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Acerte na sua primeira vez

Planejamento financeiro é a fórmula certa para realizar com muito sucesso os sete passos mais importantes da sua vida

Mãe de primeira viagem: grávida de Miguel, seu primeiro filho, a analista financeira da LLA Investimentos Tallyta Campos está passando por uma reviravolta em sua vida pessoal (Marcelo Spatafora/EXAME.com)

Mãe de primeira viagem: grávida de Miguel, seu primeiro filho, a analista financeira da LLA Investimentos Tallyta Campos está passando por uma reviravolta em sua vida pessoal (Marcelo Spatafora/EXAME.com)

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Da Redação

Publicado em 3 de junho de 2013 às 16h36.

São Paulo - Não há nada que deixe uma pessoa mais insegura do que fazer alguma coisa pela primeira vez. Ainda mais se for algo que envolva dinheiro. Se você se sente desconfortável na hora de escolher o melhor financiamento para seu imóvel, ou não sabe qual a alternativa financeira certa para realizar o casamento dos seus sonhos, saiba que não está sozinho.

“O desconhecimento do novo causa medo e insegurança, principalmente quando a decisão pode afetar o bolso. Afinal, todo mundo tem medo de perder dinheiro”, diz Vera Rita de Mello, doutora em psicologia econômica, de São Paulo.

Fazer um planejamento financeiro é a receita certa para conseguir realizar todos os seus sonhos de consumo. Confira nas próximas páginas as melhores dicas para planejar as sete decisões mais importantes da sua vida: o casamento, a chegada do primeiro filho, a compra do primeiro imóvel, a reforma da casa, a separação conjugal, a primeira vez que você para de trabalhar para estudar e o investimento em ações. 

Um bebê em casa

Depois do casamento, é natural que o casal comece a pensar no crescimento da família. A dica para conseguir administrar bem as finanças com a chegada do primeiro filho é se adequar a um novo padrão de vida. O economista Marcos Silvestre, especializado em finanças pessoais e autor do livro Casamento dos Sonhos (Campus/Elsevier), recomenda que, dois anos antes da gravidez, o casal faça uma poupança mensal equivalente a 20% da sua renda.

Parece pouco, mas não é. Quem tem renda mensal de 10 000 reais e economiza 10% vai ter cerca de 25 000 reais depois de dois anos. É o suficiente para cuidar de uma criança no primeiro ano de vida. “É um sufoco poupar, mas haverá uma folga financeira para receber bem o filho”, diz Marcos. 

Se o bebê vier antes da hora planejada, não se desespere. Aproveite os primeiros meses da gestação para refazer o orçamento e cortar gastos. “Não vai dar para continuar com o mesmo padrão de vida”, diz Sandra Blanco, consultora financeira, de São Paulo. A primeira coisa a fazer é uma lista de tudo do que é preciso: berço, cômoda, carrinho, banheira, enxoval de maternidade da mãe e da criança.

Segundo Marcos, o custo disso fica em torno de 20 500 reais. Uma dica é não deixar para fazer as compras no período final da gestação. Nessa fase, a mulher está mais sensível e o risco de comprar por impulso é maior. Decida tudo antes de completar seis meses de gravidez. 


De acordo com Sandra, de 10% a 25% dos rendimentos do casal vão para o filho desde o seu nascimento até ele completar 18 anos. “Quando o bebê nasce, os gastos maiores são com fraldas, medicamentos, vacinas, mamadeiras e pomadas. Aos 3 anos, aparecem os custos com escola, cursos e aulas de esporte. Com mais ou menos 13 anos começam os gastos com eletrônicos e intercâmbio cultural”, diz a consultora.

A reforma do lar

Reformar a casa para deixá-la do jeito que você quer é uma delícia, mas pode dar muita dor de cabeça se não for feito um bom planejamento. “É preferível gastar dois meses planejando corretamente o que vai ser mudado do que, depois de iniciada a reforma, decidir fazer modificações que acabam encarecendo a obra”, diz Cláudio Conz, presidente da Associação Nacional dos Comerciantes de Material de Construção, em São Paulo.

A primeira coisa é fazer uma lista com todos os produtos que você vai comprar, incluindo os supérfluos. “As pessoas acabam não considerando os itens complementares ou os desejos e o impacto da reforma no bolso fica maior”, afirma Fábio Gallo, professor de finanças da FGV-Eaesp, em São Paulo. 

Quando estiver com a lista completa de materiais em mãos, é hora de olhar os preços. “Pesquise em pelo menos cinco lojas, a variação de preços pode chegar a 15%”, recomenda Cláudio. Para não perder dinheiro, se organize para que haja alguém em casa para receber o material.

“Se não houver alguém, será cobrado um novo frete”, diz ele. Você pode usar a linha de financiamento bancário para reformas se não tiver todo o dinheiro para pagar o material de construção à vista. Banco do Brasil, Bradesco, Caixa Econômica Federal, Santander e Itaú-Unibanco são alguns bancos que oferecem opções de financiamento para reformas.

As taxas de juros podem chegar a 3,5% ao mês. “Claro que é preferível poupar e ter dinheiro para pagar à vista e conseguir descontos”, diz Fábio. Para quem já está com o orçamento dos materiais feito e pretende começar a reforma no início do ano que vem, a dica é: compre o material até novembro para aproveitar o desconto do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI), que termina no fim do ano para a linha de materiais de construção. “Quem deixar para comprar depois, vai pagar 8% mais caro”, alerta Cláudio Conz.

Unidos no amor e nas finanças

Deixar de lado a emoção na hora de planejar o primeiro casamento é praticamente impossível. “O casamento cria a sensação de primeira e única vez e ninguém consegue tratar a situação com frieza”, diz Marcos Sivestre, economista especializado em finanças pessoais e autor do livro Casamento dos Sonhos (Campus/Elsevier).


Claro que no meio de tantas emoções não vai dar para sair comprando tudo o que quiser sem pensar no desfalque que os gastos descontrolados causam no orçamento. É hora de pesquisar e pechinchar.

Uma pesquisa do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), de 2009, mostra que o número de casamentos aumentou 35% em dez anos e a quantidade de serviços e os preços cobrados para quem vai se casar também cresceu. “Um vestido feito por um estilista pode custar 20 000 reais, ou 1 000 reais se for alugado. Tudo depende do orçamento”, diz o economista. 

A primeira coisa a fazer é uma lista com tudo o que você precisa pagar: o casamento civil, a igreja, a roupa dos noivos, a festa, a noite de núpcias e a lua de mel. Depois é hora de colocar em uma planilha quanto você pretende gastar com cada item e como vai pagar por eles. “Existe muita variação nos preços e na qualidade dos serviços, sem um orçamento prévio é impossível realizar um casamento”, afirma Marcos. 

Uma dica para o casal não ter surpresas com o orçamento é abrir uma conta conjunta em que todo o dinheiro será usado apenas para o casamento. Quem decide pagar tudo à vista pode conseguir descontos entre 15% e 20%. Já os noivos que escolhem o pagamento a prazo devem liquidar as dívidas até o casamento. Em muitos casos são essas despesas que prejudicam o início da vida financeira de um casal. “Eles já começam uma nova vida com dívidas”, diz Marcos. O casamento dos seus sonhos é possível, basta fazer um bom planejamento financeiro. 

Imóvel sem dor de cabeça

Se você se cansou de pagar aluguel ou quer sair da casa dos seus pais, é hora de começar a pensar em comprar seu primeiro imóvel. Mas, antes, defina como pagar a conta: à vista ou por meio de financiamento imobiliário. “Essa decisão é importante para não ficar totalmente endividado”, diz Fábio de Araújo Nogueira, sócio-fundador da Brazilian Mortgages Companhia Hipotecária, empresa que desenvolve e estrutura operações financeiras para o mercado imobiliário, de São Paulo. 

Quem compra a casa própria precisa lembrar de pagar o Imposto sobre Transmissão de Bens Imóveis (ITBI), que varia de 1,5% a 3,5% do valor do imóvel, mais a taxa de registro. Ao optar por um apartamento que custe 100 000 reais, você deverá reservar pelo menos mais 3 000 reais para taxas e impostos.

Antes de assinar o contrato, avalie se o bairro tem uma infraestrutura com farmácia, supermercado, escola e acesso fácil ao transporte público. Tudo isso ajuda a valorizar o imóvel. “Nunca aceite o primeiro preço oferecido”, diz Fábio. O ideal é ter em vista dois ou três imóveis na mesma região para poder comparar os preços. 


Se sua opção é adquirir um apartamento na planta, analise o histórico da construtora. “É bom porque ajuda a evitar perder dinheiro caso a empresa não seja idônea”, diz Fábio Seabra, diretor de operações da Sagace, consultoria de financiamento imobiliário, em São Paulo. Questione o corretor com perguntas do tipo: se eu desistir da compra, o que acontece? Qual é o valor das parcelas intermediárias? Existe um banco predefinido para fazer o financiamento quando forem entregues as chaves? Qual é o índice de correção da prestação mensal? 

Quando a construtora entrega as chaves, o passo seguinte é o crédito imobiliário. Ele pode ser contratado com o banco que está financiando a obra ou com uma instituição financeira escolhida por você. O valor das chaves geralmente é definido no contrato. Os bancos financiam, em média, entre 80% e 90% do valor do imóvel. Porém, você vai precisar dar algum valor de entrada. A dica dos especialistas é usar o Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS).

Para usar o FGTS é preciso ter, no mínimo, três anos de contribuição e o imóvel deve estar no município onde você trabalha. Os únicos empecilhos para não conseguir o financiamento é não ter renda suficiente ou seu nome estar incluído no sistema de maus pagadores do Serasa ou do SPC.

“Quanto melhor o histórico financeiro do cliente, maior é a possibilidade de ter juros mais baixos”, diz Fábio Seabra. As taxas podem variar de 7% a 17% ao ano. Hoje, a melhor alternativa de crédito é o Sistema de Amortização Constante (SAC), em que as parcelas começam com valores maiores e são reduzidos ao longo dos anos.

Quem quer gastar menos com a compra da primeira casa pode optar pelos imóveis usados, que custam de 30% a 40% menos. Mas é importante que você peça a um profissional para analisar a parte elétrica e hidráulica, para não ter dor de cabeça no futuro — e mais gastos.

Comece bem na bolsa

A bolsa de valores subiu 83% no ano passado, uma das maiores rentabilidades entre todas as aplicações do mercado financeiro. Se você ficou animado e também quer participar do mercado acionário, saiba que existem dois caminhos tradicionais para investir em ações: por meio das corretoras de valores ou por meio dos fundos de ações.

A diferença básica entre os dois modelos é que quem opta por comprar ações por intermédio de uma corretora precisa escolher os papéis com muita atenção. Já quem prefere o fundo terá o dinheiro administrado por um gestor.


Quem opta pela corretora tem de abrir uma conta na instituição, preencher um cadastro e assinar o contrato de operação na bolsa. No contrato há informações sobre o valor de todas as taxas cobradas, dados sobre como serão feitas as ordens de compra e venda e a obrigatoriedade do cliente de cumprir com o pagamento das transações.

Há muitas corretoras credenciadas para operar no mercado. Você pode escolher uma delas no site da BM&FBovespa (bmfbovespa.com.br). As taxas de corretagem variam conforme a instituição. “A bolsa sugere que seja de 0,5% do valor de cada operação”, diz Tiago Arnhold, gerente comercial da corretora Geração Futuro, em São Paulo.

Para vender um papel, você precisar entrar em contato com a corretora e dar a ordem de venda. O dinheiro demora três dias para cair na sua conta. Muitos investidores preferem usar o homebroker, que permite dar ordens de compra e venda por meio da internet. Uma das vantagens das corretoras é ter especialistas que acompanham o desempenho de todas as empresas para ajudar na decisão do cliente.

Se você gosta do mercado acionário mas não quer escolher um papel no qual investir, fique com os fundos de ações. Os fundos têm alíquota de Imposto de Renda que varia de 15% a 22,5%, dependendo do prazo da aplicação, e cobrança de Imposto sobre Operações Financeiras (IOF).

Você também deve ficar atento para saber quem é o gestor do seu fundo, porque serão as escolhas dele que farão seu dinheiro render mais, ou menos. “É essencial analisar o tempo de mercado do gestor, o volume de recursos que ele administra e a rentabilidade do fundo escolhido”, diz José Borja, diretor comercial da corretora Fator, em São Paulo.

Recomece após a separação

Uma separação conjugal faz com que quem não está acostumado a lidar com o dinheiro sinta mais dificuldades para recomeçar a vida financeira. Se esse é o seu caso, não entre em pânico. A primeira coisa a fazer é um diagnóstico de quanto você ganha (sua receita) e quanto você gasta (suas despesas).

“Para chegar ao resultado é preciso anotar tudo por 30 dias”, diz Reinaldo Domingos, educador e terapeuta financeiro, de São Paulo. Só então será possível redescobrir qual é seu padrão de vida financeiro. Não se esqueça de anotar todos os gastos, inclusive o café no final da tarde ou o chope do fim de semana. “Os pequenos valores representam entre 10% e 20% do total gasto no mês”, diz o educador. 


Após identificar sua receita, seus gastos e suas dívidas, é hora de reavaliar seus investimentos. É uma oportunidade para saber se suas aplicações são as mais indicadas para atingir as novas metas. Tenha sempre uma reserva financeira na poupança para eventualidades, mas nada de deixar a grana da partilha parado na conta.

“O uso do dinheiro precisa estar bem amarrado aos novos objetivos”, diz Reinaldo. Na hora da separação, se o casal tiver mais de um bem, o conselho dos especialistas é não vendê-los. “Na pressa de partilhar o que tem, o casal acaba não fazendo uma boa venda de um imóvel, por exemplo”, diz Raphael Cordeiro, consultor de investimentos, de Curitiba. 

Mas para o casal que tem um único imóvel, e que ainda está financiado, a única solução é vender. Se a partilha de um bem for considerada uma transferência de renda, ou seja, alguém passa a ter patrimônio maior do que tinha, é necessário prestar contas ao Leão. Para quem ainda não está pensando em separação, mas quer evitar conflitos futuros, vale uma dica: durante o casamento é importante que os dois conversem e saibam para onde está indo o dinheiro.

“Um homem usou a poupança da família para investir na bolsa e a esposa só descobriu quando ele perdeu o dinheiro”, conta Raphael. O mais importante é não deixar o lado emocional atrapalhar o recomeço da sua vida financeira. 

Estudar e não trabalhar

Se você pretende começar a poupar para viajar daqui a um ou dois anos, deve investir em produtos conservadores, como poupança, Certificados de Depósito Bancário (CDBs) com liquidez diária e títulos do Tesouro. “O objetivo não é ganhar dinheiro e, sim, proteger seu patrimônio para ter liquidez imediata.

Não adianta querer fazer as duas coisas: transição de carreira e um investimento arrojado”, diz Caio Torralvo, consultor de finanças pessoais, de São Paulo. Se você deixar seu dinheiro na poupança, não terá de pagar Imposto de Renda, que é cobrado dos fundos de investimento e dos CDBs. 

Mas se você tem pressa para viajar e não tem grana agora, saiba que há duas alternativas para realizar seus sonhos. A primeira é vender algum bem pessoal, como um carro, ou então aumentar a renda com trabalhos extras. A outra opção é recorrer ao financiamento ou ao crédito pessoal dos bancos. Nesse caso, as taxas de juro podem chegar a 4% ao mês. Com o dinheiro na mão, é hora de comprar as passagens aéreas.

“Com antecedência você paga mais barato”, diz Rogério Bastos, sócio-diretor da consultoria FinPlan, de São Paulo. Se você não vai comprar as passagens à vista, aplique o dinheiro em fundos cambiais que acompanham a variação do euro ou do dólar. Se o preço da moeda subir, você não perde dinheiro.

“Mas há cobrança de imposto, o que diminui o ganho”, alerta Rogério. Os travellers checks são uma opção segura para pagar contas fora do país. A desvantagem é que algumas lojas não aceitam esses cheques para pagamentos de valores baixos. Leve sempre um pouco de dinheiro em espécie e prefira pagar tudo à vista para não se assustar com a fatura do cartão de crédito caso o euro ou o dólar se valorizem em relação ao real.

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