Angélica: Eu não escolhi a vida artística, foi ela que me escolheu (Instagram/Reprodução)
Repórter
Publicado em 30 de novembro de 2023 às 11h28.
Última atualização em 30 de novembro de 2023 às 12h55.
Muitas pessoas demoram anos para encontrar uma profissão em que se realizem financeiramente enquanto fazem o que ama. No caso da apresentadora Angélica, a profissão chegou muito cedo, aos 4 anos de idade. “Eu não me arrependi de escolher a vida de artista, na verdade eu não a escolhi, a vida artística que me escolheu”, diz Angélica em entrevista à EXAME.
Passando por diversas carreiras como modelo, apresentadora, cantora e atriz, Angélica conta o que a motivou a entrar para o mundo dos artistas, os desafios profissionais e as expectativas com o seu novo ciclo que completa hoje 50 anos de idade.
Na verdade a minha carreira na TV começou por causa de uma tragédia familiar. Minha família sofreu um assalto em casa, que me deixou traumatizada. Meu pai levou vários tiros e isso me traumatizou de tal forma que eu não conseguia sair na rua, eu tinha medo de sair de casa. Com o instinto materno, minha mãe me ofereceu vários lugares legais para eu visitar e o único que eu escolhi foi ir ao programa do Chacrinha. Eu tinha apenas quatro anos, eu mal conseguia entrar no palco, mas o pessoal da produção foi super legal, entendeu o caso, e foi aí que eu entrei e ganhei o concurso de beleza que acontecia naquele programa. Foi a partir daí que a minha carreira começou.
Sempre fui muito profissional desde pequenininha, levava o trabalho muito a sério, mas não tinha nenhuma habilidade. Depois que eu cresci um pouquinho, quando eu tinha uns 7 anos, eu me lembro de ficar em frente ao espelho com uma escova de cabelo cantando e apresentando coisas - essas são as memórias que eu tenho de fazer o trabalho artístico, acho que isso já estava dentro de mim e ia acontecer.
Quando eu era bem bebezinha, eu fiz comerciais de fraldas, mas minha mãe não quis continuar porque eu era muito pequenininha. Por isso digo que a minha carreira começou mesmo no Cassino do Chacrinha. Logo em seguida uma agência, que na época contratava todas as crianças para trabalhos na televisão, ligou para minha mãe para fechar um contrato para propagandas e desfiles. Na época tinha pouca criança que fazia essas coisas, então, eu era uma das poucas que fazia e vivia aparecendo na TV.
Sobre o meu maior medo, no começo de carreira acho que eu não tinha tanto medo, lembro que tudo parecia uma brincadeira, mas eu era muito tímida. Então, no começo o que eu tinha não era medo, era mais timidez.
Com o passar dos anos, quando eu tinha 12 anos de idade e tinha a responsabilidade de apresentar um programa de televisão, lembro que o meu maior medo era ficar doente, porque eu sabia que muita gente dependia muito de mim ali e eu tinha que estar ali, então, eu sempre ficava muito preocupada com isso.
Pois é, eu realmente não consegui estudar muito na época da escola, eu trabalhava muito, e teve uma época que eu até pensava em um dia fazer uma faculdade, mas eu não sabia muito bem do que.
Agora na vida adulta, de uns 15 anos para cá eu comecei a pensar em estudar mais as coisas que eu gosto. Eu leio muito e faço os meus estudos das coisas que me interessam.
A maternidade impactou a minha carreira no sentido de prioridades. A maternidade voltou a minha prioridade não mais para mim, porque antes era só eu, mas depois viraram os meus filhos. A prioridade sempre foram eles desde então.
Meu filho mais velho quer estudar business, o meu filho do meio ainda não sabe o que quer estudar e a minha pequenininha diz que quer ser uma artista do teatro da Broadway, mas tudo pode mudar ainda. Eu sempre vou apoiá-los em tudo o que eu achar que eu posso e vou instruir da melhor forma possível, acho que essa é a forma da gente estar sempre alerta e atento aos nossos filhos.
Eu não me arrependi de escolher a vida de artista, na verdade eu não a escolhi, a vida artística que me escolheu. Eu não parei um momento e falei “agora eu vou ser apresentadora ou vou ser cantora”. Eu comecei com 4 anos de idade, com 12 anos eu apresentava um programa, com 15 anos eu apresentava dois programas, e cantava e fazia shows no Brasil inteiro, e assim foi acontecendo. Então, eu não me arrependo. Essa é a minha história, essa é a minha vida. Se eu tivesse que fazer, eu faria tudo novamente.
A minha família sempre me deu muito norte sobre os valores. Como ter o pé no chão e você saber o valor da vida e das pessoas, isso sempre foi passado pelos meus pais.
Um valor que eu não deixaria por trabalho nenhum é a honestidade, você ser correto, empático, pensar sempre no outro. A vida faz muitas vezes a gente olhar só para gente, e eu acho que você olhar para o lado é muito importante, cada vez mais precisamos olhar para o coletivo. Quando começamos a olhar para o todo, tudo fica melhor, o mundo fica melhor. Estamos vivendo um problema seríssimo de clima, porque a gente não está pensando no todo. Se a gente parasse para pensar no coletivo, essa agenda seria prioridade.
Foi muito forte quando eu parei de fazer programa infantil, eu já fazia programa para adolescente e para adultos em outras emissoras, mas quando eu parei na TV Globo, foi algo impactante, tanto que fiquei um ano decidindo, até começar a apresentar o Video Game. Apesar de ter sido algo marcante, foi importante para a minha carreira, afinal o meu público já tinha crescido e eu também já estava querendo fazer outras coisas.
Também foi muito marcante quando eu parei de cantar e parei de fazer shows pelo Brasil. Existia uma cobrança do público, dos meus fãs, e até eu mesma me cobrava, mas eu não tinha mais condições físicas para continuar.
Eu acho que é seguir o coração e olhar para dentro. Se a coisa está muito confusa, para! Faz um tempo sabático aí e respira. O autoconhecimento é muito importante para essa reinvenção, porque as respostas estão sempre dentro da gente.
Eu não sou uma empreendedora, Luciano (Huck, apresentador e marido da Angélica) é um cara empreendedor. Em uma época da minha carreira eu era a pessoa que mais tinha licenciamentos, por exemplo, mas tudo ligado ao meu trabalho, como muitos produtos.
A minha forma de empreender é fazer aquilo que tenha relação com o que eu acredito para a minha carreira, como foi na época dos licenciamentos e como é com o portal o “Mina Bem-Estar”, que fala sobre o wellness (bem-estar), que na minha opinião é um assunto urgente também, a gente vive uma pandemia de doenças mentais por conta da situação do planeta.
Considero esse portal como um empreendimento meu, porque está muito voltado para o meu propósito que é falar sobre esse assunto.
Sobre beleza, eu acho que eu sempre fui muito cobrada. Eu cresci em um ambiente onde isso é importante, onde tem essa cobrança mesmo. Eu acho que na verdade eu fui aprendendo a lidar comigo e com meu corpo desde muito cedo. Eu sei o que faz bem para mim e o que não faz, eu sempre me cuidei.
Eu também tenho uma questão hereditária do meu pai, ele é super atlético, ele gosta de malhar e eu adoro malhar também. Quando eu fazia shows, para mim era muito fácil, porque eu sempre tive preparo físico. Ou seja, apesar da cobrança do outro, tem uma coisa minha mesmo de querer estar bem.
Hoje eu faço pilates, yoga, meditação tântrica e musculação, porque depois dos 30 e poucos a gente tem que fazer musculação para manter o osso ali em pé. Tenho também uma dermatologista que faz acompanhamento para manter o colágeno, então, eu cuido, mas eu cuido de uma forma bem cautelosa. Eu nunca fiz nenhum tipo de cirurgia plástica, por exemplo, uso esses aparelhos que surgem e de vez em quando faço um botox, mas eu nunca fiz nenhuma intervenção mais séria. E se tiver que fazer, farei, porque eu acho que a tecnologia está aí para isso, mas eu vou evitando.
Além do esporte que está presente desde muito cedo na minha vida, eu faço terapia há mais de 20 anos, hoje faço duas vezes por semana. Gosto de conversar e adoro um espaço para mim na natureza. Me faz bem ficar quieta, caladinha, sozinha, refletindo e lendo um livro. Eu sou uma pessoa que gosta de me recolher e isso faz parte do meu auto cuidado.
Eu acredito que a coaching está certa. Na verdade, eu comecei com essa angústia de qual é o meu papel no mundo com uns 40 e poucos, foi nesta fase que começaram os questionamentos. Os filhos crescidos, casamento tudo certo, os pais envelhecendo, uma carreira estabilizada, eu comecei a me perguntar, além do entretenimento, qual seria o meu propósito, como eu poderia contribuir com o mundo. Foi aí que encontrei a importância de dar foco à saúde mental, que se tornou algo muito importante para mim hoje e para muitos, além de falar do feminino, sobre o quanto a gente ainda tem que conquistar espaços, assim como os nossos prazeres e direitos.
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