Fabrício Guimarães, empresário: "A trajetória da Netflix é um ótimo exemplo de como simples perguntas podem transformar adversidades em oportunidades." (Fabrício Guimarães/Divulgação)
Redação Exame
Publicado em 8 de abril de 2025 às 12h02.
Por Fabrício Guimarães, empreendedor em série, sócio da Be180, mediatech especializada em OOH, cocriador do Instituto Terra Livre e founder da Like Me, healthtech em fase de captação no mercado estadunidense
Nos últimos anos, especialmente no período pandêmico, muito se falou em resiliência, inclusive, como uma poderosa soft skills para funcionários e empresas. Ok, é preciso mesmo ser capaz de aguentar os galopes da vida, de não ceder às primeiras rachaduras – caso contrário, despencar se torna fácil demais, o caminho natural da força da gravidade. Mas o que pouca entendeu ou consegue de fato pôr em prática é um conceito mais moderno que o da resiliência e certamente mais eficaz: o da antifragilidade.
Trocando em miúdos, é como se, ao invés de simplesmente aguentar uma tempestade quietinho, eu pudesse criar um guarda-chuva à prova de água e vendavais e seguir minha jornada, enquanto as outras pessoas estivessem esperando ela passar. Não apenas resistir. Ganhar com os golpes da vida. Sair na frente.
A ideia, claro, não é minha, mas, sim, de Nassim Taleb, autor de Antifrágil: coisas que se beneficiam com o caos (2012) e de outro clássico sobre reveses, A lógica do cisne negro (2007).
Duas obras que nos convocam a repensar a nossa relação com os desafios: se a crise deixa de ser obstáculo, ela passa a ser um fluxo natural da vida, como as marés que sobem e descem.
E aqui, vão três passos para você começar essa transformação:
A trajetória da Netflix é um ótimo exemplo de como simples perguntas podem transformar adversidades em oportunidades. Fundada por Reed Hastings e Marc Randolph em 1997, o projeto inicial da empresa era alugar DVDs pelo correio, já reduzindo assim o trajeto casa-locadora percorrido até então pelos clientes. Mas, assim que colocou o serviço no ar, a empresa já se questionou: e se, ao invés de alugar filmes físicos, cobrando separadamente por cada um deles, eu pudesse oferecer um serviço mensal sem limite de obras ou pagamento de multa por atraso? Essa provocação, que hoje parece óbvia, não apenas revolucionou o mercado, mas gerou um novo padrão de consumo no mundo, via streaming.
Veio a crise econômica de 2008 e a Netflix fez outra pergunta crucial para o seu crescimento e liderança no setor: e se, ao invés de competir com os cinemas, ainda na lógica antiga das locadoras, eu redefinisse como as pessoas consomem entretenimento? A empresa passou então a investir em conteúdo original, criando séries que se tornaram verdadeiros fenômenos culturais. House of Cards e Stranger Things, por exemplo, mudaram a forma como nos conectamos com as histórias. Resultado: a Netflix não apenas sobreviveu, ela se tornou um titã, disponível em 190 países e em mais de 30 idiomas.
Portanto, ao invés de suportar as dificuldades, visando a sobrevivência, o antifrágil nos ensina que a adversidade é um terreno fértil para inovação e crescimento, uma oportunidade disfarçada de “erro” – e isso se aplica no profissional e também no pessoal.
Que possamos nos tornar mais audaciosos e criativos, como a Netflix e tantas outras empresas que utilizaram o "e se" para redefinir o futuro. Afinal, a verdadeira força não está em simplesmente resistir às tempestades, mas em dançar na chuva e transformar o caos em beleza.
E se a chave para o nosso crescimento estiver exatamente em abraçar esse fluxo natural?