Fábio Silva, fundador e CEO da Rede Muda Mundo: “Queremos que as pessoas continuem fazendo o bem por meio do voluntariado, porque todo mundo sabe, que quem doa algo ganha muito mais do que quem recebe” (Rede Muda Mundo /Divulgação)
Repórter
Publicado em 2 de agosto de 2024 às 09h03.
Última atualização em 2 de agosto de 2024 às 09h05.
Em um momento em que o Rio Grande do Sul enfrenta desafios de reconstrução, após as enchentes que deixaram mais de 65 mil pessoas em abrigos, ações de diferentes instituições e empresas aparecem como uma luz no fim do túnel. É o caso da Rede Muda Mundo, instituição sem fins lucrativos, que oferece, entra alguns projetos, o “Transforma Brasil”, aplicativo que conecta voluntários com projetos e causas sociais. A instituição social foi criada por Fábio Silva em 2011, o qual ocupa a cadeira de CEO até hoje.
“O Transforma se tornou, desde a primeira semana das enchentes, a plataforma oficial do governo do Rio Grande do Sul para todo voluntário que quiser atuar em alguma causa social do estado, seja nas frentes de necessidade voluntária do governo ou das organizações sociais, como abrigos e centros de distribuição”, diz o fundador que conversou com o governador Eduardo Leite logo na primeira semana.
Além de atuar na coordenação do voluntariado em centros de distribuição, abrigos de animais e pessoas no estado gaúcho, em parceria com a Baterias Moura, o Transforma Brasil lançou o programa Pause, que oferece apoio psicológico e cuidados de saúde mental para 200 voluntários que estão atuando na linha de frente das ações emergenciais no estado. “Este programa visa proporcionar suporte emocional e mental para aqueles que estão diretamente envolvidos nas atividades de ajuda”, afirma Silva.
Gustavo Trindade, de 29 anos, está em atuação nas enchentes desde o dia 06 de maio e desde então passou a coordenar a operação da Transforma Brasil no Rio Grande do Sul, apoiando as frentes voluntárias e de doações.
“As cenas eram horríveis. Já chegamos a tirar o pet morto de pessoas que não sabiam o que fazer e para onde ir. As pessoas perderam tudo, elas choravam desesperadas”, diz ele. Agora, quase 3 meses depois, ele vai fazer parte do Pause, para ter um apoio quanto à saúde mental.
Fábio Silva, natural de Recife, Pernambuco, iniciou sua trajetória no mundo do voluntariado em 2011, quando uma enchente devastadora afetou 50 mil famílias na Mata Sul do estado. "Eu era executivo de carreira e decidi juntar um grupo de amigos para fazer o bem. A partir dessa experiência, nasceu a vontade das pessoas de participarem ativamente na entrega das doações arrecadadas", afirma Silva.
A partir dessa ação inicial, Fábio percebeu que muitas pessoas queriam fazer trabalho voluntário, mas não sabiam como ou onde começar. Esse insight levou à criação da Rede Muda Mundo, em Pernambuco.
A primeira grande iniciativa da Rede Muda Mundo foi a arrecadação de colchões para as famílias afetadas pela enchente em Pernambuco.
"Nós arrecadamos entre 5 e 8 mil colchões e entregamos para as famílias necessitadas", afirma Silva que lembra que a divulgação dessas ações era feita por meio de e-mails e doações diretas, antes mesmo da criação da organização social.
Com origem no Nordeste, a Rede Muda o Mundo expandiu suas operações em todo o país, com parcerias internacionais em Portugal e Chile, e apoio de patrocinadores. "Temos o apoio de organizações como Movimento Bem Maior, Neo Energia, Baterias Moura e Accenture, que são fundamentais para manter nossas operações e ampliar nosso impacto", afirma Silva.
Por meio do Transforma Brasil a instituição já conectou mais de 1 milhão de voluntários em diversas atividades e projetos sociais em todo o país. Só no Rio Grande do Sul, a rede coordenou 2.500 voluntários que atuaram em ações emergenciais e de suporte às comunidades afetadas.
Além de Gustavo Trindade, Nycollas Nitibailoff, morador de Porto Alegre, foi convidado por voluntários da Associação Brasileira de Famílias Trans-Homoafetivas a auxiliar na construção do Abrigo Renascer, abrigo com acolhimento voltado a população LGBTQIAPN+.
“Tive contato com pessoas LGBTQIAPN+ que antes das chuvas estavam passando por situações de violência e marginalização. Tive que orientar as pessoas acolhidas e os voluntários para a questão do preconceito contra pessoas trans. Foi um período muito triste e difícil", diz Nitibailoff que é formado em Serviço Social.
“Estamos dentro do Porto Digital, dentro do mesmo ecossistema. E quem cuida da plataforma tecnológica do Transforma Brasil é a Accenture, que é uma empresa também residente dentro do Porto Digital.”
Em 2024, a ONG prevê arrecadar cerca de 9 a 10 milhões de reais em doações e patrocínios. Esse montante será utilizado para financiar suas diversas iniciativas sociais e beneficiar cerca de 3 milhões de famílias no Brasil.
Além do Transforma Brasil e do Programa Pause, a instituição também possui mais dois projetos sociais a nível nacional.
O Porto Social é uma escola de empreendedorismo social que capacita líderes e iniciativas sociais, oferecendo formação em gestão, planejamento estratégico e sustentabilidade para que possam crescer e se manter ao longo do tempo. E a Casa Zero, segundo Silva, é o primeiro shopping sociocultural do Brasil, voltado para geração de renda e qualificação de comunidades vulneráveis. Funciona como um shopping tradicional, mas com todas as lojas e espaços dedicados a iniciativas de impacto social e inovação.
Para quem quiser ser voluntário no Rio Grande do Sul ou em outro estado brasileiro, basta acessar o site do Transforma Brasil e fazer a sua inscrição. Na plataforma é possível filtrar a região ou o estado em que deseja atuar.
“Na plataforma vai aparecer tanto as vagas das organizações sociais, como também as vagas que estão disponíveis pelo governo. Basta a pessoa escolher a vaga e eles entram imediatamente em contato”.
Além de ações sociais no Rio Grande do Sul, há outras vagas em diferentes regiões do Brasil, afirma Silva, que destaca vagas relacionadas à educação como curso de línguas, oficinas de geração de renda e uso das redes sociais para um pequeno negócio.
“Queremos que as pessoas continuem fazendo o bem por meio do voluntariado, porque todo mundo sabe, que quem doa algo ganha muito mais do que quem recebe”.
A série de reportagens Negócios em Luta é uma iniciativa da EXAME para dar visibilidade ao empreendedorismo do Rio Grande do Sul num dos momentos mais desafiadores na história do estado. Cerca de 700 mil micro e pequenas empresas gaúchas foram impactadas pelas enchentes que assolaram o estado no mês de maio.
São negócios de todos os setores que, de um dia para o outro, viram a água das chuvas inundar projetos de uma vida inteira. As cheias atingiram 80% da atividade econômica do estado, de acordo com estimativa da Fiergs, a Federação das Indústrias do Estado do Rio Grande do Sul.
Os textos do Negócios em Luta mostram como os negócios gaúchos foram impactados pela enchente histórica e, mais do que isso, de que forma eles serão uma força vital na reconstrução do Rio Grande do Sul daqui para frente. Tem uma história? Mande para negociosemluta@exame.com.