Carolina Cavenaghi, Patrícia Moraes, Jessica Rios e Dani Junco (da esq. para dir.) (Fin4She/Arquivo Pessoal/Reprodução)
Beatriz Correia
Publicado em 21 de dezembro de 2022 às 15h19.
Última atualização em 21 de dezembro de 2022 às 15h47.
Risco, ambição e comunidade. Essas três palavras podem estar relacionadas a muitas coisas, mas, neste caso, é sobre dinheiro. A fundadora da B2Mamy Dani Junco usou essa tríade para falar sobre como conceitos culturais há tanto tempo presentes na sociedade impactam a relação das mulheres com o dinheiro.
“Eu não entendo sobre mercado financeiro, mas já ouvi por várias vezes que é um setor com muitos riscos. Também é comum escutar que as mulheres têm aversão ao risco. Como, então, falar de dinheiro tendo que as mulheres foram ensinadas que devem ter aversão ao risco em um mercado super arriscado?”.
Foi com esse questionamento que Dani Junco abriu o terceiro painel de discussão do Women in Finance, evento organizado pela Fin4She que reuniu centenas de mulheres para falar sobre carreira, protagonismo e dinheiro (o evento está disponível neste link).
“Falamos sobre mulheres serem avessas ao risco, mas quer mais risco do que ser mulher e preta no Brasil? Não somos avessas ao risco, só estamos fora do clube de quem fala e lida com dinheiro”, afirmou a co-fundadora da BlackWin, Jessica Rios, que participou do painel.
Um estudo recente publicado no Psychology of Women Quarterly não encontrou "nenhuma evidência" de que mulheres tenham mais aversão ao risco no trabalho do que os homens. A diferença do resultado desta pesquisa se dá pelas perguntas feitas aos participantes.
A principal autora do estudo, Thekla Morgenroth explicou que, no geral, pesquisas sobre propensão a riscos possuem perguntas estereotipicamente masculinas como "Qual é a probabilidade de você andar de moto sem usar capacete?". Quando são incluídas questões que englobam a realidade feminina, os resultados são outros.
Alguns exemplos são perguntas como 'Qual é a probabilidade de passar por cirurgias estéticas?', 'andar a cavalo' ou 'ser líder de torcida', atividades que carregam tanto risco quanto andar de moto sem capacete, por exemplo. O estudo concluiu, inclusive, que as mulheres não são contrárias ao risco, mas que elas enfrentam mais consequências quando os assumem.
A ideia de que mulheres têm aversão ao risco tem raízes culturais. Se aprofundando no tema da psicologia financeira, Carolina Cavenaghi compartilhou sobre como o modelo cultural de criação pode impactar diretamente, e de maneiras diferentes, a relação de homens e mulheres com o dinheiro.
“Aprendi recentemente que há um instinto dos pais para colocar meninos em situações de enfrentar risco. Um exemplo é quando falamos 'pula na piscina' ou 'vamos tirar a rodinha da bicicleta'. Já no caso das meninas há o instinto de proteção, e isso molda a forma como essas crianças pensam e agem quando adultos”, explicou a executiva.
Outro ponto tratado pelas participantes durante o painel foi sobre a ambição. No geral, o adjetivo é colocado como algo negativo quando associado às mulheres, mas como um exemplo de força quando relacionado aos homens.
Para Jessica Rios, a ambição tem a ver com a capacidade de sonhar, e as pessoas só sonham com o que sabem que existe. "Eu nunca tinha ouvido falar na palavra trainee, até que um dia a possibilidade de fazer faculdade me foi apresentada e quis me tornar trainee. A limitação do nosso campo de visão e o quanto nosso pé toca é o que vai definir o tamanho da nossa ambição”, afirmou a empreendedora.
Para a sócia fundadora e gestora da Unbox Capital, Patrícia Moraes, as mulheres não devem limitar a sua ambição por medo de não serem boas o suficiente. “Não podemos ter crenças limitantes que nos impeça de entrar em certos espaços. Devemos questionar sem medo de errar”, disse.
O terceiro pilar do bate-papo no Women in Finance foi a importância da comunidade feminina e de cada mulher fazer o que pode para ajudar outras a se fortalecerem e prosperarem.
Pensar na comunidade e na rede de apoio foi o pontapé para o surgimento da Black Win, a primeira plataforma no Brasil que apoia mulheres negras a se tornarem investidoras-anjo e as conecta com negócios de outras pessoas pretas. “Percebemos que precisávamos fazer esse avanço de forma coletiva, em comunidade. Assim, o dinheiro começa a ter outro motivo de existir, ele se torna uma via que abre caminhos”, contou a fundadora Jessica Rios.
Já a executiva Patrícia Moraes contou (e recomendou) do exercício que faz diariamente para conectar mulheres e criar essa rede. “Eu faço um exercício consciente de estar sempre pensando em como conectar e dar visibilidade para mulheres. Quando me pedem indicação para qualquer coisa, eu pego um caderninho em que tenho nomes de mulheres anotados e procuro quem possa se encaixar no perfil. Dá trabalho, mas é isso que faz a diferença. Eu já coloquei mais de 10 mulheres em conselhos de administração dessa forma. O pouco que fazemos tem um impacto gigantesco”, compartilhou Moraes.
No mesmo sentido, Cavenaghi falou sobre a importância de relações verdadeiras. “As pessoas perderam a noção do que é se conectar. Vivemos na era do networking chato e forçado. Quando conheço alguém quero conhecer de verdade e me conectar, só assim fazemos alguma diferença”, concluiu.
Com o objetivo de expandir a rede de apoio e a capacidade de conexão das mulheres do meio corporativo, a Fin4She lançou a 4She, uma plataforma gratuita para promover a carreira de mulheres.
No site, executivas, empreendedoras e profissionais de qualquer área podem se cadastrar em um banco de currículos acessado por grandes empresas; conferir vagas e oportunidade; acessar cursos e conteúdos que promovem o desenvolvimento pessoal e profissional das mulheres, além de participar da comunidade criada na plataforma.