Farmácias FTB (Top Photo Corporation/Thinkstock)
Camila Pati
Publicado em 10 de novembro de 2016 às 15h00.
Última atualização em 10 de novembro de 2016 às 17h32.
São Paulo – A indústria farmacêutica está recrutando novos perfis de executivos e a perspectiva da aprovação da PEC dos gastos (PEC 55), que limita despesas públicas, explica parte da mudança pelas projeções de cortes na área de saúde.
Com o governo apertando os cintos e colocando freio nos investimentos, as empresas do setor farmacêutico precisarão ser mais eficientes na hora de fazer negócios na esfera pública de saúde. “Durante muito tempo os gastos correram muito soltos e o resultado final era pouco avaliado”, diz Raphael Revert, diretor executivo da consultoria Core Executive, especializada no mercado farmacêutico e de saúde.
Mas não é só a PEC que explica a alta, mensurada em outubro pela consultoria, nas contratações executivas pela indústria farmacêutica. O cenário político mais definido também traz mais segurança às empresas na hora de fazer contratações – segundo a Core Executive atualmente existem pouco mais de 120 processos em andamento no setor para gerentes e diretores. Para se ter uma ideia, esse número é 50% maior do que o registrado em outubro de 2014 e 75% maior do que no mesmo mês do ano passado.
Multinacionais são maioria (65%) entre as contratantes. Nessas companhias, a média salarial para gerentes varia entre 12 mil e 25 mil reais e para diretores, entre 35 mil a 55 mil reais. Nas empresas nacionais, o salário pode ser um pouco mais baixo: de 8 mil a 20 mil reais para gerentes e de 25 mil a 55 mil reais para diretores.
A seguir os perfis que se destacam agora:
1. Marketing e vendas
É a área com mais oportunidades para quem vem de fora e representa 35% das vagas. “É, muitas vezes, a porta de entrada para o setor farmacêutico, normalmente para quem está ainda em começo de carreira”, diz Revert. A maior parte dos presidentes das atuais farmacêuticas passou por cadeiras de vendas e marketing, de acordo com o especialista.
O mercado está um pouco mais aberto, mas a barreira de entrada para profissionais de nível sênior ainda é alta. O desafio é o forte componente técnico exigido pelo setor. A curva de aprendizado, diz Revert, é de seis meses a um ano.
“Nos últimos anos houve entrada de profissionais da saúde, mas as formações predominantes são em administração e publicidade”, explica.
2. Relações Institucionais
A pesquisa indica que 25% das oportunidades profissionais estão dentro da chamada área de relações institucionais que engloba: relações públicas, acesso público, acesso privado, relações governamentais, preço, economia em saúde.
Responsável pela imagem institucional (diante do público e de parceiros de negócios), é um departamento que passa por intensa transformação. Compreender a cadeia de valor, conseguir antecipar cenários e ter boa capacidade de negociação são os aspectos mais demandados. Uma mudança na economia interfere no cenário e é preciso estar bem atento, segundo o especialista.
As formações dos profissionais variam muito já que a amplitude da área é grande. Comunicação social, direito e saúde são as áreas de estudo mais frequentes.
3. Assuntos médicos
Tradicionalmente os profissionais dessa área, médicos, atuavam como “policiais” da Ciência, responsáveis por traduzir o conteúdo científico para uma abordagem cotidiana. Ainda é assim em algumas empresas, mas o perfil já vem mudando bastante.
“Muitas companhias farmacêuticas transformaram o departamento médico em um importante componente da estratégia, atuando do posicionamento dos produtos ao relacionamento com os líderes de opinião”, diz Revert. Com atuação consultiva, os profissionais trabalham em conjunto com as equipes de marketing e vendas.
Visão estratégica e raciocínio científico completam o hall de competências mais valorizadas neste momento para os médicos interessados em trabalhar na indústria farmacêutica. De acordo com a pesquisa, 10% das vagas são para os departamentos de assuntos médicos. Recém saídos da residência médica podem conseguir vagas já em nível gerencial, afirma o diretor da Core Executive.
4. Assuntos Regulatórios
É a área responsável por assegurar que normas e leis do setor farmacêutico sejam atendidas e, por isso, é um campo de trabalho bastante técnico e jurídico. É comum que profissionais sejam formados em farmácia e também direito, segundo Revert.
É um departamento crítico para a empresa. Perder prazos, por exemplo, na hora de submeter um novo produto para aprovação da Anvisa, pode significar um atraso de dois anos na comercialização de um medicamento. Assim, orientação ao cliente (interno e externo, como agências reguladoras) é uma qualidade buscada pelas empresas na hora de contratar.
O perfil profissional ganhou recentemente uma nova habilidade: a flexibilidade. “O foco é atender às necessidades da empresa e não barrar novas oportunidades”, diz Revert. Bons negociadores se destacam. Levantamento da Core Executive indica que 5% das vagas atualmente na indústria farmacêutica são para essa área.