Estagiário em dúvida (Yarj/Getty Images)
Luísa Granato
Publicado em 15 de abril de 2020 às 07h00.
Última atualização em 15 de abril de 2020 às 09h39.
A pandemia do coronavírus no Brasil criou um grande obstáculo para empresas que abriram processos de estágio: como seguir com a seleção de dezenas ou centenas de candidatos nas etapas presenciais?
Os programas de seleção já avançaram muito nos últimos anos, inserindo novas tecnologias e ampliando a acessibilidade dos candidatos com chatbots, testes e vídeos incrementando e melhorando a experiência online. Ainda assim, muitos ainda correm atrás de ferramentas para se atualizar.
A Companhia de Estágios, uma das maiores empresas de recrutamento para começo de carreira do Brasil, teve a suspensão de 25% das vagas: de 400 vagas confirmadas, 300 continuarão abertas no momento.
“A maioria das empresas tem mantido as vagas. Temos visto a suspensão temporária ou postergação de processos em negócios impactados pela crise. As contratações permanecem: tivemos casos da XP e da Amazon em que os estagiários começaram a trabalhar remotamente”, conta Tiago Mavichian, CEO da Companhia de Estágios.
Para ele, empresas que se adaptam ao momento mandam um sinal positivo para candidatos e para o mercado. “Eles ainda têm a demanda pelo talento, então vão deixar de contratar? Não. Muitos viram o momento de se reinventar”, fala ele.
Foi o que aconteceu com a Sanofi, que abriu o processo para contratar 50 estudantes pela Companhia de Estágios. A maior parte do programa era digital e estava em curso quando a crise do coronavírus forçou a necessidade de isolamento social e o cancelamento de eventos com grandes aglomerações.
O problema seria justamente a parte presencial do processo, um dia para realizar um painel de gestores que avaliaria as propostas de negócios dos finalistas. Cancelar o processo faltando tão pouco não era uma opção.
Em meio à crise, quando a Sanofi também estava colocando sua equipe administrativa em home office, eles decidiram se adaptar. O maior desafio era treinar cerca de 30 gestores para realizar entrevistas online com quase 200 candidatos finalistas. O dia presencial se transformou em seis dias de avaliações virtuais.
Pedro Pittella, diretor de Recursos Humanos da Sanofi, conta que o time de RH montou um squad, grupo para administrar projetos usando metodologia ágil, para contornar os desafios da adaptação ao online e atuar em diferentes dinâmicas realizadas com os candidatos.
“Sem dúvidas, esse processo foi um grande aprendizado para todos os envolvidos”, fala ele.
A integração dos novos estagiários também será inteiramente online. “Como o programa de estágio é longo, de 2 anos, não estamos prevendo impactos no desenvolvimento destes futuros profissionais e sim acrescentando possibilidades e práticas digitais”, conta o diretor de RH.
Mas não são todas as empresas que podem transferir suas seleções para o online. A Arco Educação abriu nesta terça, 14, o seu programa de trainee, porém a etapa final será uma viagem a Fortaleza e a data ainda não foi confirmada por conta da pandemia.
Outro dos mais esperados e concorridos processos para o começo de carreira, o Recruta Stone, adiou sua edição de 2020.
“Acho importante diferenciar que não cancelamos as vagas, mas as adiamos. A etapa presencial é um grande ritual de cultura da empresa, que busca engajar e formar os colaboradores”, fala Livia Kuga, líder de atração de talentos na Stone.
No ano passado, a seleção contou com a presença do ex-jogador e ex-treinador da seleção brasileira de vôlei, Bernardinho, para coordenar as dinâmicas. Segundo Kuga, o programa desse ano teria mais de 200 pessoas presentes.
“Ficamos tristes, mas a experiência presencial é muito importante para nós e não seria possível adaptar para o online. Refletimos os cenários e vimos que a questão educativa, para as lideranças e para os candidatos, ia se perder”, explica ela.
Normalizada a situação de saúde do covid-19, os talentos cadastrados voltarão a ser chamados para o Recruta. Enquanto isso, a líder de atração de talentos acredita que os estudantes e recém-formados que desejam começar sua carreira não devem ficar parados.
Sua primeira dica é: não entre em pânico. Para os mais jovens, essa é a primeira crise que ameaça sua entrada no mercado de trabalho, então é importante ficar atento aos sentimentos de medo e desespero para não se sentir paralisados por eles.
O CEO da Companhia de Estágios lembra que ainda existem vagas. Se houve uma diminuição de 25% das vagas no momento, ele observou que a quantidade de procura pelos jovens foi ainda menor: a plataforma tinha mais de mil cadastros por dia e agora são apenas 600 a 700.
“Minha dica é: procurem, que as vagas ainda existem. E os processos de contratação podem ser mais longos no momento”, fala.
A líder na Stone concorda que os talentos terão mais tempo agora, com os processos adiados ou durando mais tempo, e aconselha que os jovens procurem formação online, principalmente em cursos de desenvolvimento pessoal e profissional.
“Minha dica para quem está no começo de carreira é investir no seu conhecimento. Você vai conseguir arranjar um espaço aqui na empresa. Nos processos, os recrutadores vão priorizar as pessoas que transformaram a situação negativa em oportunidade”, comenta ela.
Para o diretor da Sanofi, o momento fará com que as habilidades comportamentais fiquem em evidência. A saída pode ser investir em cursos para ter maior flexibilidade e adaptabilidade.