de liderança. Isto inclui um foco em conseguir equilíbrio de gênero, visando uma representatividade de pelo menos 30% das mulheres em todos os níveis até 2030.
A remuneração variável está vinculada a critérios de desempenho, com uma meta específica de que 23% dos cargos de chefia sejam ocupados por mulheres até 2024. Além disso, há uma meta de equilíbrio de gênero que é de 50% para contratações em início de carreira e pós-graduação.
Em 2023, as mulheres representaram 31% de todas as contratações, demonstrando o compromisso da Ericsson com a diversidade e a inclusão. A empresa está ainda empenhada em alcançar 35% de representação feminina em novas contratações e nomeações de gestores, enfatizando a justiça, o respeito e o reconhecimento pelo bom desempenho de diversas equipes.