Ricardo Melo, vice-presidente de Gente e Gestão da Ambev: "Saímos de uma empresa que sabe tudo para uma que aprende de tudo” (Nilton Fukuda/Divulgação)
Repórter
Publicado em 8 de dezembro de 2024 às 08h08.
Última atualização em 9 de dezembro de 2024 às 13h57.
Em 25 anos, muitas coisas podem mudar em uma companhia, e isso aconteceu no RH da Ambev. A aposta para crescer dentro e fora do Brasil começou com um olhar interno. O investimento nos profissionais ajudou a companhia a manter o time engajado e produtivo, tanto que há funcionários na Ambev que chegam a ter mais de 25 anos de casa.
É o caso de Ricardo Melo, vice-presidente de Gente e Gestão da Ambev. Ele entrou na área de vendas da marca de cerveja Brahma, em 1996, antes mesmo da marca de cerveja fazer a fusão com a Antarctica e se tornar a Ambev em 1999.
Desde então, ele viu a companhia crescendo em sua sede em São Paulo, se expandindo para vários estados brasileiros e se tornando uma das maiores produtoras de bebidas do mundo, com marcas como Skol, Brahma, Antarctica, Bohemia, Stella Artois, Budweiser e Guaraná Antarctica.
Mesmo atuando por mais de 20 anos na área de vendas, Melo também viu a área de Recursos Humanos se atualizando com o mercado de trabalho, e uma das grandes mudanças que a companhia apostou, e que traz resultado ainda hoje, foi a consolidação de uma cultura organizacional.
"Saímos de uma empresa que ‘sabe tudo’ para uma que ‘aprende de tudo’. Mantivemos valores, como sonho grande e sentimento de dono, mas trouxemos novos pilares, como colaboração, escuta ativa e visão de longo prazo", afirma Ricardo.
Um exemplo desse novo olhar é o Zé Delivery, incubado dentro da Ambev antes de ganhar força na pandemia. "Foi uma aposta de longo prazo. Hoje, é uma das maiores conexões diretas com o consumidor", afirma o VP de Gente e Gestão da Ambev, que afirma que assim que um funcionário entra na companhia, já recebe treinamentos na área.
Depois de anos viajando e atuando como diretor de vendas da Ambev no Brasil e em outros países, Melo aceitou o convite em 2018 para liderar a área de RH da Ambev, que tem hoje como os maiores desafios atrair a diversidade brasileira para dentro da empresa, integrar o capital humano com os avanços da tecnologia e manter a cultura e os valores alinhados às diferentes gerações.
"Nosso desafio como RH é conectar diferentes perfis, garantindo que a nossa cultura seja consistente. Não queremos ser tudo para todos, mas atrair quem se alinha aos nossos valores", afirma Melo que afirma que essa cultura antiga de investimento no funcionário ajuda com a retenção e atração de talentos, mesmo após a pandemia em que todo o time teve que voltar 100% para o presencial.
Ao longo de 25 anos, o processo de recrutamento e seleção da Ambev passou por significativas transformações – com destaque para a inclusão e a diversidade. "Há cinco anos, ajustamos o processo para remover barreiras no processo seletivo, como o inglês obrigatório, e ampliamos o acesso a talentos diversos”, diz Melo.
Atrair mais mulheres e pessoas negras foi um dos objetivos da companhia, e para isso a aposta começou em programas de entrada, como o trainee e o estágio. "Nosso programa de trainee foi criado na década de 90 e até hoje é o maior gerador de talentos para a liderança da companhia. O que mudou é que hoje ele tem um perfil mais generalista e skills adaptados à nova fase da Ambev", afirma Ricardo.
O programa de estágio também passou por mudanças. Em 2020, a Ambev lançou o “Representa”, programa de estágio voltado exclusivamente para pessoas autodeclaradas negras. “É mais do que um programa de atração, é um programa de desenvolvimento, onde todos os selecionados têm direito a realizar curso de inglês e mentorias”, diz Melo.
Além disso, a companhia oferece aos estagiários suporte jurídico, psicológico e um salário extra ao início da jornada na companhia para que novos funcionários possam se organizar na nova rotina. “Estamos avançando nessa iniciativa. Em 2024, alcançaram o marco de mais de 700 estagiários que passaram pelo programa ‘Representa’ desde a sua criação.”
As mudanças no recrutamento já trouxeram resultados: atualmente, 49% dos funcionários da Ambev se autodeclaram pretos ou pardos e 40% da liderança é ocupada por mulheres. “Seguimos acompanhando esses números e trabalhando para ampliar a diversidade em nosso quadro de funcionários”, diz Melo.
A inteligência artificial também tem papel essencial no RH, afirma Melo. "Criamos um banco de dados robusto para analisar características de candidatos bem-sucedidos e melhorar a triagem. Com mais de 130 mil inscrições mensais, precisamos de dados e IA para garantir eficiência no recrutamento”.
Assim como o recrutamento passa por mudanças, o ser humano também precisa se atualizar para alcançar o seu espaço no mercado de trabalho. As habilidades, sejam elas as soft skills (habilidades comportamentais) ou hard skills (habilidades técnicas) são um dos pontos que o RH costuma avaliar em uma entrevista de emprego e para Melo, a Ambev valoriza algumas habilidades.
No ano em que a companhia completa 25 anos, Melo afirma que foram investidos mais de R$ 30 milhões em ações de RH, dinheiro que foi direcionado a benefícios que focam no desenvolvimento, bem-estar e diversidade dos funcionários.
"Temos um sistema de metas e bônus altamente competitivo e bolsas para inglês em programas como trainee e estágio. Além disso, financiamos MBAs internacionais para talentos do supply e treinamentos em Londres para líderes", afirma o executivo.
Investir no capital humano, segundo Melo, é investir no resultado da empresa, tanto que essas iniciativas impactaram diretamente na retenção dos talentos. "Equilibramos o turnover entre homens e mulheres e vemos um aumento sustentável na presença feminina na liderança", conta Melo.
Para quem pensa em ter uma carreira internacional, a Ambev mostra que é possível isso em uma empresa que nasceu no Brasil.
O próprio VP de Gestão e Pessoas da Ambev ocupou posições fora do país, como vice-presidente de vendas das operações da Ambev, no Canadá, e vice-presidente de estratégia de vendas na Anheuser-Busch InBev, nos Estados Unidos.
“A Ambev é uma das empresas que mais consegue exportar pessoas do Brasil para todo mundo, seja para os países aqui da América Latina, seja para todos os continentes. Isso acontece porque temos uma capilaridade nas nossas operações, que estão presentes em todos os lugares do mundo, sem contar que desenvolver o profissional faz parte da nossa cultura”, diz Melo que vê uma vaga internacional como um grande benefício para o funcionário crescer na carreira.
Para os próximos anos, o RH da Ambev pretende intensificar o uso da tecnologia. "Estamos focados em como a inteligência artificial pode simplificar processos e aumentar a produtividade, direcionando esforços para gerar valor", conta Melo.
Outro foco é a saúde integral dos funcionários e para isso, a companhia seguirá investindo em ações que promovam a saúde e o bem-estar interno, como horários flexíveis para reuniões, evitando agendamentos antes das 9h e após as 17h, além de manter o grupo de apoio CARE (Cuidado, Autoconhecimento, Respeito e Escuta Ativa), formado por funcionários capacitados pelo Instituto Albert Einstein para conduzir a agenda de saúde mental dentro da empresa. "Não é só sobre saúde física, mas mental. Queremos pessoas saudáveis e engajadas para transformar a companhia em algo ainda maior nos próximos anos", afirma Melo.
Para Melo, a companhia celebra 25 anos neste ano sendo fiel ao DNA que foi estabelecido há muito tempo: capacitar dentro para crescer fora. “Vamos seguir oferecendo oportunidades de capacitação e crescimento que beneficiem tanto os funcionários quanto a empresa de maneira saudável e sustentável. A visão de longo prazo também faz parte da nossa cultura, por isso seguiremos antenados às tendências e às oportunidades do futuro".
Atualmente, a Ambev conta com 25 mil funcionários no Brasil, com 30 unidades de produção, incluindo cervejarias, maltarias e fábricas de refrigerantes, além de seis centros de excelência distribuídos pelo país. No âmbito internacional, os funcionários da Ambev estão espalhados em 14 países, incluindo regiões como América Latina, América Central, Caribe e Canadá. Em 2023, a empresa teve receita líquida de R$ 79,73 bilhões, pouco acima do resultado de 2022, de R$ 79,70 bilhões.